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ONG exige "investigação credível" a mortes nos protestos pós-eleitorais em Moçambique

por Lusa

A Organização Não Governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) exigiu hoje uma investigação credível sobre os homicídios que aconteceram após as eleições moçambicanas de outubro do ano passado, lamentando que ninguém tenha sido levado à Justiça.

"O fracasso da polícia moçambicana em investigar de forma credível os homicídios de membros-chave da oposição envia uma mensagem arrepiante de que as autoridades não têm qualquer interesse em levar os responsáveis à Justiça", disse diretor-adjunto para África da Human Rights Watch, Ashwanee Budoo-Scholtz, num comunicado enviado à Lusa.

De acordo com a ONG, "são necessárias investigações rápidas, completas e eficazes, bem como processos judiciais justos, para que estes homicídios aparentemente motivados por razões políticas possam parar".

As críticas da HRW referem-se a pelo menos 10 pessoas mortas a tiro em Moçambique no seguimentos das eleições presidenciais de outubro do ano passado em Moçambique: "Homens armados não identificados, alguns dos quais envergando uniformes das forças de segurança, mataram a tiro pelo menos 10 funcionários-chave dos partidos da oposição, entre outubro (de 2024) e março de 2025", aponta-se no comunicado.

A polícia, lamenta a HRW, "anunciou investigações sobre alguns dos casos, mas não identificou nem deteve quaisquer suspeitos, nem forneceu atualizações públicas sobre o estado das investigações".

No comunicado, a ONG aponta os casos de Elvino Dias, o advogado de Venâncio Mondlane e do partido Podemos, e Paulo Guambe, um funcionário do Podemos, em Maputo, e diz que "mataram-nos a tiro", lembrando ainda que "outros casos, na sua maioria de dirigentes e apoiantes do Podemos, foram semelhantes".

O comunicado da HRW surge pouco depois de Venâncio Mondlane ter ameaçado com protestos "100 vezes pior" se a "perseguição política" aos seus apoiantes continuar, um dia após um dos seus aliados ter sido baleado no centro de Moçambique.

"Queremos avisar o Presidente, que foi colocado [na presidência] pela Unidade de Intervenção Rápida [polícia], que esta é a ultima chance que tem (...). A próxima vítima que eles tentarem fazer, nós vamos acionar o `Turbo V24 ultra´ [terminologia usada pelo político para classificar diferentes fases de protestos] (...). Estamos à espera de mais um ferido ou um morto. Aquilo que viram até hoje vai ser 100 vezes pior", declarou Mondlane perante milhares de simpatizantes num comício em Quelimane, na província da Zambézia, centro de Moçambique.

Mondlane liderou, nos últimos cinco meses, a pior contestação aos resultados eleitorais que o país conheceu desde as primeiras eleições multipartidárias (1994), com protestos em que cerca de 390 pessoas perderam a vida em confrontos com a polícia, segundo dados de organizações da sociedade civil, degenerando, igualmente, em saques e destruição de empresas e infraestruturas públicas.

O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.

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