O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, defendeu hoje que a incursão do Exército israelita na zona desmilitarizada dos Montes Golã sírios viola o acordo territorial entre ambos os países, datado de 1974.
"Acreditamos que isto será uma violação do acordo de 1974, e os acordos não devem ser violados", indicou o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, numa conferência de imprensa na sede da ONU em Nova Iorque.
O Exército israelita confirmou hoje que tomou a parte síria do Monte Hermon, dentro da zona desmilitarizada, após a queda do regime do Presidente sírio, Bashar al Assad, e a tomada de Damasco pelos insurgentes islâmicos sírios.
Fontes do Governo israelita indicaram mais tarde que as suas tropas penetraram no máximo três quilómetros desde a fronteira.
Israel conquistou parte dos Montes Golã à Síria durante a guerra israelo-árabe de 1967, antes de anexar este território em 1981, ato que não é reconhecido pela ONU.
O ministro da Defesa israelita, Israel Katz, garantiu que não tem intenção de interferir nos assuntos internos do país vizinho e pediu aos habitantes de cinco cidades sírias localizadas na zona desmilitarizada que permaneçam nas suas casas.
Embora Israel não o tenha confirmado oficialmente, os meios de comunicação sírios e grupos de ativistas relatam desde domingo que aviões israelitas estão a bombardear alvos militares do regime de Assad em Damasco, incluindo aeroportos militares e armazéns de armas.
Por sua vez, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou hoje que a parte dos Golãs sírios ocupada e anexada por Israel pertence ao seu país "para a eternidade".
Falando numa conferência de imprensa em Jerusalém, Netanyahu disse que agradeceu ao Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, por reconhecer a anexação durante o seu primeiro mandato (2017-2021).
"Hoje, todos compreendem a importância crítica da nossa presença nos Golã, e não no sopé dos Golã", disse Netanyahu.
"Os Golã farão parte do Estado de Israel para a eternidade", acrescentou.
Os Estados Unidos disseram hoje que esperam que a incursão israelita na zona-tampão dos Golã, na Síria, seja "temporária".
"Esta é uma medida temporária que eles tomaram em resposta às ações do exército sírio para se retirar desta área. Agora, o que queremos ver, em última análise, é que este acordo seja totalmente respeitado e garantiremos que Israel o faça", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, aos repórteres, referindo-se ao avanço das tropas israelitas.
Depois de uma ofensiva relâmpago iniciada pela oposição ao regime, os rebeldes declararam este fim de semana a capital da Síria, Damasco, livre de Bashar al-Assad, que esteve 24 anos no poder.
A ofensiva foi realizada em menos de duas semanas por uma coligação liderada pelo grupo islâmico Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, em árabe), juntamente com outras fações apoiadas pela Turquia.
A Jordânia e o Egito condenaram hoje o envio de soldados israelitas para a zona-tampão anteriormente desmilitarizada nos Montes Golã, na fronteira entre Israel e a Síria, após a queda do regime de Bashar al-Assad.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, informou que a entrada de soldados em território sírio representa "uma violação do direito internacional", acrescentando que a "estabilidade e segurança" na Síria faz parte dos "interesses estratégicos" de Amã.
As palavras de Safadi surgem depois de o Governo israelita ter ordenado ao Exército que concluísse a consolidação do controlo da zona-tampão criada em território sírio, depois de as tropas israelitas terem assumido o controlo do lado sírio da montanha Hermon, no domingo.
O chefe da diplomacia da Jordânia sublinhou que o seu Governo "espera que a Síria regresse à calma e à ordem para que os refugiados possam regressar (às suas casas)", antes de acrescentar que o Rei Abdullah II deu instruções para "prestar apoio e assistência à Síria para a reconstrução das suas instituições".
No mesmo sentido, o primeiro-ministro jordano, Jafar Hasan, explicou que a Jordânia "sempre destacou ao longo destes anos a necessidade de alcançar uma solução política que ponha fim ao sofrimento dos irmãos sírios, que preserve a unidade da Síria e que consolide a segurança, a estabilidade e a soberania em todo o território" sírio.
Também o Egito condenou a "continuação da ocupação do território sírio" por Israel e alertou que se trata de uma "tentativa de forçar uma nova realidade no terreno", segundo frisou o Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio num comunicado.
A diplomacia egípcia considera que a decisão de Israel constitui uma "clara ocupação" do território sírio e, por isso, uma "flagrante violação da soberania" do país.
O Egito pediu ao Conselho de Segurança da ONU e às "potências internacionais" que assumam as suas responsabilidades e "adotem uma posição firme sobre os ataques de Israel contra a Síria, para que a soberania de todo o seu território seja garantida".