O Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC, na sigla inglesa) a suspender a maior parte das suas operações de ajuda devido à violência no norte de Moçambique, anunciou hoje em comunicado aquela organização não-governamental.
"Se esta situação se mantiver, milhares de famílias deslocadas perderão o acesso a ajuda essencial. As perturbações na vida quotidiana e nos serviços essenciais estão a empurrar os mais vulneráveis para uma maior insegurança, com opções de segurança e apoio muito limitadas", alertou a diretora de operações do NRC em Moçambique, Ulrika Blom, citada na nota de imprensa.
Ulrika Blom sublinha que o NRC está "seriamente preocupado com a intensificação da crise em Moçambique, que se vem juntar a uma situação humanitária já catastrófica".
"Em todo o país, as pessoas estão a lutar para sobreviver no meio de múltiplas crises que se agravam: conflitos, fome severa e choques climáticos estão a afetar milhões de pessoas. Só no norte do país, mais de um milhão de pessoas já foram devastadas pelo conflito. Cerca de 700 mil pessoas enfrentam uma fome aguda em todo o país e centenas de milhares são afetadas por choques climáticos anuais", explicou.
Ulrika Blom exortou todas as partes a defenderem a segurança dos civis e a garantirem o acesso seguro e sem restrições das organizações humanitárias às pessoas necessitadas.
"Para o NRC e outras agências de ajuda, a manutenção do espaço humanitário é fundamental para chegar às comunidades afetadas de forma eficaz e imparcial", frisou.
A concluir, a diretora de operações do NRC em Moçambique apelou à sensibilização da comunidade internacional com "a negligência crónica da crise humanitária" no país.
"Conflitos, choques climáticos e fome severa têm dominado este país desde 2017, mas a resposta humanitária continua lamentavelmente subfinanciada. Apenas 38% do financiamento necessário para o plano de resposta deste ano foi assegurado, forçando organizações como o Programa Alimentar Mundial a cortar a assistência alimentar crítica", destacou.
Esta "negligência apenas aprofunda o desespero e a instabilidade" a que se assiste em Moçambique.
"Agora, mais do que nunca, os moçambicanos precisam da atenção e do apoio do mundo", frisou Ulrika Blom.
Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
O último grande ataque deu-se em 10 e 11 de maio, à sede distrital de Macomia, com cerca de uma centena de insurgentes a saquearem a vila, provocando vários mortos e fortes combates com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e militares ruandeses, que apoiam Moçambique no combate aos rebeldes.