A China vai ter a sua própria Estação Espacial depois de russos e americanos. Direitos Reservados

Palácio Celestial. China prepara-se para colocar em órbita primeiro módulo da nova estação espacial

A China é a terceira nação a querer colocar no espaço uma estação orbital tripulada. O objetivo será, tal como aconteceu com as congéneres soviética e norte-americana e, atualmente, a Estação Espacial Internacional, realizar experiências científicas em ambiente de "gravidade zero". O primeiro módulo, Tianhe-1, será lançado para o espaço já na próxima quinta-feira.

O módulo Tianhe-1 (Via Láctea em chinês arcaico) é mais uma tentativa por parte da China para colocar em órbita um módulo que consiste no corpo inicial da estação espacial.

Toda esta aventura começou em 2011, quando a Agência Espacial Chinesa (CNSA) lançou para o espaço a Tiangong 1, um módulo espacial com capacidade para suportar vida humana. Mais tarde, já em 2016, a China enviou o módulo Tiangong 2, um laboratório espacial que se juntou ao primeiro.

Créditos: CNSA/DR

O lançamento deste segundo módulo marcou o início de uma missão de dois anos para conduzir uma gama variada de experiências científicas em órbita e obter a tecnologia para a criação de uma estação espacial permanente, que se materializa agora com a Tiangong (Palácio Celestial).

A estação Tiangong 1 e 2 acabou por ser desativada em 2018 e caiu de forma controlada no Oceano Pacífico, em julho de 2019.

Com a instalação desta estação espacial, depois do bem sucedido envio, até à "face oculta" da Lua, de dois pequenos rovers - com a recolha de uma amostra de solo lunar e mais recentemente com o envio de uma sonda até Marte, a China demonstra uma vez mais que está em pé de igualdade com os países até agora detentores de um vasto historial de conquista do Espaço: Estados Unidos e Rússia.Módulo Tianhe-1. O berço do Palácio Celestial
Se concebe a ideia de uma estação espacial gigante, que no futuro se tornará um grande complexo de módulos habitáveis, com espaços agradáveise cómodos como aqueles que os filmes de ficção científica apresentam, está enganado.

A utopia existe e a vontade também, mas para já e evolução destes sistemas artificiais ainda é rudimentar. São compostos de contentores habitacionais e científicos. Todos eles muito apertados e apetrechados de muito material científico e laboratorial.

A nova Estação Espacial Chinesa (EEC) Tiangong não foge muito deste conceito. Aliás, o modelo que foi planeado pelos engenheiros da CNSA é muito parecido com a estrutura da antiga estação espacial soviética MIR, que operou no espaço entre 1986 e 1996.

A EEC está programada para ser um laboratório orbital, sendo constituída por um módulo central ao qual serão acrescentados outros módulos de forma gradual.

A primeira fase consiste no lançamento e colocação em órbita do módulo Tianhe-1 (corpo central), seguido pelos módulos científicos Wentian e Mengtian e pelo Xuntian.

O Tianhe-1 apresenta uma massa de cerca de 20 toneladas e será colocado numa órbita com uma altitude média de 393 quilómetros (Estação Espacial Internacional – 420 km/média).

Este módulo primário, com comprimento total de 16,6 metros, está dividido em duas grandes secções e tem um volume habitável de cerca de 50 metros cúbicos.

O corpo central do Tiangong é ainda composto por uma secção de acoplagem e uma secção cilíndrica com um diâmetro de 2,8 metros com cinco pontos de acoplagem. Local que permitirá a junção dos futuros módulos experimentais.

O Tianhe-1 está já equipado com sistemas de suporte de vida e tem a capacidade de acomodar três tripulantes.

Créditos: Twitter@Shuttle Almanac/DR

A zona habitável deste módulo é de 50 metros cúbicos, podendo chegar aos 110 metros cúbicos quando acoplada as áreas habitáveis dos outros dois módulos (Wentian e Mengtian).

O tempo de vida útil deste componente está estimado em cerca de 15 anos, com a devida manutenção orbital.

Créditos: @ShuttleAlmanac/DR

O primeiro módulo da futura estação espacial modular da China já está na plataforma de lançamento e, se tudo correr como o previsto, às 3h18 UTC (4h18 Lisboa) do dia 29 de Abril, o Tianhe-1 partirá com destino ao espaço a bordo do foguete Chang Zheng-5B, instalado no Centro de Lançamentos Espaciais de Wenchang, província de Hainan.


Módulos Wentian, Mengtian e Xuntian - O "Palácio Celestial" em crescimento

Como referido anteriormente, o módulo Tianhe-1 é apenas a peça inicial de todo um vasto complexo, que ao longo do tempo dará origem à Estacão espacial Chinesa.

Já em construção nos estaleiros chineses e previstos para serem lançados até 2023 estão os módulos científicos Wentian e Mengtian. Estes módulos, com uma massa idêntica ao Tianhe-1 (20Ton), também serão circulares (diâmetro de 4,2 metros) e com um comprimento de 14,4 metros.

Estas duas peças foram elaboradas a partir das experiências obtidas com o módulo orbital Tiangong-2, que esteve em órbita até 2019 e estão programados para serem verdadeiros laboratórios espaciais.

A China conta realizar, à semelhança do que se faz na EEI, em ambiente de microgravidade, experiências nas áreas da biotecnologia, ciências dos materiais, ciências da vida, física, radiação cósmica, entre outros. E com esta infraestrutura espacial os módulos estão equipados com escotilhas pressurizadas para efetuar saídas ao exterior da própria estação.

Os módulos Wentian e Mengtian serão inicialmente acoplados nos acessos de acoplagem axial do módulo Tianhe-1 e posteriormente transferidos para os outros pontos de acessos laterais, utilizando um sistema de manipulação remota operado a partir do interior da estação espacial ou mesmo remotamente a partir do centro de controlo na Terra, permitindo a adaptação e construção do formato final da estação.

Os chineses não querem deixar nenhuma ponta solta e estão a preparar o módulo Wentian como "salva-vidas", caso algo corra mal no módulo principal e de união.

Créditos: CNSA/DR

O Mengtian vai ter funções semelhantes ao Wentian, mas é este que virá equipado com uma escotilha especial que permitirá a receção de víveres e equipamento científico, vindos da Terra e posterior retorno de lixo e equipamento não essencial, através dos veículos de carga Tianzhou, já utilizados em 2017, para a estação Tiangong-2.

Por fim, a China quer também ter uma visão mais alargada do universo e visa colocar um telescópio espacial em órbita síncrona com a futura estação espacial.

De nome Xuntian (Cruzeiro dos Céus), este telescópio espacial terá um espelho de dois metros de diâmetro e os investigadores chineses contam com uma resolução e um campo de visão 300 vezes superior ao do telescópio espacial o Hubble.

A particularidade deste módulo é que não estará acoplado ao complexo Tiangong, mas vai ficar instalado perto da estação e sempre que necessário poderá ser acoplado à EEC para manutenção e reparação.

O módulo Wentian será o primeiro dos dois módulos científicos a ser colocado em órbita, em 2022, seguindo-se o módulo Mengtian.

Ambos serão lançados desde Wenchang por foguetões Chang Zheng-5B.
Tiagong (3) ainda vai ser habitado este ano
O rápido avanço da tecnologia está cada vez mais a permitir abrir portas à evolução da indústria espacial. De tal forma que a CNSA conta colocar já em junho três tripulantes a bordo da Tiangong.

Após o lançamento da Tianhe-1, a agência espacial chinesa tem já no seu programa espacial o lançamento do módulo de carga Tianzhou-2, nos finais deste mês ou início de maio, que se juntará, de forma automatizada, ao Tianhe-1 e que fornecerá equipamento e condições de habitabilidade aos três astronautas que inaugurarão o “Palácio Celestial”.

Créditos:Adrian Mann/DR

De acordo com o programa estabelecido pela CNSA, a missão dos três astronautas, que chegarão à estação através da cápsula tripulada Shenzhou-12, será de nove meses. Mas poderá ser encurtada após a visita de mais uma equipa de três novos elementos, prevista para setembro ou outubro desde ano.

Antes disso (agosto) a Tiangong ainda vai receber um veículo de carga com mais equipamentos, água e comida "fresca".Tiangong. A mais recente Estação Espacial Humana habitável
A frase popularizada pela série de ficção científica Star Trek: Espaço a última fronteira, é de alguma forma levada muito a sério pela ambição humana e cientifica. Prova disso mesmo são as constantes tentativas de ir mais longe e procurar ir aonde nenhum homem foi anteriormente.

Desde que Gagarin, primeiro homem no espaço, fez em 12 de abril de 1961, 50 anos, que aspiração humana de ir lá acima foi crescendo. A Lua foi o salto e a prova de que se podia viver no espaço. Começou-se então a construir no papel o sonho de ter uma estação espacial, com condições de albergar seres humanos.

SkyLab (Estados Unidos)

Com a evolução tecnológica e a necessidade estratégica de ser "superior" (americanos vs soviéticos), ter uma estação espacial tornou-se, em 1973, uma realidade com o envio para o espaço, através do potentíssimo Saturno V, o mesmo que levou o homem à Lua, o que seria considerada a primeira Estação Espacial: Skylab (laboratório do céu).

Créditos: HEASARC/NASA - DR

Lançada a 14 de maio de 1973, a Skylab, com um módulo único, orbitava a uma altitude de 435 quilómetros e era composta de cinco partes: um telescópio (ATM); um adaptador para acoplagem múltipla (MDA); um módulo selado (AM); uma unidade de instrumentos (IU); e um espaço de trabalho orbital (OWS).

Esta estação espacial norte-americana recebeu três missões tripuladas, Skylab II, III e IV, entre maio desse ano e fevereiro de 1974. Depois, a estação foi abandonada e caiu controladamente no Pacífico em 1979.

Almaz e MIR  (Rússia)

Em plena Guerra Fria, os russos não queriam deixar o espaço para os norte-americanos e colocaram em marcha o programa Almaz ("Diamante"). Altamente secreto, este projeto consistiu num conjunto de estações espaciais militares dissimuladas no programa Salyut.

Créditos: Dietrich Haeseler/DR

Após alguns sucessos e fracassos, os militares soviéticos decidiram que os custos de manutenção das estações superavam os benefícios, quando comparadas com satélites de monitoramento automáticos. Mas não ficariam de braços cruzados. Em 1986 a Rússia colocaria no Espaço a sua jóia espacial: a MIR (paz).

Em funcionamento numa órbita baixa entre 1986 e 2001, a MIR foi a primeira Estação Espacial modular montada em órbita.

Apresentava-se como a maior estrutura artificial humana no espaço. Um registo que durou até 21 de março de 2001, destronada apenas pela a Estação Espacial Internacional (EEI).

Créditos: NASA/DR

A estação serviu como laboratório de pesquisa de microgravidade em que as equipas, inicialmente soviéticas, realizaram várias experiências com o objetivo de desenvolver tecnologias necessárias para a ocupação humana permanente do espaço.

A MIR foi a primeira estação de pesquisa habitada em órbita, em continuo e estabeleceu o primeiro recorde da mais longa presença humana no espaço (3 644 dias). Um valor quebrado em 2010, foi superado pela EEI.

Apesar de tudo, ainda detém ainda o recorde de mais longo voo espacial humano único, quando Valeri Polyakov passou 437 dias e 18 horas na estação entre 1994 e 1995.

A estação espacial foi ocupada durante 12 anos, além de sua vida útil original de 15 anos, tendo a capacidade de suportar uma tripulação residente de três pessoas, ou de tripulações maiores para missões espaciais de curta duração.

A MIR recebeu a bordo 137 astronautas de vários países, incluído norte-americanos (49), a partir de 1995, inicialmente rivais nesta competição espacial. Desde então a cooperação entre os dois países tem sido uma constante. Mas esta ligação pode ser quebrada já em 2025 com a retirada oficial dos cosmonautas russos em definitivo da EEI.

Estação Espacial Internacional (Coop. Internacional)

Por fim, desde 1998 e em plena atividade, está a Estação Espacial Internacional (Internacional Space Station - ISS).

Este é um vasto complexo artificial, atualmente com de 109 metros (ponta a ponta). Começou a ser construído em órbita com o lançamento, a 2 de novembro de 1998, do módulo soviético Zarya e "terminou" oficialmente em 8 de julho de 2011, na missão STS-135 (Atlantis), com o envio e instalação do Módulo de Logística Multifuncional Rafaello.

Este laboratório espacial encontra-se numa órbita baixa entre os 410 e os 420 quilómetros de altitude do nível médio do mar e viaja a uma velocidade média de 27 700 km/h, completando 15,70 órbitas por dia. Devido à baixa altitude, a estação precisa ser constantemente reposicionada em órbita devido ao arrastamento aerodinâmico. A estação perde, em média, 100 metros de altitude por dia e orbita a Terra num período de cerca de 92 minutos.

Créditos: ESA/DR

A EEI é a primeira infrastrutura humana que pode ser vista a olho nú da Terra, num dia de boa visibilidade atmosférica.

Na continuidade das operações da MIR russa e da Skylab dos Estados Unidos, a Estação Espacial Internacional representa a atual permanência humana no espaço e tem sido mantida com tripulações de número não inferior a três astronautas, desde 2 de novembro de 2000, sendo actualmente a tripulação mínima de seis ocupantes.

A cada rendição da tripulação, a estação comporta duas equipas (uma em serviço e a próxima), bem como um ou mais visitantes. A EEI envolve-se em diversos programas espaciais, sendo um projeto conjunto da Agência Espacial Canadiana (CSA/ASC), Agência Espacial Europeia (ESA), Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), Agência Espacial Federal Russa (ROSKOSMOS) e Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA), dos Estados Unidos.

Desde a entrada dos primeiros astronautas na estação (Bill Shepherd, Yuri Gidzenko e Sergei Krikalev), já estiveram a bordo 240 astronautas de 19 paises. Na estação espacial estão atualmente dez astronautas norte-americanos, soviéticos e um japonês.