O Novo Ano Chinês celebra-se sob o signo do Dragão e começa agora com o presidente da China, Xi Jinping, a acentuar o discurso de "unidade nacional", apontando olhares sobre Taiwan.
Este sábado, dia 10 de fevereiro, milhões de pessoas preparam-se para celebrar o Ano Novo Lunar sob o signo do Dragão -, que precede ao ano do Coelho e antecede ao da Cobra.
Roupas e faixas na porta de cor vermelha, fogos de artifício, bolos e pudins são tradições que combatem suspetições e pretendem limpar as casas do azar acumulado durante o ano e trazer sorte, prosperidade, saúde e paz para os próximos 12 meses.
Desafios do Dragão para a China em 2024
A segunda maior economia do mundo está a entrar no Ano do Dragão com os bancos centrais a deixarem os investidores pouco confiantes no mercado interno, sobretudo relativamente às dúvidas sobre o alívio das taxas de juros.
Entretanto, os dados da inflação chinesa divulgados no início de fevereiro serão o próximo teste à saúde financeira, que é também atormentada por uma fraca procura de ações em bolsa e um sector imobiliário paralisado. O aumento da inflação dos preços no produtor e no consumidor no mês de janeiro sublinham a difícil recuperação do país, de acordo com a Reuters.
Um motorista de triciclo espera por clientes, Pequim | Florence Lo - Reuters
O ciclo eleitoral de 2024, em termos globais, marcará também o Novo Ano. Pelo menos 64 países, mais a União Europeia – representando cerca de 49 por cento da população mundial – deverão realizar eleições nacionais.
Reino Unido, União Europeia, Federação Russa, Indonésia, poderão influenciar a prestação do Dragão chinês, mas os olhos estão postos nos resultados presidenciais dos EUA e Taiwan.
Quem se tornar o próximo líder em Washinghton e do território há muito reivindicado pela China, deverá moldará a abordagem de Pequim à ilha autónoma que tem repetidamente ameaçado de invasão.
Prioridades de Xi Jinping para o Ano Novo
O discurso do presidente Xi Jinping, em janeiro, antecipando a entrada do novo ano, registou o objetivo claro de aumentar a confiança, entretanto em declínio, do povo chinês durante os últimos anos difíceis.
O discurso do presidente Xi Jinping, em janeiro, antecipando a entrada do novo ano, registou o objetivo claro de aumentar a confiança, entretanto em declínio, do povo chinês durante os últimos anos difíceis.
“A China será certamente reunificada”, afirmou Jinping, citado na publicação The Diplomat, destacando a ambição crescente que sugere potenciais agressões a Taiwan. Esta declaração foi feita no contexto de 2024 ser o 75.º aniversário da fundação da República Popular da China.
Foi a primeira vez que Xi Jinping articulou a “unificação” numa comunicação de Ano Novo, desde que assumiu o poder em 2014.
Xi reconheceu implicitamente os desafios que a economia enfrenta, ao mesmo tempo que aplaudiu as conquistas em indústrias-chave, incluindo veículos elétricos, baterias de lítio, produtos fotovoltaicos, aeronaves comerciais, navios de cruzeiro e telemóveis.
Após a repressão sobre as empresas de Internet, que coincidiu com a covid-19, a China redirecionou os esforços para as indústrias renováveis e tecnológicas que poderiam potencialmente levar a crescimentos do PIB nas próximas décadas, embora até agora a China tenha alcançado maior sucesso na indústria transformadora do que na inovação de ponta.
Xi mencionou que a educação, os cuidados de saúde para os idosos e o emprego dos jovens serão o foco do governo no futuro.
Pedagogia pública
Para restaurar a “confiança cultural” e o orgulho nacional, Jinping dirigiu-se à população com uma abordagem inovadora exaltando a China como uma grande civilização com uma rica herança.
As palavras de Xi consiliaram-se num discurso civilizacional e nacionalista no espaço público, fazendo ecoar as glórias do passado, ao mesmo tempo que misturou a identidade cívica com uma identidade étnico-nacional.
"O dragão simboliza bravura, progresso, vitalidade ilimitada e auspiciosidade", sublinhou o presidente durante uma recente visita a Tianjin, no norte da China, transmitindo aspirações otimistas para o futuro.
Instalação de dragão, em Pequim, China | Florence Lo - Reuters
Por sua vez, de acordo com dados do AliExpress, as vendas de brinquedos com tema de dragão chinês aumentaram 50 vezes.
Aproveitando a promoção dos produtos chineses com o tema da mítica figura a serem vendidos rapidamente no exterior, Jinpin espreita a oportunidade - num ambiente político internacional complexo -, que esses intercâmbios culturais sensibilizem os estrangeiros a obter uma melhor compreensão da cultura chinesa e da China como um todo.
Baby boom de “dragõezinhos”
Uma outra questão que a China enfrenta são as baixas taxas de natalidade e o envelhecimento da população que necessita de serviços sociais.
Uma outra questão que a China enfrenta são as baixas taxas de natalidade e o envelhecimento da população que necessita de serviços sociais.
A diminuição da população representará um desafio ao crescimento económico da China, especialmente à medida que o país passa a concentrar-se em tornar a procura interna um motor económico fundamental.
Stuart Gietel-Basten, professor de ciências sociais na Universidade Khalifa, em Abu Dhabi, argumentou à revista Time que a política social da China “pode muito bem investir em cuidados decentes aos idosos possa aumentar a taxa de fertilidade”. Acrescenta que “um maior apoio dirigido aos quatro avós, facilitaria a qualidade de vida da geração mais jovem”.
Adam Cheung, professor associado de sociologia na Universidade Baptista de Hong Kong defende que Pequim deve “adotar políticas para evitar que a natalidade caia ainda mais”.
De acordo com o Centro de Investigação de População e Desenvolvimento da China, os nascimentos no colosso asiático atingiram o pico em 2012. Nesse ano, por cada mil pessoas, nasceram 15 nados vivos, muito longe dos 6,39 de 2023.
Curiosamente, há 12 anos também o signo do Dragão marcava esse Novo Ano Lunar. Por causa das associações de esperança do dragão, as taxas de natalidade tendem a aumentar.
Ponto de venda de objetos com representações de dragões | Athit Perawongmetha - Reuters
Combinando a superstição com a mensagem positiva de Xi, acenando com um futuro económico melhorado, estima-se que 2024 dê lugar a um baby boom, uma vez que muitos casais possam estar motivados a trazer filhos dragões ao mundo.
Citado na Asia News Network, Mu Zheng, sociólogo que estuda a fertilidade da China na Universidade Nacional de Singapura, assegura: “A maternidade ainda é uma grande decisão, que envolve considerações extensas. As conotações auspiciosas do Ano do Dragão podem motivar aqueles que pretendem ter filhos a agir de acordo com isso, mas para aqueles que estão relutantes, podem não ser muito eficaz”, sobretudo a premissa de que os nascidos sob este signo do zodíaco possuem características desejáveis, como inteligência, liderança e boa sorte.
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