Países Baixos vão a votos após 13 anos de liderança do "sobrevivente" Mark Rute

por Lusa

Os Países Baixos vão a votos, na próxima quarta-feira, pondo fim a 13 anos de liderança do conservador Mark Rutte, primeiro-ministro com maior longevidade da história neerlandesa, que analistas ouvidos pela Lusa qualificam de "sobrevivente" político e promotor de estabilidade.

"Independentemente de se ser ou não a favor das políticas de Rutte, o político neerlandês proporcionou estabilidade ao país durante a pandemia de covid-19 e a invasão russa da Ucrânia, estabilidade que não pode ser tomada como garantida e que é absolutamente necessária no ano que antecede as eleições do próximo ano, tanto europeias como nos Estados Unidos", comenta em declarações à agência Lusa o analista Dharmendra Kanani, do grupo de reflexão Amigos da Europa (Friends of Europe).

Visão semelhante tem Elizabeth Kuiper, do Centro de Política Europeia (European Policy Centre), que diz à Lusa que Rutte "teve a capacidade de se adaptar à mudança das condições e de sobreviver a escândalos".

"Sentiremos a sua falta como memória institucional à volta da mesa do Conselho Europeu, dado o seu papel como um dos primeiros-ministros em funções há mais tempo", adianta a especialista.

Líder durante 17 anos do Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD), de centro-direita, Mark Rutte governou nos Países Baixos durante 13 anos.

Já o investigador Herman Quarles van Ufford, do grupo de reflexão Conselho Europeu das Relações Externas (European Council on Foreign Relations), afirma à Lusa que "Rutte será recordado por ter dominado a arte do governo de coligação num país com uma paisagem política muito dispersa".

"A sua abordagem pragmática e a sua flexibilidade permitiram-lhe, a ele e ao seu partido, manter-se no poder durante mais de 13 anos e conduzir o país através de crises graves, como o abate do voo MH17 [no qual morreram muitos cidadãos holandeses], a crise migratória e a covid-19. Recentemente, foi uma das forças motrizes da UE para aumentar o apoio à Ucrânia [...], mas ao nível interno o seu mandato será também manchado por uma série de questões internas que foram objeto de uma gestão muito incorreta", como o escândalo com políticas sociais, em que milhares de pessoas foram injustamente acusadas de terem cometido fraudes na segurança social dos Países Baixos.

Após ter atravessado estas várias crises, aquele que é o chefe de Governo mais antigo dos Países Baixos surpreendeu, em julho passado, ao anunciar a sua demissão do cargo, com o súbito colapso da sua quarta coligação governamental devido a uma divisão sobre a política migratória, num contexto da ascensão dos partidos de direita.

Mas mesmo que agora saia de cena, Mark Rutte, de 56 anos, teve palco suficiente nos últimos anos para ser apelidado de "Teflon Mark", devido à sua capacidade de sobreviver a problemas políticos, não só de política migratória, também agrícola e sobre alterações climáticas.

Chegou a descrever o seu cargo de primeiro-ministro como "o melhor emprego do mundo", embora tenha continuado a dar aulas de estudos sociais numa escola secundária em Haia.

Quando anunciou a sua demissão, Mark Rutte chegou a afirmar que gostaria de se dedicar a dar aulas, mas no final de outubro já afirmou que "seria interessante" suceder a Jens Stoltenberg no cargo de secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

"Esse papel seria interessante, pois ofereceria a oportunidade de contribuir durante alguns anos para a cena internacional num período de mudanças globais dramáticas", afirmou o primeiro-ministro cessante, quando questionado sobre uma eventual liderança da NATO, numa entrevista à estação de rádio holandesa Den Haag FM.

Porém, "há uma grande probabilidade, dado o apoio político, de que este cargo seja atribuído a uma mulher europeia, o que também seria muito bom", adiantou na altura Mark Rutte.

Quanto às eleições legislativas da próxima quarta-feira, as sondagens estão bastante renhidas entre os três principais partidos, o Partido da Liberdade e da Democracia (VVD), a Aliança dos Verdes e do Trabalho (GL-PvdA) e o Novo Contrato Social (NSC).

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