Um relatório da ONU, divulgado esta segunda-feira, mostra que o mundo está ainda muito longe da meta no combate às alterações climáticas. Segundo o relatório, os planos nacionais atuais para limitar as emissões de carbono mal conseguiriam diminuir a poluição até 2030.
“As conclusões do relatório são gritantes, mas não surpreendentes”, disse Simon Stiell, secretário executivo da ONU para Mudanças Climáticas.
Os planos atuais combinados, segundo a ONU, indicam que as emissões de CO2 apenas diminuiriam 2,6% até 2030, em comparação a 2019. O valor está muito aquém da redução de 43% que os cientistas dizem que será necessária até ao final desta década para manter o mundo no caminho para atingir zero carbono líquido até 2050.
“Os planos climáticos nacionais atuais estão a quilómetros de distância do que é necessário para impedir que o aquecimento global paralise todas as economias e destrua milhares de milhões de vidas e meios de subsistência em todos os países”, alerta Stiell numa declaração.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas considera que as emissões de gases de efeito estufa precisam de ser reduzidas em 43% até 2030 e em 60% até 2035 em comparação com os níveis de 2019. “Isso é fundamental para limitar o aquecimento global a 1,5°C neste século para evitar os piores impactos climáticos”, alerta Stiell. “Cada fração de grau importa, pois os desastres climáticos pioram rapidamente”, salientou.
Concentração de gases de efeito de estufa atinge recorde em 2023
O relatório foi publicado no mesmo dia em que a Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou que as concentrações de gases de efeito de estufa atingiram um recorde o ano passado.
Segundo a organização, os níveis dos três principais gases com efeito de estufa – dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) – aumentaram novamente no ano passado, o que conduzirá inevitavelmente a aumentos de temperatura nos próximos anos.
A agência meteorológica e climática da ONU observou, em particular, que o CO2 está a acumular-se mais rapidamente do que nunca na atmosfera, com um aumento de mais de 10% em duas décadas.
"Mais um ano, outro recorde. Isto deve soar o alarme entre os responsáveis pelas tomadas de decisões. Estamos claramente aquém da meta do Acordo de Paris", declarou Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.
O aumento das concentrações de CO2 o ano passado foi provocado, em parte, pelos incêndios recorde no Canadá e ao início do evento climático El Niño, o que contribui para as emissões contínuas de combustíveis fósseis.
Para além disso, os cientistas da OMM também dizem ter encontrado evidências de que, à medida que o mundo fica mais quente, as árvores não conseguem absorver o mesmo nível de CO2 que antes.
Tudo isto cria um ciclo vicioso. O aumento de incêndios florestais faz libertar mais emissões de carbono para a atmosfera, enquanto as florestas e os oceanos mais quentes estão a absorver menos CO2. Como resultado, mais CO2 permanece na atmosfera e o aquecimento global acelera.
“Isto é mais do que apenas estatísticas. Cada parte por milhão e cada fração de grau de aumento de temperatura tem um impacto real nas nossas vidas e no nosso planeta”, alerta Saulo.
A ONU apela, por isso, a que os países apresentem planos climáticos “mais ousados” até à primavera do próximo ano. Estes planos serão um dos temas a serem discutidos na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas deste ano (COP29), que decorre de 11 a 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão.