ONG venezuelana contabiliza número de presos políticos mais elevado no século XXI

por Lusa

A organização não-governamental (ONG) venezuelana Fórum Penal (FP) denunciou hoje que estão detidas no país por motivos políticos 1.867 pessoas, o número mais elevado no século XXI.

Na última semana, adianta a FP, registaram-se 34 novas detenções e um dos detidos foi libertado, enquanto mais de nove mil pessoas continuam "submetidas arbitrariamente" a restrições à liberdade.

"Registámos e qualificámos o maior número de presos políticos conhecido na Venezuela, pelo menos no século XXI. Continuamos a receber e a registar os detidos", adianta o FP na rede social X.

Segundo o FP, 1.637 presos políticos são homens e 230 mulheres, e 1.708 são civis e 159 militares. Sobre as idades, 1.799 são adultos e 68 adolescentes com idades compreendidas entre 14 e 17 anos.

Do total de presos políticos, 151 foram condenados e 1.716 aguardam julgamento.

"Desde 2014 registaram-se 17.577 detenções políticas na Venezuela. O FP assistiu gratuitamente mais de 14.000 detidos, hoje excarcerados, e outras vítimas de violações aos seus direitos humanos", refere.

As mães e outros familiares de vários adolescentes detidos após as eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela têm denunciado que os jovens têm sido submetidos a torturas nos centros de detenção.

As torturas tiveram lugar na sede da Polícia Nacional Bolivariana (PNB), em Caracas, também conhecida como "Zona 7", e na Casa de Justiça 431, em El Cementerio, e teriam como propósito obrigar os adolescentes a gravar vídeos dizendo que foram pagos por líderes opositores para que protestassem contra os resultados eleitorais.

"Os adolescentes dizem que lhes davam choques elétricos, que há uma coisa que chamam `capuz de cebola`, que consiste em pôr um saco na cara com gás lacrimogéneo", denunciou Theany Urbina, mãe de um dos detidos, Miguel Urbina, de 16 anos.

Em declarações aos jornalistas, insistiu que o filho não é um terrorista, enquanto várias outras mães exigiam que os seus filhos sejam libertados.

Os familiares denunciam que vários adolescentes foram retirados das suas casas por funcionários das forças de segurança, sem mandado de um tribunal e durante várias rusgas em bairros populares de Caracas.

Aos jornalistas, Dionexis García explicou que o seu irmão, o adolescente Diosmer Mejías García, foi levado de casa e tem agora uma bala de borracha alojada no corpo, não recebendo atenção médica.

Os jovens detidos, segundo os familiares, são acusados de "terrorismo e incitamento ao ódio".

A Venezuela realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Nicolás Maduro com pouco mais de 51% dos votos.

A oposição venezuelana contesta os dados oficiais e alega que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia -- atualmente exilado em Espanha -, obteve quase 70% dos votos.

Oposição e muitos países denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente.

Os resultados eleitorais foram contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo, segundo as autoridades, de mais de 2.400 detenções, 27 mortos e 192 feridos.

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