O papa Francisco inicia esta terça-feira em Kinshasa uma visita de sete dias à República Democrática do Congo (RDCongo) e ao Sudão do Sul, dois países atingidos pela guerra, fome e catástrofes naturais ligadas às alterações climáticas.
Na sexta-feira, o Papa deslocar-se-á ao Sudão do Sul, um país cujo produto interno bruto (PIB) per capita de 322 dólares (295 euros) o coloca entre os mais pobres do mundo e onde a maioria da população sobrevive através da ajuda internacional. Cerca de 8,3 milhões de sudaneses do sul, 75% da população, lutam todos os dias para encontrar o suficiente para comer.
A deslocação ao Sudão do Sul é uma viagem sem precedentes para um papa, que viaja com o arcebispo de Cantuária, Justin Welby, e o moderador da Igreja da Escócia, Jim Wallace, uma vez que o país tem uma grande presença da Igreja anglicana.
Em abril de 2019, os três líderes religiosos convocaram um retiro espiritual no Vaticano para ajudar o processo de paz no Sudão do Sul e durante essa iniciativa, num gesto simbólico de humildade, Francisco ajoelhou-se e beijou os pés do Presidente sul-sudanês, Salva Kiir Mayardit, e do líder da oposição, Riek Machar, e instou os dois líderes em conflito a prosseguirem com o acordo de paz assinado no ano anterior.
O apelo à manutenção desse acordo de paz, que tem registado progressos mitigados, pontuado por recorrentes surtos de violência, será o foco do discurso do papa às autoridades sul-sudanesas no Palácio Presidencial em Juba.
No sábado, o papa reunir-se-á com o clero na Catedral de Santa Teresa, e à tarde encontrar-se-á com quase dois milhões de deslocados internos, de quem ouvirá vários testemunhos.
O pontífice realizará ainda uma missa no mausoléu de John Karang, antigo líder do Exército de Libertação do Povo Sudanês (SPLA), morto num acidente de helicóptero em 2005, e cuja influência foi fundamental para a fundação do Sudão do Sul.
Nos últimos meses, o leste da RDCongo tem sido palco de um recrudescimento da violência, sobretudo na fronteira com o Ruanda, uma zona com subsolo rico em coltan, fundamental para a indústria de equipamentos eletrónicos, e onde existem mais de 100 grupos armados ativos, nomeadamente o Movimento 23 de Março (M23), razão pela qual a visita a Goma, planeada no programa inicial, foi suspensa.
João Paulo II esteve em Goma em 1980 e 1985, quando o país se chamava ainda Zaire, mas a capital da província do Kivu do Norte encontra-se atualmente particularmente vulnerável aos ataques do M23.
Já o Sudão do Sul, o mais jovem país do mundo, independente do Sudão desde 2011, nunca foi visitado por um pontífice.