ONU. Ucranianos privados de auxílio e torturados por médicos nas prisões russas

por RTP
Prisioneiros de guerra ucranianos libertados numa troca de detidos com a Rússia em janeiro de 2014 Presidência da Ucrânia via AFP

Os prisioneiros ucranianos são deliberadamente privados de cuidados nas cadeias da Rússia e, numa das penitenciárias, os próprios médicos participaram em sessões de tortura, revelou esta segunda-feira em Genebra uma comissão de inquérito do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas.

A comissão foi criada para investigar a violação dos direitos humanos na Ucrânia, após a invasão em larga escala por parte da Rússia em fevereiro de 2022. Havia já concluído pelo uso "sistemático" da tortura pelas forças de ocupação russas.

De acordo com a AFP, no seu relatório oral ao Conselho, esta segunda-feira, a comissão sublinhou que a vasta área geográfica e a semelhança dos métodos empregues "demonstram que a tortura foi utilizada como prática corrente e aceitável pelas autoridades russas, com um sentimento de impunidade".

Além da tortura sistemática e das violações de detidos nas prisões e de mulheres nas aldeias e vilas ocupadas pelas tropas russas, a comissão notou, em numerosos centros de detenção controlados pelas autoridades russas, "a ausência de qualquer auxílio médico adequado para aqueles que dele tinham necessidade desesperada".

"Num desses centros, os médicos penitenciários participaram mesmo nas sessões de tortura", acusou o presidente da comissão, Erik Mose
, ao apresentar o seu relatório ao Conselho.

A título de exemplo, Mose evocou os testemunhos de ex-prisioneiros ucranianos na prisão de Olenivka, na Ucrânia.
Privação de auxílio
A 29 de julho de 2022, uma explosão neste centro de detenção causou a morte a inúmeros prisioneiros ucranianos. A Rússia acusou os ucranianos de terem bombardeado a prisão. Estes, tal como os seus aliados internacionais e vários analistas, afirmaram que foi a Rússia a responsável pela explosão.

De acordo com as testemunhas, "nenhuma assistência médica imediata foi fornecida a dezenas de outras pessoas com ferimentos que colocavam a sua vida em risco", indicou Erik Mose.

Apenas os médicos militares e os próprios detidos tentaram ajudar, sublinhou o relatório.

"Viram muitas pessoas morrer nessa noite, enquanto os dirigentes da colónia penal de Olenivka ficavam a ver", acusou o relator.

As sequelas físicas e psicológicas são profundas e as necessidades quanto a saúde mental são enormes, de acordo com os testemunhos recolhidos pela Comissão.

"O medo de ficar de novo prisioneiros persegue-me. Estou fisicamente em casa mas sinto-me ainda preso mentalmente pelo traumatismo que os russos me infligiram", testemunhou um dos antigos prisioneiros torturados.

Inúmeras vítimas expressaram "a necessidade vital de que seja feira justiça" e o presidente da comissão insistiu na necessidade de continuar a recolher elementos de prova.

Erik Mose lamentou que a crise financeira que afeta as Nações Unidas tenha "afetado gravemente os efetivos do secretariado da comissão e a sua capacidade de viajar".

Sobre a violência exercida na Rússia contra os seus próprios cidadãos, o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas indicou também esta segunda-feira que "ninguém está a salvo" da repressão exercida no país.
De acordo este organismo os mecanismos de repressão por parte do Estado russo aumentaram no último ano.
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