ONU pede "paciência e vigilância" no regresso de refugiados sírios ao país

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Crianças sírias tentam atravessar a fronteira para o Líbano Mohammed Yassin - Reuters

À medida que vários países europeus estão a anunciar a suspensão dos processos de pedidos de asilo de refugiados sírios após a queda do regime de Bahsar al-Assad, a Organização das Nações Unidos (ONU) apela à "paciência e vigilância". Entre os países que já anunciaram a suspensão dos pedidos de asilo estão a Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Noruega, Dinamarca, Suécia, Suíça e Áustria. A Turquia, por sua vez, anunciou a reabertura de uma passagem fronteiriça para permitir o regresso dos refugiados sírios ao seu país.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) apelou esta segunda-feira à “paciência e vigilância” relativamente ao regresso dos refugiados sírios ao seu país após a queda do regime de Bashar al-Assad.

“O ACNUR aconselha a manter o foco na questão dos regressos”, escreve o responsável da agência, o secretário-geral da ONU, Filippo Grandi, em comunicado de imprensa, afirmando que “com a situação ainda incerta, milhões de refugiados estão a avaliar cuidadosamente o quão seguro é fazê-lo”. “Alguns estão ansiosos, enquanto outros estão hesitantes”, explica.

“Paciência e vigilância serão necessárias, enquanto se espera que os desenvolvimentos no local evoluam de forma positiva, permitindo que regressos voluntários, seguros e sustentáveis finalmente ocorram – com refugiados capazes de tomarem decisões informadas”, acrescenta.

O apelo por parte das Nações Unidas ocorre numa altura em que vários países estão a anunciar a suspensão das decisões sobre pedidos de asilo por parte de sírios.

A Alemanha, que acolhe a maior diáspora síria na União Europeia, foi dos primeiros países a anunciar esta segunda-feira que “ordenou o congelamento das decisões relativas aos processos de asilo ainda em curso” para os exilados sírios.

“O fim da tirania brutal do ditador sírio Assad é um grande alívio para muitas pessoas que foram vítimas de tortura, assassínio e terror”, disse a ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, acrescentando que muitos sírios que encontraram refúgio na Alemanha desde a grande crise migratória de 2015-2016 “têm agora finalmente a esperança de regressar à sua pátria síria e reconstruir o seu país”.

O debate sobre o regresso dos migrantes sírios foi relançado na Alemanha em plena campanha eleitoral, principalmente pela direita conservadora e extrema-direita.

O partido União Democrata Cristã (CDU) propôs mesmo que a Alemanha fretasse aviões e oferecesse mil euros a cada sírio para que regressasse a casa.
"Programa de repatriamento e deportação"
A França também anunciou esta segunda-feira que está a “trabalhar na suspensão dos processos de asilo em curso da Síria” e que uma decisão a este respeito deverá ser tomada nas próximas horas.

“Esta transição política deve permitir que os milhões de refugiados sírios no Líbano, os milhões de refugiados sírios na Jordânia, aqueles na Europa que gostariam de regressar, possam fazê-lo com total tranquilidade ”, disse o ministro francês dos Negócios Estrangeiros.

Também o Reino Unido decidiu suspender “temporariamente” a análise de pedidos de asilo de refugiados sírios "enquanto avalia a situação atual".

A Itália também anunciou que decidiu suspender os pedidos de asilo da Síria, "à semelhança de outros parceiros europeus".

Na Áustria, o Ministério do Interior anunciou que está a “preparar um programa de repatriamento e deportação para a Síria”.

“A partir de hoje, todos os procedimentos atuais [de pedidos de asilo] serão interrompidos”, declarou o ministro austríaco do Interior, Gerhard Karner. A decisão austríaca afeta cerca de 7.300 dos cerca de 100.000 sírios que vivem na Áustria, um dos países que recebeu mais requerentes de asilo na Europa.

Os casos daqueles que já obtiveram asilo também serão reexaminados e o reagrupamento familiar será também suspenso.

A Dinamarca, a Noruega e a Suécia também anunciaram a suspensão da análise de pedidos de asilo de sírios devido à instabilidade que se vive no país.
Turquia reabre fronteira
A Turquia, por sua vez, anunciou esta segunda-feira que vai reabrir uma passagem fronteiriça com a Síria, encerrada desde 2013, para permitir o regresso seguro e voluntário dos milhões de migrantes sírios que estão refugiados no seu país.

“Para evitar engarrafamentos e facilitar o trânsito, estamos a abrir o posto fronteiriço de Yayladagi”, disse o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, após uma reunião de gabinete em Ancara.

"Acredito que os fortes ventos de mudança que sopram na Síria beneficiarão todos os sírios, especialmente os refugiados”, disse o presidente turco. “À medida que a Síria ganhar estabilidade, os regressos voluntários também aumentarão. O desejo dos sírios de regressar à sua terra natal serão cumpridos", garantiu.

Erdogan acrescentou que a Turquia está pronta para apoiar a reconstrução da Síria, mas sublinhou que não iria permitir que novos elementos terroristas surgissem nas suas fronteiras. A Turquia acolhe cerca de três milhões de refugiados sírios, sendo o país do mundo que mais recebeu refugiados que fugiram do país durante a guerra civil.

Os rebeldes declararam este fim de semana terem tomado o controlo da capital da Síria, Damasco, levando à queda do regime de Bashar al-Assad, que esteve 24 anos no poder.

A ofensiva relâmpago foi lançada a 27 de novembro e liderada pelo grupo islâmico Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham ou HTS, em árabe), juntamente com outras fações apoiadas pela Turquia.

Bashar al-Assad fugiu para a Rússia e o ex-primeiro-ministro sírio, Mohammed Jalali, disse esta segunda-feira que aceitou entregar o poder aos rebeldes.

c/agências
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