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Papéis do Panamá elevam níveis de censura na China

por Andreia Martins - RTP
Vários meios de comunicação social foram bloqueados durante a tarde de quinta-feira Aly Song - Reuters

A elite política chinesa está em alerta. Depois das revelações sobre a Mossak Fonseca, grandes nomes da política e economia daquela que é a segunda economia mundial têm atuado no sentido de retirar de publicação quaisquer ligações destes líderes ao escândalo mundial das offshores. A nova onda de censura levou inclusive à interrupção de emissões televisivas internacionais.

Desde Mao Tse-tung, fundador do regime chinês tal como hoje o conhecemos, até Xi Jinping, atual presidente, os nomes que surgem nos Panama Papers abrangem familiares e nomes próximos dos principais líderes daquele país.

Os documentos da Mossack Fonseca, revelados no passado domingo pelo Consórcio Internacional de Investigação (ICIJ, na sigla em inglês), incluem três dos sete principais líderes do Politburo, o conselho que reúne os principais nomes do Partido Comunista Chinês. Estes três dirigentes, muito próximos de Xi Jinping, detêm alegadamente companhias clientes da Mossack Fonseca.

Em causa estão os nomes de Deng Jiagui, cunhado do presidente chinês, que detém duas empresas offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, Jia Liqing (nora de Liu Lefei, responsável pelo departamento de propaganda do partido), detentora de ações numa companhia offshore, e ainda Lee Shing Put, genro de Zhang Gaoli, o sétimo homem mais poderoso da China, ligado a três outras empresas mencionadas.

Quanto ao grande líder, Mao Tse-tung, é o nome de Chen Dongsheng, marido de uma das suas netas, que surge ligado a uma empresa offshore nas Ilhas Virgens.

Para evitar qualquer contestação ou polémica, o Partido Comunista Chinês emitiu uma diretiva que pretende “limpar” todas as menções ao escândalo mundial nos jornais e na internet. O controlo de todas as informações de eventuais atos ilicitos por pessoas próximas a Xi Jinping é visto como particularmente importante para a estabilidade do regime.

Desde que chegou ao poder, em 2012, o presidente chinês tem-se destacado no combate à corrupção. Chegou mesmo a pedir aos principais líderes do seu partido que se contivessem nas demonstrações de poder e riqueza, com receios de exacerbar a instabilidade social e a contestação ao regime vigente.
Conspiração dos media ocidentais
Num país habituado ao controlo e censura jornalística, o PCC declarou uma purga a todas as notícias, posts, blogues e comentários sobre as revelações dos “Papéis do Panamá”. A censura dos meios nacionais estende-se a todas as emissões internacionais.

Segundo o correspondente do Guardian em Pequim, os jornais e televisões internacionais também estão a ser controlados, nomeadamente as emissões da BBC e da CNN, com várias interrupções nas emissões televisivas desta quinta-feira.

As revistas semanais The Economist e Time, normalmente nas bancas à sexta-feira, foram bloqueadas por antecipação. As duas publicações têm divulgado vários trabalhos críticos relativamente ao secretário-geral do Partido.

O próprio site do Guardian, que pertence ao consórcio de jornalistas envolvido na investigação, esteve também inacessível durante a tarde de quinta-feira, segundo conta o jornalista Tom Philips.

Mais previsível é a falta de atenção dada pelos meios de comunicação chineses, controlados pelo Estado, que têm praticamente ignorado o escândalo que preenche as primeiras páginas no resto do globo. A exceção é mesmo para o Global Times, jornal oficial do regime, que criticou a investigação num editorial publicado na quarta-feira, classificando o leak de documentos uma “conspiração” por parte das elites ocidentais, sublinhando a ausência de nomes norte-americanos da lista de 11,5 milhões documentos.

“Os media ocidentais têm tomado controlo das interpretações de cada vez que há este tipo de descarregamento de documentos, e Washington tem demonstrado particular influência. Informações que possam ser negativas para os Estados Unidos podem sempre ser minimizadas, enquanto os escândalos de líderes não-ocidentais, como Putin, têm mais impacto”, refere o jornal, acrescentando que “apesar das diferenças de interesses, os países ocidentais são aliados no que diz respeito à ideologia”.
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