Pacto para migrações. UE não obriga países a acolherem migrantes mas apela à "solidariedade"
A Comissão Europeia propôs esta quarta-feira um novo "Pacto para as Migrações e Asilo" que vai permitir que os Estados-membros da União Europeia possam escolher se recebem ou não os migrantes e refugiados. Esta proposta prevê procedimentos mais rápidos e eficazes e, apelando à solidariedade dos 27 Estados-membros, o executivo comunitário propõe oferecer dez mil euros por cada migrante adulto que um país aceite acolher.
Mas o foco deste novo acordo está, essencialmente, no retorno das pessoas que não consigam provar que precisam de proteção internacional.
2/2 ... and faster border procedures so that people do not have to wait in limbo. It means enhanced cooperation with third countries for fast returns, more legal pathways and strong actions to fight human smugglers. Fundamentally it protects the right to seek asylum #MigrationEU
— Ylva Johansson (@YlvaJohansson) September 23, 2020
Apesar desta nova forma de cooperação "flexível", a Comissão adverte que "serão necessárias contribuições mais rigorosas em momentos de pressão sobre Estados-membros específicos, baseadas numa rede de segurança".
"Criámos um complexo mercado interno, uma moeda comum e um plano de recuperação sem precedentes para reconstruir as nossas economias. É agora tempo para enfrentar o desafio de gerir a migração em conjunto, com o equilíbrio certo entre a solidariedade e responsabilidade", sustentou.
The Commission’s Pact on Migration and Asylum, which we are presenting today, offers a fresh start.
— European Commission 🇪🇺 (@EU_Commission) September 23, 2020
We know that we have to build trust between EU countries and citizens’ confidence that we can manage this as a Union.@vonderleyen on #MigrationEU https://t.co/N9FGbqWJSK
Bruxelas propôs ainda a introdução de um procedimento fronteiriço integrado que, pela primeira vez, inclui um rastreio pré-entrada que abrange a identificação de todas as pessoas que atravessam as fronteiras externas da UE sem autorização ou que tenham sido resgatas após operações de busca e salvamento.
"Tal implicará também um controlo de saúde e de segurança, a recolha de impressões digitais e o registo na base de dados da Eurodac [identificação de requerentes de asilo]", indica a Comissão na sua proposta.
"Após o rastreio, os indivíduos podem ser canalizados para o procedimento correto, seja logo na fronteira, para certas categorias de requerentes, seja através de um procedimento normal de asilo", acrescenta o executivo comunitário, argumentando que, deste modo, "serão tomadas decisões rápidas em matéria de concessão de asilo ou de regresso".
A Comissão defende ainda que a UE deve esforçar-se por promover "parcerias à medida e mutuamente benéficas com países terceiros", ajudando assim a "enfrentar desafios comuns, tais como o tráfico de migrantes", a "desenvolver percursos legais” e permitirá garantir "uma efetiva aplicação dos acordos de readmissão".
"A UE e os seus Estados-membros atuarão em unidade, utilizando uma vasta gama de instrumentos para apoiar a cooperação com países terceiros em matéria de readmissão", segundo se lê nos documentos relativos ao Pacto.
"Dada a urgência de situações locais em vários Estados-membros, os colegisladores são convidados a alcançar um acordo político em torno dos princípios-chave do regulamento sobre gestão de asilo e migração e o adotem até final do ano", sublinha a Comissão.
Há muito aguardada, face às óbvias divergências entre os Estados-membros nesta matéria desde a crise migratória de 2015, a reforma da política migratória e de asilo da União Europeia era uma das ‘bandeiras’ da "Comissão Von der Leyen", e já deveria ter sido apresentada no primeiro trimestre do ano, mas foi adiada pela pandemia da Covid-19.