É um coro que não se ouve muitas vezes. Israel costuma apontar o dedo ao anti-semitismo do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmmoud Abbas. Desta vez, teve o apoio de países ocidentais e da própria ONU.
"Aparentemente, um negacionista será sempre um negacionista", reagiu na rede Twitter o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Neanyahu. "Já é tempo que desapareça", acrescentou.
As declarações de Mahmmoud Abbas foram proferidas segunda-feira à noite e perante jornalistas, no Parlamento da Organização para a Libertação da Palestina, OLP, em Ramallah, Cisjordânia.
"Desde o século XI até ao Holocausto que se deu na Alemanha, os judeus que viviam na Europa do ocidente e do oriente foram o alvo de massacres a cada 10 ou 15 anos. Mas porque é que isto sucedeu?", inquiriu Abbas.
Ele próprio deu logo depois a resposta, citando em seguida "três livros" escritos por judeus para apoiar a sua tese.
"Eles dizem, porque nós somos judeus", referiu. Só que, acrescentou Abbas, a "hostilidade contra os judeus não se deve à sua religião, mas antes à sua função social", especificando que se referia "às suas funções sociais ligadas aos bancos e aos (empréstimos) com juros".
Protesto geral do Ocidente
Para David Friedman, embaixador americano em Israel e ele próprio judeu, Abbas "caiu mais baixo do que nunca".
O enviado especial da ONU para o Médio Oriente, Nickolay Mladenov, o presidente palestiniano repete "certos insultos anti-semitas entre os mais desprezíveis".
Abbas contestou igualmente a ligação milenar reivindicada pelos judeus com a "terra de Israel", afirmando que o moderno Estado de Israel resultou há 70 anos de um projeto "colonial" encorajado pelos europeus para se livrarem dos judeus.
"O anti-semitismo de Abou Mazem (o apelido de Abbas) não fica a dever nada ao de Goebbels", acusou o ministro israelita da Segurança Interna, Guilad Erdan, comparando o presidente palestiniano ao ministro da propaganda do líder nazi Adolf Hitler.
A União Europeia e o enviado da ONU consideraram "inaceitáveis" as palavras de Abbas sobre as origens do Holocausto, a legitimidade de Israel e os laços históricos e religiosos entre os judeus e a Terra Santa.
Mladenov rejeitou-as mesmo como "terorias da conspiração".
"Ataque orquestrado"
Numa primeira reação palestiniana ao coro de protestos, o alto responsável Saëb Erekat afirmou-se "chocado" pelo que qualificou como "ataque orquestrado por Israel no mundo para acusar o presidente Abbas de anti-semitismo".
"Abbas repetiu muitas vezes que respeita a fé judaica e que o nosso problema é com aqueles que ocupam a nossa terra", acrescentou Erekat em comunicado.
Em junho de 2016, o presidente da Autoridade Palestiniana afirmou perante o Parlamento Europeu que os rabis pediram ao Governo israelita para "envenenar a água para matar os palestinianos". Uma acusação tida como a versão moderna de uma acusação medieval contra os judeus e que encostou Abbas às cordas.
"A Palestina é o berço das três religiões monoteístas e nós rejeitamos os ataques contra todas as religioes", acabou por dizer Abbas, afirmando ter interpretado mal informações publicadas na imprensa.
Abbas fragilizado
Israel afirma habitualmente que o conflito israelo-palestiniano só não se resolve porque as comunidades políticas muçulmanas recusam aceitar um Estado judeu sob qualquer tipo de fronteiras. A União Europeia e a ONU sublinharam esta quarta-feira que as palavras de Abbas nao servem a causa do estado independente a que aspiram os palestinianos.
As relações entre Israel e as autoridades palestinianas estão a viver um momento particularmente hostil numa história turbulenta. Há mais de oito anos que Abbas e Netanyahu não se reúnem com resultados substanciais.
Abbas, de 82 anos, cortou igualmente relações com os Estados Unidos, depois do presidente Donald Trump, ter decidido transferir a embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, reconhecendo implicitamente o direito de Israel a assumir a cidade como sua capital.
A posição politica de Abbas é por outro lado cada vez mais fragilizada. Eleito em 2005 para um mandato de quatro anos, mantém-se no cargo já que desde então não voltaram a realizar-se eleições. As relações entre a OLP e o movimento islamita Hamas, que controla a Faixa de Gaza, mantêm-se incertas.
C/agências