Paquistão. Capital bloqueada, Internet suspensa e confrontos policiais

por Inês Moreira Santos - RTP
Sohail Shahzad - EPA

Milhares de apoiantes do ex-primeiro-ministro paquistanês quebraram as barreiras de segurança montadas nos arredores da capital e marcharam em direção a Islamabade, entrando em confronto com as forças de segurança, esta terça-feira de manhã. Pelo menos cinco polícias e paramilitares foram mortos e dezenas de pessoas ficaram feridas no embate com os manifestantes, que exigem a libertação de Imran Khan.

As autoridades paquistanesas impuseram um bloqueio de segurança no país - proibindo marchas, protestos e comícios -, suspenderam a Internet com cortes de energia e fecharam as principais estradas em direção à capital do país, depois de nos últimos dias Imran Khan ter apelado aos apoiantes para que se manifestassem pela sua libertação e marchassem até ao Parlamento do Paquistão.

Na segunda-feira, milhares de apoiantes do antigo chefe de Governo, que está preso, avançaram até às entradas de Islamabade, sendo impedidos de marchar até à capital pelas autoridades, que dispersou os manifestantes com granadas de gás lacrimogéneo e balas de borracha. Mas esta manhã conseguiram romper as barreiras de segurança e, segundo adianta a Reuters, chegaram mesmo à praça D-Chowk, junto ao Parlamento.

O Ministério do Interior do Paquistão confirmou que o exército foi mobilizado para proteger missões diplomáticas na área fortificada da zona vermelha, onde muitos edifícios governamentais e embaixadas estão localizados. A mesma fonte governamental acrescentou que está previsto um recolher obrigatório com a colaboração de tropas paramilitares para bloquear os manifestantes.

O ministro do Interior, acrescentou em conferência de imprensa que os manifestantes podiam permanecer nos arredores de Islamabade, mas ameaçou tomar medidas extremas se estes entrassem na cidade. "Não os deixaremos cruzar nossas linhas vermelhas", disse Mohsin Naqvi.

Já o atual primeiro-ministro paquistanês culpou os manifestantes pelas mortes dos militares, alegando que os agentes das forças de segurança foram atropelados por veículos de pessoas que estavam nos protestos.

"Não é um protesto pacífico. É extremismo", disse Shehbaz Sharif numa declaração, condenando o derramamento de sangue que tem como objetivo atingir "desígnios políticos malignos".

O partido Pakistan Tehreek-e-Insaaf (PTI) de Khan planeou realizar um protesto em D-Chowk até que as suas exigências sejam ouvidas. E, de acordo com a imprensa local, os manifestantes estavam armados com barras de aço, fisgas e paus e atearam fogo em árvores e relvados enquanto marchavam. Exigindo também a renúncia do atual Governo, os manifestantes destruíram veículos e incendiaram um posto da polícia.

Desde domingo, “mais de 20 mil membros das forças de segurança foram destacados para Islamabad e arredores”, anunciou à AFP o porta-voz da polícia da capital paquistanesa, Mohammed Taqi.

“Aqueles que vierem aqui serão presos”, disse o ministro da Administração Interna, Mohsin Naqvi, durante uma visita ao D-Chowk, ponto de encontro onde os apoiantes da antiga estrela do críquete dizem esperar chegar de manhã.
O que motiva os protestos no Paquistão?
Foram necessárias mais de 48 horas para chegar às portas de Islamabade, a capital administrativa do quinto país mais populoso do mundo, onde se situam todas as instituições políticas, bem como a prisão onde Imran Khan, de 72 anos, está encarcerado. A marcha de manifestantes é liderada pela mulher de Khan, Bushra Bibi, e pelo principal dirigente do Estado de Khybert Pakhtunkhwa e uma das principais figuras do partido do antigo primeiro-ministro, Ali Amin Gandapur.

O partido Paquistan Tehreek-e-Insaf, do primeiro-ministro deposto, convocou a marcha nacional, apelidando-a de "última oportunidade" para exigir a libertação dos opositores presos, especialmente do líder da oposição. O PTI exige também a devolução do que considera de mandato roubado nas eleições de 8 de fevereiro, alegando restrições e vetos que o impediram de formar um governo, apesar da vitória nas urnas.

Contudo, o Tribunal Superior de Islamabade proibiu, na quinta-feira passada, o PTI de realizar a marcha, invocando medidas de segurança devido à visita do presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, ao país na segunda-feira.

Imran Khan, que esteve no poder entre 2018 e 2022, está a ser processado em vários tribunais, principalmente por casos de corrupção ou manifestações violentas por parte dos seus apoiantes. Mas em julho um painel de peritos da ONU descreveu esta detenção como “arbitrária”, apelando à libertação imediata do ex-primeiro-ministro.

Os apoiantes de Khan mobilizaram-se em massa durante a sua detenção, há mais de um ano, e continuam a manifestar-se regularmente. Recentemente, dez deputados do seu partido foram detidos e apresentados a um juiz de contraterrorismo, poucos dias após a aprovação de uma lei que regula as manifestações em Islamabad.
Tópicos
PUB