O enviado da ONU ao Médio Oriente, Tor Wennesland, exortou hoje ao "estabelecimento de uma nova data para as eleições" legislativas palestinianas após o adiamento do escrutínio anunciado na quinta-feira pelo presidente palestiniano, Mahmoud Abbas.
Em comunicado, Wennesland considerou que seria "um passo importante" para "assegurar ao povo palestiniano que as suas vozes são escutadas", e insistiu no "prosseguimento da via democrática" apesar da "deceção" de quem pretendia votar "após quase 16 anos sem eleições".
"A celebração de eleições transparentes e inclusivas em todo o território palestiniano ocupado, incluindo Jerusalém Leste" é ainda "fundamental para renovar a legitimidade e credibilidade das instituições", acrescentou o enviado da ONU, ao alertar que "um prolongado período de incerteza corre o risco de agravar a frágil situação" de impasse.
Na quinta-feira, Abbas adiou para uma data indeterminada as legislativas de 22 de maio, devido à recusa de Israel em permitir que se exerça o voto em Jerusalém Leste, sob o ocupação e anexação israelita.
O adiamento suspende um processo eleitoral que o dirigente da Autoridade Palestiniana tinha anunciado em janeiro passado, ao convocar eleições em Jerusalém Leste, Cisjordânia e Faixa de Gaza após 15 anos sem tomar essa decisão.
Analistas citados pela agência noticiosa Efe consideram que Abbas utilizou o pretexto da proibição israelita para o exercício do voto em Jerusalém Leste como desculpa para evitar um escrutínio que o seu partido, Fatah, provavelmente se arriscaria a perder.
A Fatah apresentava-se a estas legislativas cindida em três listas separadas, e a que integra os fiéis de Abbas teria poucas hipóteses de vitória face a forças rivais, em particular o Hamas.
A organização islamita, que na prática governa a Faixa de Gaza, condenou o atraso referindo-se a um "golpe de Estado" e a uma violação do acordo alcançado entre as diversas fações para que fosse respeitado o calendário inicialmente previsto.
O Hamas promoveu hoje diversos protestos em Gaza, e reiterou que a "suspensão das eleições" contraria a "vontade do povo palestiniano".
Face à atual situação, Wennesland solicitou "a todas as partes para manterem a calma" e exortou "os líderes de todas as tendências a tomar medidas para reduzir tensões e criar condições para o reinício do processo eleitoral".
Ainda hoje, Josep Borrell, alto representante para a política externa e de segurança da União Europeia, qualificou de "profundamente dececionante" o adiamento das legislativas palestinianas.