Papa concede indulgência plenária com benção Urbi et Orbi

por RTP

Perante uma praça de São Pedro completamente deserta, e sob a chuva, o Papa Francisco orou e realizou a bênção Urbi et Orbi na emergência do coronavírus, uma medida excecional "face à gravidade das atuais circunstâncias".

A cerimónia foi transmitida em direto para o mundo inteiro, via televisões, rádios e internet.

Segundo condições estabelecidas no recente decreto da Penitenciária Apostólica, com esta benção Urbi et Orbi - à cidade de Roma e ao mundo - o Papa, enquanto representante de São Pedro, concede a indulgência plenária de todos os pecados, para um conforto de plena comunhão com Deus, em caso de morte de quem dela necessite.

Aqueles que, estando doentes em estado crítico, sobrevivam e queiram beneficiar da mesma indulgência plenária, deverão cumprir o propósito de se confessar perante um sacerdote, tão logo seja possível.

A benção e a oração desta sexta-feira de quaresma concluem um conjunto de iniciativas de apelo a todos os cristãos iniciadas quarta-feira, 25 de março, com a invocação ao Deus Todo-Poderoso por meio da oração do Pai Nosso, em simultâneo com os chefes das Igrejas e os líderes das comunidades cristãs.

Esta sexta-feira, 27 de março, católicos de todo o mundo foram convidados a unir-se espiritualmente ao Papa por meio dos media, às 18h00 de Itália, como o próprio anunciou domingo 22 de março, na oração do Angelus.

"Ouviremos a Palavra de Deus, elevaremos a nossa súplica, adoraremos o Santíssimo Sacramento, com o qual, ao final, darei a Bênção Urbi et Orbi, à qual está ligada a possibilidade de receber a indulgência plenária" referiu o Santo Padre.

A benção decorreu perante uma Praça de São Pedro completamente vazia, um facto inédito na história da Igreja Católica.

Nesta circunstância especial, nas proximidades da porta central da Basílica, foi colocada a imagem da Salus Populi Romani e o Crucifixo milagroso da Basílica de São Marcelo, aos pés do qual Francisco rezou a 15 de março, pedindo pelo fim da "peste" dos nossos dias.
"Ninguém se salva sozinho"
Na Praça de São Pedro, depois de ouvir a Palavra de Deus, o Papa Francisco fez uma meditação sobre os desafios que a pandemia coloca à humanidade, que se descobre necessitada e vulnerável.

“Estamos todos neste barco. Ninguém se salva sozinho”, declarou o Papa Francisco.

“Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos” referiu o Santo Padre.

Tal como os discípulos do Evangelho, lembrou ainda “fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda”. Todos “no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos”, salientou.

Os tempos difíceis que vivemos desmascaram “a nossa vulnerabilidade e deixam a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade”, referiu o Papa, concluindo que é preciso parar, pensar e mudar.
“Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso «eu» sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos”, acrescentou.

Francisco deixou ainda um apelo à conversão em tempo de Quaresma.

“Não nos detivemos perante os Teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: Acorda, Senhor!

Após a leitura da sua meditação, o Papa dirigiu-se a um altar localizado no átrio da Basílica do Vaticano, onde havia sido exposto o Santíssimo Sacramento, para orar.

Após a súplica, pelos doentes, pelos médicos e pelos políticos e pela própria humanidade "na hora da prova" e "pela busca do verdadeiro bem e da verdadeira alegria", seguiu-se o rito da Bênção "Urbi et Orbi" com o Santíssimo.
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