"Os sinais de alerta multiplicam-se". A afirmação é da Celeste Saulo, secretária-Geral da organização da ONU para a Meteorolgia OMM, que manifestou hoje a sua preocupação numa conferência de imprensa. "Estamos a assistir a um agravamento das precipitações extremas, das inundações e das secas (...) Estamos perante situações cada vez mais difíceis, em que a água ou é demasiado abundante ou demasiado escassa", constatou. "No contexto das alterações climáticas, a água dá-nos uma amostra das mudanças que estão para vir", alertou. No entanto, "não estamos a tomar as medidas urgentes que são necessárias".
Os rios atingiram maior "nível de seca" dos últimos 33 anos
Nos últimos meses, vários países têm assistido a fenómenos hidrológicos extremos relacionados com inundações, por exemplo, a
tempestade Boris na Europa Central, o
tufão Yagi no Sudeste Asiático ou ainda o
furacão Helene nos EUA. Sabe-se atualmente que quanto mais quente o planeta ficar, maior será o risco de chuvas mais intensas.
A Organização Mundial de Meteorologia alerta para as consequências do
aumento das temperaturas: o agravamento das secas e da escassez de água. Cerca de 3,6 mil milhões de pessoas "não têm acesso suficiente à água
durante pelo menos um mês por ano", explica a OMM. De acordo com a
organização onusiana UN-Water, este número poderá aumentar para mais de
cinco mil milhões em 2050.
De acordo com o
relatório,
os rios de todo o mundo atingiram em 2023 - o ano mais quente de que há registo -
um nível de seca sem precedentes "o mais baixo dos últimos trinta e três anos", anunciando quebras preocupantes nos recursos hídricos disponíveis para as pessoas, a agricultura e os ecossistemas.
"O sul dos Estados Unidos, a América Central, a Argentina, o Uruguai, o
Peru e o Brasil foram atingidos por uma seca generalizada, que provocou
uma perda de três por cento do produto interno bruto na Argentina e os níveis de
água mais baixos jamais registados no Amazonas e no lago Titicaca",
aponta a organização.
O famoso rio Amazonas, no norte do Brasil, enfrenta atualmente uma "situação crítica de escassez de água" devido à seca histórica que afeta o país, registando atualmente descidas de 80 a 90 por cento do seu caudal em alguns locais.
Os glaciares sofreram a maior perda de massa dos últimos 50 anos
Nas últimas cinco décadas, os glaciares sofreram a maior perda de massa jamais registada. De acordo com dados preliminares do relatório da Organização Mundial de Meteorologia, relativos ao período de setembro de 2022 a agosto de 2023, os glaciares perderam em dois anos consecutivos mais de 600 gigatoneladas de água, a maior perda alguma vez observada.
"O degelo e os glaciares ameaçam a segurança hídrica a longo prazo de
muitos milhões de pessoas", avisou a secretária-Geral da OMM. O degelo extremo verificou-se sobretudo na América do Norte e nos Alpes europeus, em particular nos alpes suíços onde os glaciares sofreram uma perda de cerca de dez por cento do seu volumen nos últimos dois anos.
O relatório da OMM da Organização Mundial de Meteorologia (OMM) apresentado esta segunda-feira, na sede da organização em Genebra, visa "promover uma melhor monitorização, partilha de dados, colaboração transfronteiriça e medidas para avaliar a situação”, explicou Celeste Saulo. "Precisamos de agir com urgência", instou.