A PAI-Terra Ranka e a API, coligações de partidos guineenses, cancelaram as manifestações de rua marcadas para hoje, sexta-feira e sábado para não interferir com as festividades do Dia das Forças Armadas.
O anúncio do cancelamento foi feito hoje, durante uma conferência de imprensa, pelo líder da Plataforma Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka), Domingos Simões Pereira, e por Baciro Dja, em nome da Aliança Patriótica Inclusiva (API).
As duas coligações reuniram-se hoje, como têm feito nos últimos dias, para concertar posições e anunciar à população se as manifestações que deveriam começar hoje teriam lugar ou não.
"Enquanto líderes políticos não temos só a obrigação de demonstrar bravura, mas sobretudo temos a obrigação de conduzir o povo ao bom porto (...), deixemos que se faça a festa a 16 de novembro", afirmou Simões Pereira, que é também presidente eleito do parlamento guineense.
No sábado, em que se celebra os 60 anos da criação das Forças Armadas, com uma cerimónia em Bissau à qual são esperados convidados estrangeiros, os partidos da oposição queriam realizar manifestações de rua em todo o país.
As festividades vão marcar igualmente as celebrações oficiais do 51.º aniversário da independência da Guiné-Bissau.
As manifestações seriam no sentido de demonstrar o desagrado da oposição com o que considera de "abuso do poder e falta de democracia" no país.
Antigo primeiro-ministro e líder da Frepasna (Frente Patriótica de Salvação Nacional), um dos três partidos integrantes da API, Baciro Dja disse que as duas coligações "ponderaram muito" sobre se deviam ou não colocar a população nas ruas.
"Decidimos esperar por respeito pelos combatentes da liberdade da pátria", sublinhou Dja, antigo ministro da Defesa guineense, ressalvando, contudo, que as Forças Armadas "são subordinadas aos políticos".
Líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) que lidera a coligação PAI -Terra Ranka, Domingos Simões Pereira, defendeu que "há pessoas que trabalham" no sentido de "instrumentalizar as Forças Armadas" contra os políticos da oposição ao regime vigente no país.
Pereira realçou que as Forças Armadas "não são adversárias dos políticos", mas avisou que, a partir do 17 de novembro, as duas coligações retomarão as suas agendas que, disse, poderá passar pela convocação de manifestações.
O presidente do PAIGC destacou que os membros das duas coligações não estão contra qualquer homenagem aos militares, mas também o país não poderá aceitar que se gaste dinheiro com "festas desproporcionais", disse.
"Não é possível que quando há gente a morrer nos nossos hospitais por falta de soro estar-se a fazer uma festa onde se gastam milhões de dinheiro que é pedido lá fora em nome de Amílcar Cabral", observou Simões Pereira, referindo-se ao fundador da nacionalidade guineense.
Antes da conferência de imprensa, as duas coligações rubricaram duas cartas abertas, uma dirigida ao Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Bigaue Na Ntan, e outra endereçada ao presidente da comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Omar Toure.
Sobre a carta à CEDEAO, Domingos Simões Pereira disse tratar-se apenas de um testemunho à comunidade internacional.
"Se a comunidade internacional vier, será bem-vinda, mas se preferir não vir também cá estaremos para assumir as nossas responsabilidades e o nosso destino nas nossas mãos", defendeu Simões Pereira.