Numa altura em que a tensão entre o Irão e o Paquistão tem escalado, o ministro paquistanês dos Negócios Estrangeiros disse, esta sexta-feira, que Islamabad não tem “interesse nem desejo” de uma escalada de conflito com o país vizinho. Os principais líderes civis e militares do Paquistão vão reunir-se esta sexta-feira para fazerem uma revisão “da segurança nacional no rescaldo dos incidentes”.
Os ataques retaliatórios dos dois países são as intrusões transfronteiriças de maior visibilidade nos últimos anos e fizeram soar o alarme sobre uma maior instabilidade no Médio Oriente.
Embora tenham um histórico de relações difíceis, Islamabad e Teerão já manifestaram a intenção de atenuar as tensões.
“O Paquistão não tem interesse nem desejo de uma escalada”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Jalil Abbas Jilani, num telefonema com o seu homólogo turco. Esta sexta-feira, os principais líderes civis e militares do Paquistão vão reunir-se para realizar uma “ampla revisão da segurança nacional no rescaldo dos incidentes Irão-Paquistão".
Segundo a agência Reuters, o primeiro-ministro interino, Anwaar ul Haq Kakar, presidirá uma reunião do Comité de Segurança Nacional, que contará com a presença de todos os chefes dos serviços militares.
Na quinta-feira, o Paquistão lançou mísseis contra “grupos armados” em território do Irão, visando “esconderijos terroristas”, em retaliação contra os ataques do país vizinho.
O Irão disse que os ataques mataram nove pessoas numa aldeia fronteiriça do seu território, incluindo quatro crianças. O Paquistão, por sua vez, disse que duas crianças morreram no ataque iraniano de terça-feira no Baluchistão.
Apelos à contenção do conflito
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar “profundamente preocupado com as recentes trocas de ataques militares entre o Irão e o Paquistão” e instou as duas nações a exercerem a “máxima contenção, a fim de evitar uma nova escalada das tensões”.
Os EUA também pediram moderação, embora o presidente Joe Biden tenha afirmando que o aumento abrupto das tensões demonstra que o Irão “não é apreciado na região”.
“Não sei onde isto nos vai conduzir”, lamentou o Presidente norte-americano, voltando a criticar a atitude de Teerão perante o clima de instabilidade no Médio Oriente e perante os seus mais próximos vizinhos.
John Kirby, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, também destacou, esta sexta-feira, que o Paquistão - um aliado dos EUA - “foi atingido primeiro pelo Irão”, o que constitui mais um “exemplo do papel perturbador do Irão na região”. Kirby assegurou que os EUA não “querem uma escalada na Ásia Central e do Sul” e garantiu que a administração norte-americana está a “acompanhar de muito perto” as tensões entre os dois países.
Também a Rússia pediu “máxima contenção” ao Irão e Paquistão, defendendo o diálogo para a resolução da tensão entre os dois países.
“Apelamos às partes para que exerçam a máxima contenção e resolvam as questões emergentes apenas através dos canais políticos e diplomáticos”, disse a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, esta sexta-feira.
Irão atacou três países na mesma semana
Para além do Paquistão, o Irão lançou também ataques com mísseis contra o Iraque e a Síria esta semana, alegando serem em resposta a ataques realizados no seu território ou contra alvos iranianos.
No caso do Paquistão, Teerão diz ter atacado posições que afirma ser bases do grupo jihadista Jaish al-Adl (“Exército da Justiça”, em árabe), que tem reivindicado vários ataques e atentados na província do Sistão-Baluchistão, uma das mais pobres do Irão junto à fronteira com o Paquistão. O Irão e o Paquistão acusam-se frequentemente de permitir que grupos rebeldes operem a partir do território do outro para lançar ataques, mas é raro que as forças oficiais de qualquer um dos países estejam envolvidas.
Na terça-feira, Teerão anunciou que disparou mísseis contra militantes do Estado Islâmico na Síria, em resposta a um atentado com bomba que matou dezenas de pessoas durante uma comemoração do famoso comandante Qassem Soleimani no centro do Irão, a 3 de janeiro
As estruturas militares do país dos ayatollahs disseram que visaram quartéis-generais de "espiões" e outros alvos "terroristas" na Síria e no Curdistão iraquiano.
Já na véspera, o Irão confirmara ter atacado alvos associados ao Estado Islâmico e "espiões do regime sionista" - ou seja, Israel - na Síria e no Iraque, onde foi mesmo atingido uma zona próxima do consulado dos Estados Unidos no Curdistão iraquiano.
Esta vaga de ataques do Irão ocorre no contexto da guerra na Faixa de Gaza e das recentes investidas de um grupo de países ocidentais, liderados por Estados Unidos e Reino Unido, contra posições dos rebeldes Huthis do Iémen para manter a segurança da navegação comercial no Mar Vermelho.
c/agências