Ordem de suspensão de voos mergulha aeroportos dos EUA no caos

por Graça Andrade Ramos - RTP
A espera no aeroporto O'Hare de Chicago após a suspensão de voos decretada pela FAA devido a uma falha no sistema NOTAM Reuters

Problemas no sistema de notificação e alertas de pilotos obrigaram as autoridades norte-americanas a cancelar esta manhã as descolagens de todos voos domésticos por um curto período, lançando o caos nos aeroportos.

Pelas 17h00 (hora portuguesa) o site de seguimento de voos FlightAware indicava mais de 6.700 voos atrasados, de e para os Estados Unidos, e mais de mil cancelados. As administrações locais têm estado a pedir aos passageiros para verificarem as informações relativas às suas viagens, antes de se deslocarem para os aeroportos.

A hipótese de ciberataque foi afastada mas o incidente está a ser investigado.

"Dentro de umas horas hão-de perceber o que se passou", reagiu o Presidente Joe Biden, que foi informado do incidente e que falou com o Secretário dos Transportes, Pete Buttigieg.

A FAA, a agência aérea federal norte-americana, decretou a proibição de descolagem a nível nacional após verificar falhas no sistema de alerta que fornece aos pilotos informações vitais de segurança antes da descolagem.

O sistema teve de ser restaurado antes de ser dada luz verde operacional. A agência está ainda a tentar entender as causas do problema.

"A FAA ordenou que as companhias aéreas suspendessem todas as partidas domésticas até às 09:00 EST (14h00 GMT), de modo a permitir que a agência confirme a integridade das informações de voo e segurança", avançou em comunicado.
Aeroportos caóticos
Este foi o segundo grande incidente com sistemas aéreos nos EUA em três semanas, depois da companhia Southwest ter sido gravemente afetada por uma falha operacional durante o Natal.

O retomar das operações aéreas não resolveu os atrasos e cancelamentos de voos, que continuavam a suceder-se em catadupa horas depois, com as companhias aéreas a tentar resolver o problema de congestionamento.

Um dos maiores aeroportos afetados foi o de La Guardia em Nova Iorque que, pelas 10h00 locais, continuava a implementar a ordem de permanência em terra, uma hora depois desta ter sido levantada.

O site da FAA mostrava igualmente grandes atrasos em terra no Aeroporto Internacional Charlotte Douglas na Carolina do Norte, um dos maiores hubs do país.

Já o Departamento de Aviação de Chicago referiu que as paragens nos aeroportos de O'Hare e de Midway tinham sido levantadas mas que eram esperados "cancelamentos e atrasos residuais".

Também a Airlines for America, uma associação representativa das companhias aéreas, referiu que a ordem da FAA estava a causar "atrasos operacionais significativos".

As maiores empresas de aviação norte-americanas, como a United Airlines, a Delta e a American Airlines, mantiveram todas os seus aviões no chão.

Cerca de oito por cento dos voos da Southwest foram cancelados e 42 por cento sofreram atrasos.
Consequências políticas
O sistema afetado intitula-se NOTAM - Notice to Air Missions, e envia alertas aos pilotos sobre condições que podem afetar a segurança dos voos. É independente do sistema de controlo aéreo e, a par deste, constitui uma das ferramentas de segurança essenciais ao transporte aéreo. Não afeta as aterragens.

O Presidente Joe Biden pediu para ser informado diretamente quando a causa do problema for indentificada.

"Ainda não sabem o que provocou tudo. Pensam que dentro de umas horas já tenham uma boa ideia que causou a falha e nessa altura irão informar", reagiu Biden aos jornalistas.

Questionado se se teria tratado de um ciberataque, o Presidente reconheceu que "eles não sabem. Hão-de perceber".

O incidente já está a ter contudo consequências políticas, apesar da desvalorização presidencial.

O senador Ted Cruz, líder republicano do Comité do Congresso para o Comércio, Ciência e Tranportes, exigiu reformas profundas da Administração Aérea Federal.

"O público merece segurança nos céus", referiu em comunicado. "A incapacidade da FAA em manter em funcionamento um importante sistema de segurança é absolutamente inaceitável e é um exemplo da disfuncionalidade que grassa no Departamento de Transporte", acusou no mesmo texto.

"A Administração tem de explicar ao Congresso o que sucedeu e o Congresso devia implementar reformas na legislação de reautorização da FAA este ano", axigiu o senador. "Este incidente também explica por que é necessário alguém experiente com liderança comprovada em aviação para liderar a FAA", rematou.

A senadora do Partido Democrata Maria Cantwell, que lidera o mesmo Comité, afirmou que este painel irá estudar as causas que levaram à falha, sublinhando em comunicado que "o público necessita de um sistema de transporte aéreo resiliente".
Um líder questionável
A FAA tem estado a operar sem um líder permamente desde março. Phillip Washington, indicado para o cargo pelo Presidente Jor Biden, ainda espera ser ouvido e aprovado pelo Congresso.

Phillip Washington tem sido alvo de críticas devido à sua escassa experiência no setor da aviação, apesar de ser atualmente o presidente do Conselho de Administração do Aeroporto de Denver, o seu primeiro cargo de liderança na área.

A sua experiência foi obtida em organizações municipais de trânsito, em Denver e em Los Angeles, focadas em autocarros e comboios.

Em setembro foi nomeado num mandado de captura ao abrigo de uma investigação a corrupção política em Los Angeles, relacionada com favoritismo na concessão de contratos com a Autoridade Metropolitana de Trânsito de Los Angeles.
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