ONU acusa forças sírias e rebeldes de crimes de guerra

por RTP
Bombeiros tentam extinguir o incêndio que se seguiu à explosão de uma bomba junto ao hotel Dama Rose em Damasco, onde estão alojados observadores das Nações Unidas. O atentado ocorreu poucas horas antes da divulgação de um relatório da ONU que acusa tanto o governo como os rebeldes sírios de terem cometidos crimes de guerra e contra a humanidade Agência de noticias síria SANA, EPA

As forças do governo sírio e as milícias Shabbiha, suas aliadas, cometeram crimes de guerra e contra a humanidade, incluindo tortura e assassínios, afirmam investigadores das Nações Unidas para os direitos humanos. Os rebeldes sírios, que combatem o regime de Bashar al-Assad, também cometeram crimes de guerra, mas as violações “não atingiram a gravidade, frequência e escala” das que foram cometidas pelo exército e pelas forças de segurança, lê-se num relatório da comissão independente de inquérito divulgado esta quarta-feira em Genebra.

“A comissão encontrou fundamentos razoáveis para concluir que as forças governamentais sírias e a Shabbiha cometerem os crimes contra a humanidade de assassínio e tortura, crimes de guerra e violações grosseiras da lei internacional dos direitos humanos e da lei humanitária internacional” , pode ler-se no relatório da comissão, nomeada pelo Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas.
Crimes com envolvimento "ao mais alto nível"
Os investigadores da ONU acusam o governo sírio e a milícia sua aliada de terem matado mais de 100 civis na aldeia de Houla em maio, sendo que quase metade das vítimas foram crianças, e afirmam que os assassínios, execuções extrajudiciais, torturas, violência sexual e ataques indiscriminados “indicam o envolvimento aos mais altos níveis das forças armadas e de segurança e do governo”.

No relatório final apresentado na sede do Conselho em Genebra, o painel de inquérito presidido pelo diplomata brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro conclui que os rebeldes também cometeram crimes de guerra, incluindo assassínios, execuções extrajudiciais e torturas, mas com menor frequência e escala.
"Guerra civil declarada"
A comissão conclui que o conflito sírio se transformou gradualmente “numa guerra civil declarada”, que, segundo os investigadores envolve “táticas mais brutais e novas capacidades militares de ambos os lados”.

De salientar que o painel de especialistas, nomeado para investigar os abusos dos direitos humanos na Síria, quase não teve acesso ao país, e só Paulo Pinheiro foi autorizado a deslocar-se a Damasco.

A maior parte do relatório de 102 páginas, que cobre o período entre 15 de fevereiro e 20 de julho, foi feito a partir de entrevistas, levadas a cabo a refugiados sírios fora do país.

O painel realizou 1062 entrevistas, mas o relatório salienta que a investigação foi prejudicada pelo facto de os investigadores não terem podido desempenhar o seu mandato da ONU no interior da Síria.
Explosão em Damasco antecede divulgação do relatório da ONU
A divulgação das conclusões do inquérito teve lugar poucas horas depois da explosão de uma bomba na capital síria, junto a um hotel onde estão hospedados observadores das Nações Unidas. O engenho estava preso a um camião-cisterna e feriu pelo menos três pessoas.

Ativistas sírios dão também conta da ocorrência de combates perto do quartel-general do governo e da embaixada iraniana, que se situam ambos em Damasco, bem como confrontos em diversas partes da Síria.

Segundo as mesmas fontes, mais de 20.000 pessoas foram mortas desde o início da revolta na Síria, que nasceu inspirada pelas outras insurreições da chamada “primavera árabe” contra os regimes autocráticos da região.
Tópicos
PUB