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ONU: "Perdemos a Europa", admite Israel

por Eduardo Caetano, RTP
Os palestinianos deverão juntar-se esta sexta-feira ao Vaticano como Estado Observador das Nações Unidas DR

Cumpriram-se os piores receios de Israel quanto à posição de um tradicional e poderoso aliado europeu face à Palestina e à sua pretensão de ser aceite como Estado Observador da ONU. A Alemanha, que tradicionalmente votava contra, optou por se abster na pretensão dos territórios palestinianos. A Assembleia Geral das Nações Unidas deverá aprovar o pedido da Palestina de ser aceite no organismo como Estado-Observador, estatuto que até ao momento apenas o Vaticano usufrui, precisamente 65 anos depois de ter sido criado Israel.

Economicamente forte e dos mais influentes Estados na Europa e na União Europeia, a Alemanha era até agora um indefetível aliado de Israel no conflito de interesse que opõe este à pretensão palestiniana de um Estado independente.

Nada leva a crer que a situação se inverta e que a poderosa Alemanha deixe de apoiar o Estado de Israel, mas o facto é que a Alemanha mudou o seu sentido de voto, como temiam as autoridades israelitas poucas horas antes de se votar na Assembleia Geral das Nações Unidas o pedido das autoridades palestinianas para que a Palestina seja admitida na organização com o estatuto de Estado-Observador.

Da tradicional rejeição com um claríssimo voto contra as pretensões palestinianas, Berlim decidiu abster-se na votação desta sexta-feira. Confirmavam-se assim os temores israelitas expressos por um alto dignitário do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita quando proclamava dramaticamente que “perdemos a Europa”.

A posição do poderoso Estado teutónico influencia certamente muitas outras posições de Estados aliados europeus representando um importante apoio de Israel que assim vê reduzir os votos que esperava na Assembleia Geral e aumentar fortemente as possibilidades da Palestina ver finalmente reconhecida a sua posição e as suas aspirações no seio da importante organização internacional saída da última grande guerra mundial.

“A decisão não foi tomada ligeiramente”, afirmou o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle acrescentando que “a Alemanha comunga do objetivo de um Estado palestiniano. Fizemos campanha por esse objetivo de muitas formas mas os recentes e decisivos passos para o reconhecimento de um Estado apenas podem resultar de negociações entre israelitas e palestinianos”.

Mais logo quando se votar no Conselho Geral das Nações Unidas, dos principais membros, apenas os Estados Unidos e Israel votarão contra a pretensão israelita. A Inglaterra indicia a possibilidade de se abster, e com essa abstenção permitir a aprovação do pedido palestiniano, mas com algumas condições a saber que o novo Estado Observador não use o seu estatuto para apresentar queixas no Tribunal Internacional de Haia.

Caso veja a sua pretensão votada positivamente pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a Palestina passará a ter juntamente com o Vaticano, a possibilidade de apresentar queixas contra outros Estados Membros no Tribunal Internacional de Haia.

Israel, cuja política nos territórios ocupados e face aos territórios sob administração palestiniana é muitas vezes criticada, não apenas pelas organizações palestinianas que lutam pelo reconhecimento de um Estado palestiniano, criado em 29 de novembro de 1947, há precisamente 65 anos, aquando da criação do Estado israelita, mas também pela comunidade internacional, não vê com bons olhos esta possibilidade que se cria para os palestinianos com a aquisição do estatuto de Estado Observador.

O Estado sionista, que tem evitado condenações nas Nações Unidas graças a alianças políticas e ao apoio de Estados amigos, teme que nos meios judiciais essas influências não funcionem e possa vir a ser condenado sem apelo nem agravo.

Precisamente por temer essa possibilidade, Israel indicou uma série de represálias caso a Palestina, entenda-se o novo Estado observador, use dessa prerrogativa.

Jerusalém tem na sua mão cerca de 740 milhões de Schekel [moeda israelita] de impostos palestinianos que deverá restituir às autoridades desse Estado e ameaça não o fazer como represália, bem como admite a possibilidade de autorizar novos colonatos, política que tem sido ao longo dos anos fortemente contestada pelos palestinianos que veem os seus territórios invadidos por colonos israelitas.
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