As Nações Unidas assinaram contratos no valor de dezenas de milhões de dólares com empresas ligadas a indivíduos apoiados pelo Governo sírio e punidos por abusos de direitos humanos, denunciou hoje um relatório de dois grupos não-governamentais.
A guerra civil na Síria, iniciada por uma revolta popular, já dura desde 2011 e causou centenas de milhares de mortos, além de ter obrigado metade da população do país (23 milhões antes da guerra) a fugir de casa, quer dentro da Síria quer para fora do país.
Mais de 80% dos sírios vivem hoje na pobreza, muitos dos quais sobrevivem com dependência absoluta de assistência humanitária.
O Presidente sírio, Bashar al-Assad, que conta com apoio militar da Rússia, do Irão e do grupo paramilitar fundamentalista libanês Hezbollah, conseguiu recuperar grande parte do país, mas a Síria continua a viver uma crise económica profunda, ainda mais agravada por um surto de cólera recente que já infetou cerca de 20.000 pessoas.
Um relatório produzido pelo Observatório de Redes Políticas e Económicas e a organização não-governamental Programa de Desenvolvimento Legal da Síria, e hoje citado pela agência de notícias AP, analisou os 100 principais fornecedores da ONU na Síria entre 2019 e 2020 e concluiu que quase metade dos contratos realizados nestes dois anos teve como fornecedores pessoas ou empresas envolvidas em abusos de direitos humanos.
De acordo com o mesmo documento, um em cada quatro contratos feitos pela ONU desde 2019 envolveram empresas pertencentes ou parcialmente detidas por indivíduos sancionados pelos Estados Unidos, Reino Unido ou União Europeia por abusos de direitos humanos. Em causa estão contratos no valor total de cerca de 68 milhões dólares (valor idêntico em euros).
Entre os fornecedores em causa, conta-se Fadi Saqr, próximo de al-Assad e chefe das Forças de Defesa Nacional de Damasco, uma milícia pró-governo que, em 2013, executou, comprovadamente, dezenas de prisioneiros vendados, enterrando-os numa vala comum perto da capital síria.
De acordo com a Associated Press, a ONU admitiu conhecer este relatório, remetendo "para breve" comentários sobre as conclusões publicadas.
Embora reconheça que a muito necessária ajuda aos sírios tem de ser canalizada através de agências, Karam Shaar, gestor do programa sírio do Observatório de Redes Políticas e Económicas, aconselhou os Estados doadores a transferir o financiamento para organização internacionais que cumpram as sanções impostas.