Paquistão reforça pedido de ajuda internacional após inundações que fizeram um milhar de vítimas

por Inês Moreira Santos - RTP
Rehan Khan - EPA

O Paquistão voltou a apelar à ajuda internacional depois de mais de mil pessoas já terem morrido, nos últimos dois meses, devido às inundações causadas pelas monções e pelas alterações climáticas. Cerca de 33 milhões de pessoas estão a ser afetadas e o Governo alerta que há o risco de um terço do território ficar submerso, evento "avassalador" que vai agravar a situação económica do país.

“Espero que não apenas o Fundo Monetário Internacional, mas a comunidade internacional e as agências internacionais compreendam o verdadeiro nível de devastação”, começou por dizer o ministro paquistanês dos Negócios Estrangeiros, em entrevista à Reuters, no domingo.

"Nunca vi destruição a esta escala, acho muito difícil traduzir em palavras. É esmagador", acrescentou Bilawal Bhutto-Zardari, relembrando ainda as consequências económicas destes eventos climáticos para o país.

As inundações deverão agravar ainda mais a situação do país, que já enfrentava uma crise económica com a inflação elevada, a desvalorização da moeda, a escassez de importações e um défice da conta corrente. Agora, com as cheias, muitos campos agrícolas - o meio de sustento de parte da população – foram destruídos ou estão submersos.

“Obviamente que isto terá consequências na situação económica global”, continuou o ministro.

O Governo já tinha pedido ajuda à comunidade internacional, tendo sido os Estados Unidos, o Reino Unido, a China e os Emirados Árabes Unidos alguns dos países que responderam ao apelo do Paquistão. Contudo, o executivo paquistanês advertiu, no domingo, que são necessários mais fundos para responder àquelas que são as piores inundações no país desde 2010. Bhutto-Zardari admitiu que o Governo espera que o FMI ajude, ainda esta semana, com 1,2 mil milhões de dólares, como parte das parcelas do programa de resgate do Paquistão.
País começa a receber ajuda internacional
De acordo com o último balanço divulgado esta segunda-feira pela Autoridade Nacional de Gestão de Catástrofes (NDMA), as inundações no Paquistão causadas pelas chuvas das monções que chegaram em junho mataram pelo menos 1.061 pessoas. Além disso, mais de 33 milhões de pessoas, um em cada sete paquistaneses, foram afetados e quase um milhão de casas foram destruídas ou severamente danificadas, de acordo com o Governo.

Segundo os dados do NDMA, mais de 80 mil hectares de terra cultivável foram devastados e mais de 3.400 quilómetros de estradas e 157 pontes destruídos. Há ainda muitas comunidades nas regiões montanhosas do norte isoladas devido às cheias e às enchentes dos rios.

O primeiro voo com assistência humanitária e material de socorro deverá, contudo, chegar esta tarde à base aérea de Noor Khan, no norte de Rawalpindi, segundo o gabinete do primeiro-ministro. Nos dias seguintes espera-se que cheguem mais 15 aviões com material humanitário dos Emirados Árabes Unidos.

“Alguns países prometeram ajuda e ela está a chegar-nos, mas precisamos de mais ajuda para apoiar milhões de pessoas afetadas pelas cheias”, disse também o ministro do Planeamento e Desenvolvimento, Ahsan Iqbal, à agência noticiosa Efe no domingo.

Por isso, o Paquistão reforçou o pedido de ajuda internacional. Embora já tenha chegado algum apoio humanitário, é insuficiente para responder aos milhões de pessoas afetadas pelas mais fortes monções dois últimos anos. As forças militares do país já se juntaram aos membros da proteção civil nacionais e das várias províncias, mas os dirigentes do Executivo reforçam o pedido à comunidade internacional e ao FMI.

“A magnitude da calamidade é maior do que o estimado”, disse o primeiro-ministro Shehbaz Sharif, no Twitter, depois de visitar áreas inundadas, este fim de semana.


Um terço do país pode ficar submerso
De acordo com uma publicação do Guardian, muitos rios do território transbordaram, tendo destruído dezenas de edifícios e infraestruturas. A ministra do Ambiente do Paquistão advertiu, considerando este cenário, para o risco de a “monção monstruosa” deste ano deixar submerso um terço do país – o que corresponde a uma área semelhante à da Grã-Bretanha.

Isso aconteceu quando o ministro para o Clima alertou que um terço do Paquistão pode estar submerso quando a “monção monstruosa” deste ano retroceder.

O Paquistão nunca enfrentou um ciclo ininterrupto de monções como este. Oito semanas de torrentes ininterruptas deixaram grandes áreas do país debaixo de água”, disse Sherry Rehman. “Esta não é uma estação normal, é um dilúvio por todos os lados, que está a afetar mais de 33 milhões de pessoas e uma área do tamanho de um pequeno país”.



Já esta segunda-feira, em entrevista à AFP, a ministra responsável pela pasta do Ambiente e das Alterações Climáticas disse que “o que vemos agora é um oceano de água a inundar distritos inteiros".

"Isto está muito longe de ser uma monção normal - é a distopia climática à nossa porta".

Segundo Rehman, o aquecimento global está a contribuir para o degelo das regiões montanhosas do norte do país, exacerbando o impacto das fortes chuvas. Recorde-se que o Paquistão tem mais zonas geladas do que qualquer outra região do mundo, à exceção das regiões polares.

Por essa razão, o Paquistão é um dos países mais expostos aos extremos climáticos relacionados às alterações climáticas, como explicou ao jornal Simon Bradshaw, do Conselho Climático da Austrália. O país já está a enfrentar uma “série de desastres climáticos, como secas e inundações”.
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