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Guerra na Ucrânia. A evolução do conflito ao minuto

ONU aprova resolução responsabilizando Rússia por crise na Ucrânia

por Lusa

A Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou hoje, com uma esmagadora maioria de 140 votos, uma resolução responsabilizando a Rússia pela crise humanitária na Ucrânia devido à guerra.

A resolução, apresentada pela França e pelo México e apoiada pela Ucrânia, obteve 140 votos a favor, cinco contra e 38 abstenções, dos 193 Estados-membros das Nações Unidas.

Votaram contra este texto a Rússia, Bielorrússia, Síria, Coreia do Norte e Eritreia, e entre os países que se abstiveram estão Angola, Moçambique, Guiné-Bissau ou China.

Portugal, Cabo Verde, Brasil e Timor-Leste votaram a favor e o voto da Guiné Equatorial não foi registado, segundo o placar da votação apresentado na Assembleia-Geral.

A resolução lamenta as "terríveis consequências humanitárias" da agressão da Rússia, que diz ser "numa escala que a comunidade internacional não vê na Europa há décadas". Lamenta os bombardeamentos, ataques aéreos da Rússia a cidades densamente povoadas, incluindo à cidade de Mariupol, e exige acesso irrestrito à ajuda humanitária.

Além da questão humanitária, a resolução hoje aprovada na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, "exige" da Rússia um fim "imediato" da guerra na Ucrânia.

O embaixador da Rússia junto da ONU, Vasily Nebenzya, classificou esta resolução como "outro `show` político anti-russo, desta vez ambientado num contexto supostamente humanitário".

Nebenzya alertou na quarta-feira que a adoção deste projeto de origem franco-mexicano "tornará uma soluação para a situação na Ucrânia mais difícil", uma vez que encorajará os negociadores ucranianos e irá "estimulá-los a manter a atual posição irrealista, que não está relacionada com a situação no terreno, nem com a necessidade de atacar as causas profundas" da ação militar da Rússia.

Além desta resolução de origem franco-mexicana, a Assembleia-Geral das Nações Unidas tinha ainda sob avaliação uma outra resolução humanitária proposta pela África de Sul, que, por sua vez, optava por deixar de fora qualquer responsabilização de Moscovo pela guerra, o que levou o projeto a ser duramente criticado por não identificar o agressor.

Nesse sentido, a resolução da África do Sul não reuniu sequer apoio suficiente para ir a votos, após apelos da Ucrânia para que isso não acontecesse.

O embaixador da Ucrânia junto da ONU, Sergiy Kyslytsya, afirmou que o texto da África do Sul "nunca foi produto de consultas com a Ucrânia, nem é produto de consultas inter-regionais", ao contrário da resolução hoje aprovada.

"É tinta fresca na estrutura mofada e podre da Assembleia, onde a tinta não é realmente tinta, mas o sangue de crianças, mulheres e defensores ucranianos", disse, exaltado, Sergiy Kyslytsya, sobre a resolução proposta pela África do Sul, frisando que esse projeto foi promovido pela própria Rússia.

Vários diplomatas comemoraram a aprovação da da resolução franco-mexicana, como a norte-americana Linda Thomas-Greenfield, que salientou que "mais uma vez, o mundo permaneceu unido diante da invasão injustificada e não provocada da Ucrânia pelo Presidente russo, Vladimir Putin".

"Juntos, pedimos a proteção de todos os civis que fogem do conflito e medidas para mitigar o aumento da insegurança alimentar causada por essa guerra sem sentido. E juntos, reafirmamos a Carta da ONU. (...) Como o Presidente [dos EUA, Joe] Biden afirmou claramente, Vladimir Putin não verá a vitória na Ucrânia. E vimos hoje que ele também não a tem aqui em Nova Iorque", disse a embaixadora.

Questionada por jornalistas sobre o eventual impacto no terreno da aprovação desta resolução, Linda Thomas-Greenfield disse não ter dúvidas de que esta "encorajará o povo ucraniano" e levará mais ajuda humanitária a esses cidadãos.

A diplomata disse ainda não poder haver lugar para a neutralidade nesta causa, referindo-se às 38 abstenções que a resolução obteve.

A votação de hoje segue-se a uma derrota esmagadora da Rússia também no Conselho de Segurança da ONU, que na quarta-feira levou a votos uma resolução que reconhecia as crescentes necessidades humanitárias da Ucrânia - mas sem mencionar qualquer responsabilidade nessa guerra que deixou milhões de ucranianos sem comida, água e abrigo.

A 02 de março, por iniciativa da União Europeia, a Assembleia-Geral da ONU aprovou um primeiro texto condenando a Rússia por ter invadido a Ucrânia há um mês, em 24 de fevereiro.

A resolução foi descrita como "histórica", por ter obtido 141 votos a favor, 35 abstenções e apenas cinco votos contra.

Contudo, vários diplomatas recordaram na ONU que nada foi feito pelo Kremlin desde então, frisando que os ataques a civis até aumentaram.

A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 29.º dia, causou um número ainda por determinar de mortos civis e militares e, embora admitindo que "os números reais são consideravelmente mais elevados", a ONU confirmou hoje pelo menos 1.035 mortos e 1.650 feridos entre a população civil.

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