Oposição a Maduro aposta em apelo à mobilização para as ruas venezuelanas

por Cristina Sambado - RTP
Anadolu via AFP

A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, apelou à mobilização contra o Governo de Nicolás Maduro, cuja reeleição como presidente do país continua a ser contestada nas ruas.

"Oferecemos ao regime que aceitasse democraticamente a sua derrota e avançasse com a negociação para assegurar uma transição pacífica; no entanto, optaram pela via da repressão, da violência e da mentira", escreveu María Corina Machado, principal apoiante do candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, na rede social X.
A ex-deputada pediu aos venezuelanos que se mantenham “ativos e firmes” e se mobilizem para “fazer valer a verdade”, numa referência à vitória que atribuiu ao candidato da principal coligação da oposição - a Plataforma Democrática Unida (PUD) - com 70 por cento dos votos.

Na mensagem, Machado lembrou que a oposição maioritária “luta há anos para unir” o país “em torno de valores comuns num movimento cívico de resgate da liberdade”.

Até à data, a oposição nunca tinha convocado manifestações. O seu candidato, Edmundo Gonzalez Urrutia, disse mesmo na segunda-feira que as "manifestações" do dia não estavam a contribuir para "o objetivo".A líder da oposição, María Corina Machado, declarada inelegível, foi substituída a curto prazo por Gonzalez Urrutia. Ambos estão na vanguarda do movimento de contestação do ato eleitoral, enquanto a oposição denuncia uma "fraude em massa" nas ruas.

Os oposicionistas afirmam ter provas da vitória do seu candidato e pediram ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) que publique os pormenores do escrutínio, exigindo também que os boletins de voto sejam recontados de forma transparente.

Desde segunda-feira, pelo menos 11 civis foram mortos durante as manifestações, segundo as ONG. As autoridades registaram uma 12ª morte, a de um soldado abatido a tiro. Segundo o Ministério Público, 77 funcionários públicos ficaram feridos e mais de mil pessoas foram detidas. Na quarta-feira, a ministra falou de um novo número de "16 assassínios" e de "11 desaparecimentos forçados", em particular.
OEA vai pedir mandado de captura ao TPI
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, afirmou na quarta-feira que vai pedir ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que acuse o Nicolás Maduro e emita um mandado de captura contra o presidente venezuelano pelo "banho de sangue" no país, durante as manifestações mortíferas contra a sua reeleição.
"Maduro prometeu um banho de sangue (...) e está a fazê-lo. Chegou o momento de o Tribunal Penal Internacional apresentar acusações e mandados de captura contra os principais responsáveis, incluindo Maduro", escreveu o secretário-geral da OEA no X.

É tempo de fazer justiça. Solicitaremos a apresentação dessas acusações. Por um hemisfério livre de crimes contra a humanidade. As minhas palavras no Conselho Permanente sobre os resultados do processo eleitoral na Venezuela”, acrescentou Luis Almagro.
Maduro acusa oposição de ter “sangue nas mãos”
O presidente venezuelano defendeu na noite de quarta-feira, por seu turno, que os líderes da oposição devem ser colocados “atrás das grades”, acusando-os de ter “sangue nas mãos” devido às mortes nos protestos contra os resultados eleitorais oficiais.

“Estas pessoas devem estar atrás das grades e deve ser feita justiça”, frisou Maduro, durante uma conferência de imprensa com correspondentes estrangeiros no palácio presidencial de Miraflores, a primeira em quase dois anos.

Durante uma conferência de imprensa, Maduro acusou a oposição de golpe de Estado e sabotagem do sistema eleitoral e garantiu que jamais chegará ao poder.

“O caminho da Venezuela é não deixar que o poder seja assaltado por criminosos treinados, pagos e drogados. Quantas provas mais temos de apresentar para que digam já chega? Porque temos de colocar o país em guerra com as vossas atitudes?”, questionou Maduro.
Nicolás Maduro acusou a líder da oposição Maria Corina Machado e o candidato presidencial Edmundo Gonzalez Urrutia de terem “sangue nas mãos” após protestos mortais.

"Senhor Gonzalez Urrutia, mostre a sua cara, saia do esconderijo, não seja cobarde, dona Machado (...) tem sangue nas mãos”, apontou o chefe de Estado.

“São o mal da Venezuela (…) nunca chegarão ao poder”, acrescentou.

Herdeiro do líder socialista e bolivariano Hugo Chávez, Maduro, 61 anos, no poder desde 2013, foi proclamado reeleito para um terceiro mandato até 2031, na sequência das eleições de domingo, vencidas com 51,2 por cento dos votos contra 44,2 por cento do seu adversário, de acordo com os resultados oficiais.

Na quarta-feira, centenas de apoiantes de Nicolás Maduro saíram à rua para se reunirem em torno do palácio presidencial em Caracas.

No Instagram, Maduro publicou um vídeo gravado nas ruas de Caracas, em que afirma querer “combater o fascismo e o terrorismo” e “garantir a paz nacional”.


No início do dia, Nicolás Maduro disse que estava "pronto para publicar 100 por cento" dos documentos que comprovam a sua reeleição.

A Venezuela, que foi durante muito tempo uma das nações mais ricas da América Latina, está agora esvaída, mergulhada numa crise sem precedentes: a produção de petróleo entrou em colapso, o PIB diminuiu 80 por cento em dez anos, a pobreza e os sistemas de saúde e de educação caíram em desgraça. Mais de sete milhões de venezuelanos fugiram do seu país.
Musk e Maduro trocam acusações
Maduro contra Musk, Musk contra Maduro. À distância, o bilionário norte-americano e o chefe de Estado venezuelano parecem apreciar criticar-se mutuamente, mas com a crise política na Venezuela as trocas de impressões exacerbaram-se.

Na quarta-feira, Maduro e Musk voltaram a trocar impressões à distância, com o patrão da X e da Tesla a reafirmar que "o povo votou esmagadoramente" na oposição.


Durante a conferência de imprensa no palácio presidencial de Miraflores, Maduro respondeu a Musk enquanto imitava um combate de boxe: "Vamos lutar (num ringue). Mas venham aqui ao Poliedro (ginásio de Caracas), tu e eu. Se eu te vencer, Elon Musk, aceito a tua viagem a Marte, mas tu vens comigo!”.

Na rede X, Elon Musk respondeu na quarta-feira à noite que "aceitaria" o seu convite para um combate de boxe.


Ao publicar o vídeo do discurso de Maduro, Elon Musk comentou em espanhol: "O burro sabe mais do que Maduro".

Algum tempo depois voltou à carga, novamente em espanhol: "Peço desculpa por comparar o pobre burro com Maduro. É um insulto ao mundo animal".

Há vários anos que Nicólas Maduro tem Elon Musk na mira. Chamando-lhe "arqui-inimigo", acusa agora o multimilionário de estar por detrás de "ataques contra a Venezuela" e até da "pirataria informática" de que terá sido vítima o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que declarou Maduro vencedor, mas não deu pormenores sobre os votos expressos.
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