Oposição mantém protestos. Quase mil pessoas detidas nas manifestações no Paquistão

por Inês Moreira Santos - RTP
EPA

As autoridades paquistanesas prenderam quase mil apoiantes do ex-primeiro-ministro nos protestos desta semana, depois de terem quebrado as barricadas e invadido a capital. Apesar dos confrontos, o partido de Imran Khan, que está preso há cerca de uma ano, anunciou que pretende continuar com os protestos no país para exigir a sua libertação, após as forças de segurança terem lançado uma operação violenta contra os manifestantes em Islamabad na terça-feira.

Quando os manifestantes conseguiram atravessar as barreiras de segurança, à entrada da cidade, o exército paquistanês enviou para a capital militares, antes da chegada ao Parlamento dos apoiantes do partido do ex-primeiro-ministro, na terça-feira.

“O exército do Paquistão foi mobilizado e foram dadas ordens para lidar com os malfeitores com mão-de-ferro”, divulgou a emissora estatal Rádio Paquistão, na terça-feira. “Também foram emitidas ordens claras para disparar sobre malfeitores e desordeiros à vista”.

A caminho da capital, os manifestantes entraram em confronto em vários locais com a polícia, que tentou impedi-los de avançar através de bloqueios de estradas e de gás lacrimogéneo.

As forças de segurança foram mobilizadas em grande número e “detiveram 954 manifestantes em três dias, incluindo 610 na terça-feira, quando mais de 10 mil manifestantes enfrentaram barreiras e cordões formados pelos agentes de segurança para tentar aproximar-se do distrito onde está sediado o Governo”
, declarou o inspetor-geral do Paquistão, Ali Nasir Rizvi.

“Setenta e um membros das forças de segurança ficaram feridos”, adiantou a mesma autoridade, negando ainda o uso de munição verdadeira durante a operação.
Segundo o chefe da polícia, foram apreendidas armas, incluindo espingardas automáticas e armas de gás lacrimogéneo.
O ministro paquistanês do Interior, Mohsin Naqvi, declarou que conseguiram “repelir os manifestantes” da capital. A situação foi também condenada pelo primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, que alegou que houve “um claro ataque extremista” por parte dos manifestantes.

O Movimento pela Justiça do Paquistão [Pakistan Tehreek-e-Insaf/PTI], partido de Imran Khan, cancelou na manhã desta quarta-feira os protestos que têm decorrido nos últimos dias, após uma caravana com mais de 34 mil apoiantes ter avançado para a capital e desencadeado confrontos com as forças de segurança.

O partido indicou, num comunicado, que “dada a brutalidade exercida pelas forças do Governo e o plano das autoridades para transformar a capital num matadouro para cidadãos desarmados, os protestos estão, por enquanto, suspensos”.

Neste sentido, esclareceu que o reinício das manifestações será anunciado “após análise da situação”, tendo em conta as futuras decisões judiciais relativas aos casos que Khan ainda tem pendentes nos tribunais do país.

Oposição vai continuar protestos

"O protesto vai continuar até que Imran Khan o cancele", disse o primeiro-ministro da pronvíncia de Khyber Pakhtunkhwa (no norte do Paquistão), Ali Amin Gandapur, numa conferência de imprensa na cidade de Mansehra.

“A real quantidade de vítimas [durante os protestos] está a ser confirmada, gradualmente, devido aos cortes na Internet” que afetam a capital desde domingo, quando tiveram início as mobilizações para exigir a libertação de Khan, preso desde 2023.

Não foi especificado, para já, em que zonas do país ou da cidade vão prosseguir os protestos, depois de terem sido dispersados pelas forças de segurança em Islamabad. O partido de Khan declarou que estava a suspender as mobilizações na capital, denunciando ainda centenas de mortes na repressão dos protestos em frente ao Parlamento paquistanês – o que classificou como um massacre.

Mais tarde, numa mensagem publicada na rede social X, o conselheiro de Khan, Sayed Z. Bukhari, reviu em baixo o número de mortes de manifestantes, indicando que pelo menos oito pessoas perderam a vida na operação das forças de segurança. Por seu lado, as autoridades paquistanesas confirmaram a morte de pelo menos quatro pessoas nos protestos, desde domingo.

Pelo menos cinco agentes de segurança morreram nos últimos dias nos confrontos, segundo a agência de notícias AFP.

O primeiro-ministro de Khyber Pakhtunkhwa, um dos maiores aliados de Khan, participou nas manifestações do PTI na terça-feira, nas quais também esteve presente a mulher do ex-primeiro-ministro, Bushra Bibi. "A esposa de Imran Khan e eu fomos atacados diretamente", declarou numa conferência de imprensa.

Segundo Amin Gandapur, as forças de segurança dispararam contra o seu veículo enquanto saía de Islamabad em direção ao norte do país, após a repressão dos protestos.

Imran Khan, que está preso desde 2023, esteve no poder entre 2018 e 2022 e está a ser processado em vários tribunais, principalmente por casos de corrupção ou manifestações violentas por parte dos seus apoiantes.
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