A ONU pede à comunidade internacional fundos no montante de quase 45 mil milhões de euros para prestar ajuda humanitária crítica a 190 milhões de pessoas em 2025, numa altura em que "o mundo está em chamas".
O apelo às doações é feito no tradicional "panorama humanitário global", que as Nações Unidas publicam em dezembro de cada ano, com uma avaliação anual das necessidades humanitárias a nível mundial e os recursos reclamados para apoiar os mais carenciados, e que será apresentado hoje em Genebra pelo Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).
De acordo com as estimativas da ONU, 305 milhões de pessoas em todo o mundo necessitarão de assistência humanitária no próximo ano, e o apelo para fundos num montante global de 47 mil milhões de dólares (cerca de 44,6 mil milhões de euros) é feito já com base em "planos de resposta cuidadosamente priorizados", e que visam prestar ajuda crucial a 190 milhões de pessoas em 32 países e nove regiões de acolhimento de refugiados.
No "panorama humanitário global" hoje publicado, a ONU, comentando as várias crises em curso, argumenta que "o mundo está em chamas", pois "os conflitos armados estão a intensificar-se em termos de frequência e brutalidade", obrigando quase 123 milhões de pessoas a fugir das suas casas, ao mesmo tempo que "as catástrofes provocadas pelo clima estão a devastar comunidades, a devastar sistemas alimentares e a provocar deslocações em massa".
"Entretanto, as crises mais antigas continuam por resolver, com o apelo humanitário médio a prolongar-se atualmente por uma década", assinala o OCHA, dirigido desde 18 de novembro passado pelo britânico Tom Fletcher, o novo subsecretário-geral das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários e Coordenador da Ajuda de Emergência.
Défice de financiamento continua
Tal como sucedeu no ano anterior, verifica-se um grande défice de financiamento para a prestação de ajuda humanitária, com o OCHA a sublinhar hoje que, "apesar da generosidade de longa data dos doadores, os défices de financiamento persistem", apontando que, "em novembro de 2024, apenas 43% dos apelos (a doações) de 50 mil milhões de dólares (47,5 milhões de euros) para esse ano tinha sido satisfeito", tendo este subfinanciamento "consequências bastante graves".
A ONU aponta, no entanto, que "o obstáculo mais importante para a assistência e a proteção das pessoas em conflitos armados é a violação generalizada do direito internacional humanitário", sublinhando que "2024 é já o ano mais mortífero para trabalhadores humanitários", sendo que "a grande maioria das vítimas são trabalhadores humanitários nacionais".
"O sofrimento por detrás dos números é ainda mais inconsciente por ser causado pelo homem. As guerras em Gaza, no Sudão e na Ucrânia são marcadas pela ferocidade e intensidade da matança, pelo completo desrespeito pelo direito internacional e pela obstrução deliberada do esforço do nosso movimento humanitário para salvar vidas", declarou que Tom Fletcher, .
"No entanto, apesar destes desafios, as agências humanitárias chegaram a quase 116 milhões de pessoas em 2024, prestando serviços vitais de alimentação, abrigo, cuidados de saúde, educação e proteção", assinala o OCHA.