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Países africanos continuam à espera de vacinas contra Mpox prometidas pelo Ocidente

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
República Democrática do Congo Arlette Bashizi - Reuters

O continente africano está a assistir a um rápido aumento de casos de varíola, com quase quatro mil casos registados na última semana, de acordo com dados do organismo de saúde pública de África. Cerca de um milhão de doses de vacinas contra o Mpox foram prometidas aos países africanos por várias nações, entre as quais Espanha, França e Alemanha, mas a ajuda para combater a epidemia na linha da frente tarda em chegar.

Apesar dos apelos provenientes de África para conter a disseminação do vírus e das promessas do Ocidente, está a demorar a arrancar nos países africanos a vacinação contra a Mpox, por falta de vacinas.

O ressurgimento do Mpox em África está a afetar principalmente a República Democrática do Congo (RDC) e 12 outros países do continente, nomeadamente o Burundi, Quénia, Ruanda e Uganda.   

A República Democrática do Congo é o país mais afetado pelo surto da nova variante, conhecida como "clade 1", e que foi detetada pela primeira vez na RDC em setembro de 2023, alastrando-se posteriormente aos países vizinhos. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que existem no país 18 mil casos suspeitos e 629 mortes este ano. O aparecimento de uma variante mais contagiosa do vírus Mpox levou a OMS a declarar "emergência de saúde pública global" no dia 14 de agosto.

O diretor do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC), Jean Kaseya, afirmou na quarta-feira que eram esperadas em África cerca de um milhão de doses de vacinas contra o Mpox. "Estamos a avançar no sentido de assegurar quase um milhão de doses”, disse Jean Kaseya numa reunião do Comité da OMS para África, no Congo-Brazzaville, de acordo com a agência France Press.

Jean Kaseya disse também que 215 mil doses de vacinas já tinham sido “asseguradas” pelo fabricante dinamarquês Bavarian Nordic e apelou a uma transferência de tecnologia para o continente africano.

"Estamos a dizer à Bavarian Nordic (empresa farmacêutica que produz a vacina) que precisamos de uma transferência de tecnologia para os fabricantes africanos“ e ”acreditamos que muito em breve a vacina contra o Mpox será fabricada em África", acrescentou. 

Até ao momento, vários países ocidentais, incluindo Espanha (500 mil doses), França e Alemanha (100 mil doses cada) e os EUA (50 mil doses) prometeram doar vacinas aos países africanos, mas as promessas não se estão a concretizar a tempo. 

Na sexta-feira, o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que as primeiras doses deveriam chegar à República Democrática do Congo "dentro de dias" e que a organização das Nações Unidas que lidera estava a "trabalhar para acelerar o acesso e a distribuição de vacinas contra o Mpox".


No entanto, vários especialistas têm acusado a Organização Mundial de Saúde de apatia e os países do Ocidente de ganância e desigualdade. 

Na semana passada, vários grupos da sociedade civil enviaram uma carta à GAVI, a aliança global de vacinas, instando-a a fazer pressão junto da empresa farmacêutica que controla a produção da vacina, a Bavarian Nordic, para baixar o preço da dose que custa atualmente entre 45 e 67 euros, escreve o jornal britânico The Guardian.

Um dos signatários da carta foi Peter Maybarduk, diretor da Public Citizen, segundo o qual a “a injustiça do Mpox, que se desenrola continuamente, deve-se a uma longa indiferença e iniquidade, estigma, lentidão, uso anémico do poder público e, sim, ganância”.

Também Victorine de Milliano, conselheira política da Médicos Sem Fronteiras (MSF Access), denuncia um “problema sistemático” que faz com que os países mais pobres tenham dificuldade de acesso a ferramentas médicas em situações de saúde pública.

"É uma verdadeira sensação de déjà vu. Seria de esperar que tirássemos algumas lições da pandemia de covid-19, mas voltamos a ver os mesmos padrões”, disse Victorine de Milliano numa entrevista ao Guardian.

"Os países de baixo e médio rendimento estão agora dependentes dos donativos dos países de elevado rendimento que têm acesso às vacinas. E também assistimos a um monopólio das vacinas, (onde são) vendidas a quem fizer a melhor oferta”, criticou.
 
c/agências

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