O presidente do Brasil reiterou esta quinta-feira a necessidade de as autoridades venezuelanas divulgarem os resultados das eleições de 28 de julho e sugeriu duas soluções para a crise política atual: um Governo de coligação ou um novo sufrágio. Mas a líder da oposição da Venezuela, que contesta os resultados eleitorais, rejeitou a proposta de Lula da Silva para que sejam realizadas novas eleições.
Lula admitiu que, desde as eleições na Venezuela, o Brasil tem estado a trabalhar com o México e a Colômbia para encontrar soluções para a crise política. Nesse sentido, o líder brasileiro sugeriu duas ideias: a formação de um Governo de coligação composto por membros do chavismo e da oposição ou a convocação de novas eleições.
"Maduro tem seis meses de mandato. Ele é o presidente, independentemente das eleições. Se ele tiver bom senso, pode até convocar novas eleições, criando um comité eleitoral com membros da oposição e permitir que observadores do mundo inteiro acompanhem", declarou na entrevista.
O presidente brasileiro garantiu que a relação com Maduro, que no passado era muito boa, "se deteriorou", como consequência da "deterioração da situação política na Venezuela", e não se quis comprometer com a situação política na Venezuela.
"O que não posso fazer é precipitar-me e tomar uma decisão. Da mesma forma que eu quero que respeitem o Brasil, eu quero respeitar a soberania dos outros países", afirmou Lula, considerando que "não é fácil nem bom um presidente dar opinião sobre assuntos internos de outros países".
A proposta para novas eleições no país não foi muito bem aceite pela líder da oposição venezuelana.
"Propor que se ignore o que aconteceu a 28 de julho [de 2024, eleições presidenciais] é um insulto ao povo venezuelano (...) As eleições já se realizaram. A soberania popular respeita-se", disse María Corina Machado, durante uma conferência de imprensa por Zoom com jornalistas da Argentina, Chile e Brasil.
"Fomos a umas eleições com as regras da tirania, as pessoas disseram que estávamos loucos porque ia haver uma fraude monumental que não íamos conseguir provar", disse a opositora que foi impedida de participar nas presidenciais após ter sido desqualificada pelas autoridades para exercer cargos públicos.
"Eu pergunto-lhes, se houver umas segundas eleições e se não gostarem dos resultados o que acontece? Vamos a umas terceiras? A umas quartas ou quintas? Até que goste".A líder opositora venezuelana rejeitou também a possibilidade de haver um Governo de coligação na Venezuela, sublinhando que "isso se tem dado em contextos democráticos, não no caso venezuelano".
"Estamos a oferecer incentivos e salvaguardas, mas numa transição para a democracia", frisou.
A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Maduro com pouco mais de 51 por cento dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia obteve quase 70 por cento dos votos.
A oposição venezuelana e diversos países da comunidade internacional denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente, o que o CNE diz ser inviável devido a um "ciberataque" de que alegadamente foi alvo.
Os resultados eleitorais têm sido contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo de mais de 2.200 detenções, 25 mortos e 192 feridos.
A proclamada vitória de Maduro para um terceiro mandato consecutivo foi rejeitada e descrita como "fraude" pela oposição e questionada por vários governos estrangeiros e grupos de controlo internacionais. Desde então, os governos do Brasil, Colômbia e México estão em contacto para ajudar a encontrar uma solução para a crise.
C/Lusa