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Oposição em França promete vida muito difícil a Michel Barnier. Eleição "foi roubada" aos franceses

por Graça Andrade Ramos - RTP
Gonzalo Fuentes - Reuters

A escolha de Michel Barnier para chefiar o novo governo de França gerou um forte descontentamento nos partidos que compõem a aliança de esquerda Nova Frente Popular, que conquistou o maior número de lugares nas últimas eleições.

A presidência francesa anunciou nome de Michel Barnier esta quinta-feira, após semanas de impasse.

Jean-Luc Mélenchon, líder do A França Insubmissa, LFI, o maior partido da NFP, afirmou logo depois que a eleição foi "roubada ao povo francês".

"O presidente acabou de decidir negar oficialmente os resultados das eleições legislativas que ele próprio convocou", sublinhou Mélenchon. "A eleição foi por isso roubada ao povo francês. A mensagem foi negada".

Em vez de ser oriundo da aliança que venceu o escrutínio a 7 de julho, o primeiro-ministro será "um membro do partido que ficou em último nas eleições", acrescentou o líder do insubmissos.

"Este é agora essencialmente um governo Macron-Le Pen", acusou ainda Mélenchon, referindo-se à líder do Rassemblement National, RN, de extrema-direita, Marine Le Pen. O líder da LFI apelou ainda os eleitores a unir-se a um protesto da esquerda contra a decisão de Macron, marcado para o próximo sábado.



Esta quinta-feira, o Partido Socialista, de centro-esquerda e membro da NFP, anunciou por seu lado que "irá censurar o governo de Barnier".

"Ao recusar nomear como primeiro-ministro um membro da Nova Frente Popular, a coligação de esquerda que ganhou as eleições parlamentares, Emmanuel Macron voltou as costas a uma tradição republicana, partilhada e respeitada até agora no nosso país", referiu o partido, em comunicado.

"Michel Barnier não tem legitimidade, nem política nem republicana. Esta situação extremamente grave é inaceitável para nós, democratas. É por isto que o grupo socialista irá censurar o governo de Michel Barnier", acrescentou.
RN à espera

Como bloco, a NFP detém a maioria dos deputados, 193, mas não absoluta nem de forma a conseguir governar sem alianças ou ver aprovada uma moção de censura, o que significa que Michel Barnier poderá gozar de um período de graça, devido ao provável apoio dos 166 deputados do bloco da Aliança Juntos, criada em novembro de 2021 por Macron, a que poderão juntar-se, condicionalmente, o bloco do Rassemblement National e outros pequenos partidos.

Os próximos dias vão ser decisivos na Assembleia Nacional com a possibilidade apesar de tudo improvável do novo Governo cair ainda antes de tomar posse e quando se aproxima o prazo de entrega ao parlamento, 1 de outubro, da proposta de Orçamento do Estado 2025, como sublinha o correspondente da RTP em França, José Manuel Rosendo. 
O jovem presidente do Rassemblement National, o terceiro bloco no parlamento com 142 deputados, poderá ajudar a segurar o novo primeiro-ministro. Na rede X, Jordan Bardella afirmou que a única exigência do partido é o respeito pelos seus 11 milhões de eleitores.

"Depois de uma espera interminável, indigna de uma grande democracia, reconhecemos a nomeação de Michel Barnier como primeiro-ministro de Emmanuel Macron", reagiu.

"Iremos ajuizar o seu discurso de programa, as suas decisões orçamentais e as suas ações, com base no que demonstrar. Iremos apelar a que as maiores emergências sentidas pelos franceses - o custo de vida, a segurança e a imigração – sejam finalmente respondidas e reservamos todos os meios de ação política se não for esse o caso nas próximas semanas", avisou Bardella.

Marine Le Pen, líder parlamentar do RN e ex-candidata presidencial, esclareceu já que o partido "não irá participar em nenhum tipo de governo do senhor Barnier".

"Para o restante, ou seja, quanto às decisões fundamentais, estamos à espera para ver o que constar do discurso de política geral do senhor Barnier e de que forma ele irá conduzir os compromissos que serão necessários para o Orçamento", acrescentou.

O primeiro primeiro-ministro de Emmanuel Macron, Edouard Philippe, deixou a Michel Barnier as suas "felicitações calorosas", reconhecendo que o espera uma "tarefa dura". "Mas ele nunca teve medo das adversidades. E muitos de nós estaremos a postos para o ajudar".
Aplauso europeu
A escolha de Barnier poderá ser vantajosa para a França, que enfrenta um procedimento por défice excessivo na União Europeia, dada a experiência de Barnier a nível europeu.

Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, endereçou a Barnier "felicitações pela sua nomeação como primeiro-ministro". "Sei que os interesses da Europa e da França são queridos ao coração de Michel Barnier, como demonstra a sua longa experiência. Desejo-lhe todos os sucessos na sua nova missão".

Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, realçou "a capacidade de ouvir, respeito e transparência" do agora nomeado primeiro-ministro francês e antigo negociador da União Europeia para o Brexit, qualidades agora "ao serviço de França".

"Felicito Michel Barnier. A Europa beneficiou muito com a sua capacidade de ouvir, o seu respeito pelos outros e a sua transparência nas negociações", escreveu Charles Michel, numa publicação na rede social X (antigo Twitter).

"Desejo-lhe o maior sucesso pois mais uma vez coloca as suas qualidades ao serviço da França", adiantou o responsável belga.

com agências
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