Solícitos. Mais: Se o conceito de doentiamente-preocupados-em-ajudar existir, foi isso que os três habitantes da receção do hotel foram, para nos fazer chegar ao monte Fuji.
Sem os recepcionistas, tinha ido a pé. Incansáveis tradutores-negociadores. Meia hora ao telefone. Não desistiram em nosso nome. Conseguiram. Conseguimos!! 10 da manhã. A pontualidade exercida ao segundo.
À frente do hotel, aquilo que me parece um Datsun dos anos 90, um "charuto" negro, lavado mas baço da idade, espera de mala aberta.
Entra o material, assumimos o banco de trás. O motorista oferece-nos um semblante quase cerimonial e fechado, exibe um silêncio que nos diz, sem esboçar som, que daquela boca só sairia nihongo (língua japonesa). Bem, a primeira e única frase que nos dirigiu em quase três horas de aventura desmente e confirma:
- Fuji Internacional Speedway?
- Yes! Sim! Respondo eu em bilingue inútil. Mas a linguagem da minha cabeça em acentuado movimentos verticais é universal.
Escoaram-se os arranha-céus. Nascem portagens no caminho. Duas horas a 96 km/h por paisagens cinzentas e casas pequenas, maioritariamente cinzentas.
A seguir campos verdes, bambus de espécies diversas. Verde cerrado sob céu cinza, neste quase táxi espaçoso, irrepreensivelmente imaculado como o branco das rendas que o decoram.
A sensação de velocidade é inversamente proporcional à posição de condução do líder da deslocação. Como se estivesse num voo picado, piloto filmado em slow motion, o nosso motorista, indivíduo alto a quem uns sessenta ou setenta anos de vida de volante - eventualmente - vergaram as costas numa ligeira corcunda.
Primeiro bloqueio de estrada, quase às duas horas de viagem. Agora é que vai ser. Curiosamente, passámos. Nem deu tempo para um URRRA! No segundo mandaram-nos para um desvio. Cinco minutos, eis o terceiro bloqueio. Nessa altura já o António Antunes estava de app de mapas na ponta dos dedos:
-Estamos a 3 km e meio!
Esqueçam. Mandaram-nos dar a volta ao bilhar médio. Passou a 5. Seis e meio.
- Eh!!! Este tipo deu a volta e já está no mesmo sítio!! Estamos perdidos!!
O Antunes verbaliza a frustração, eu estou a engolir a acidez da minha.
A seguir campos verdes, bambus de espécies diversas. Verde cerrado sob céu cinza, neste quase táxi espaçoso, irrepreensivelmente imaculado como o branco das rendas que o decoram.
A sensação de velocidade é inversamente proporcional à posição de condução do líder da deslocação. Como se estivesse num voo picado, piloto filmado em slow motion, o nosso motorista, indivíduo alto a quem uns sessenta ou setenta anos de vida de volante - eventualmente - vergaram as costas numa ligeira corcunda.
Primeiro bloqueio de estrada, quase às duas horas de viagem. Agora é que vai ser. Curiosamente, passámos. Nem deu tempo para um URRRA! No segundo mandaram-nos para um desvio. Cinco minutos, eis o terceiro bloqueio. Nessa altura já o António Antunes estava de app de mapas na ponta dos dedos:
-Estamos a 3 km e meio!
Esqueçam. Mandaram-nos dar a volta ao bilhar médio. Passou a 5. Seis e meio.
- Eh!!! Este tipo deu a volta e já está no mesmo sítio!! Estamos perdidos!!
O Antunes verbaliza a frustração, eu estou a engolir a acidez da minha.
O Sr. X também vive a dele. Coça a cabeça em estilo nervoso. "Mau. É a primeira vez que tira as mãos do volante e é para coçar a cabeça. Estamos tramados".
Mais um controlo, mas a estrada está aberta. Ele reduz para parar. Mapa virtual na não, vejo que estamos de novo a 3,5 km. Assumo o poder. Em português de língua e mão:
- Segue! SEGUE! Em frente. Segue!!
Alguma coisa funcionou ali. Senti um estremecer na aceleração. Hesitante, pausa, decidido! O som do Datsun acompanhou a escolha da ação. Vrraammm! Agora sim, a postura corporal fez todo o sentido. A mim tambem já me chamaram reporter Kamikaze. Deixá-mos o sentinela a olhar, como se fosse um pelotão surpreendido a almoçar. Chegámos. C H E G Á M O S!!
12.30! Sei lá se é esta a porta. Ficamos aqui. Pagámos, agradecemos. Já sou bom em vénias.
Controlo de entrada. Eis-nos de regresso à simpatia absoluta:
- Welcome!, diz o dono do uniforme verde, sorriso devolvido atrás da máscara. Estes militares nunca deixam um sorriso por devolver. Fantástico detalhe.
Melhor: à nossa frente, logo que entramos no recinto amplo, bancas de comida. MARAVILHOSA, até para quem tivesse tomado pequeno almoço.
-Temos vinte minutos, Antunes! Embora!
Atirei-me a uma espetada de entremeada e guiosas acabadinhas de fazer.
Até descobrir a zona mista, duas idas e vindas longas à zona norte do circuito. Mas ganhámos!! Ganhámos!!! Entrevistámos o Nelson. Conseguimos! Falta um bom tempo para o João Almeida, uma espera à torreira do sol abrasador, sombras só no pensamento: "E agora... não há autocarros, João. Começa a planear o regresso".
Nem cinco minutos, um companheiro português dá a pista dele:
- Descobri ali uns autocarros para Tóquio. Não são para o nosso lado, mas acho que me enfio num e em Tóquio logo se vê!
- Grande conceito!! Boa!
Agradeço muito, já não dependo de um nada.
Vem lá o Roglic. Graças a ele, que dobra o João, vejo no ecrã gigante que estou prestes a ter a segunda entrevista da jornada. Embrenhado neste momento, nem a vi logo.
Ela chegou suavemente ao pé de mim, lançou um sorriso de olhos grandes e um cumprimento entusiasta:
- Helloo!! How are you??
É uma companheira jornalista que conheço do fumódromo do hotel. Ela acompanhou a minha angústia do processo de vinda quando o tentava marcar:
- Conseguiste chegar! Parabéns!
- Sim!! - reajo - foi uma aventura mas está ganho!
- E agora, como fazes para voltar?
Dou dois segundos de pausa antes de responder:
-Hei-de chegar! Falaram-me de uns autocarros... - expliquei o plano emprestado pelo nosso companheiro de estória. Ela ofereceu mais um sorriso olhado:
- Esquece! Vocês são dois, não é? A minha equipa de tv tem uma Van. Vocês são nossos convidados! Considera feito!
Não consegui verbalizar logo. E garanto que não fico muitas vezes sem saber o que dizer. Lá saiu.
- OBRIGADO!!! Que posso fazer para agradecer?? Obrigado!!
Com um sorriso chegou, com um sorriso regressou ao posto dela.
Veio o João, fizemos a entrevista. Fomos ao encontro da equipa dela. Tinham terminado o trabalho há meia hora. Estavam apenas à nossa espera.
Nem vi o Monte Fuji, esse introvertido ícone nas nuvens, como o temperamento do nosso açoriano Pico.
Duas horas e meia depois, ricos de três novos amigos, fomos entregues à porta do hotel. Obrigado rápido, a fu...gir. Transferir imagens ao sprint, para o portátil. Escrever à unha num papel qualquer. Editar em modo de sobrevivência. Enganar a velocidade da Internet do hotel para terminar a tempo.
Uma hora depois, meia hora antes de exibida, chegou a Portugal a peça do Jornal da Tarde.
Mais um controlo, mas a estrada está aberta. Ele reduz para parar. Mapa virtual na não, vejo que estamos de novo a 3,5 km. Assumo o poder. Em português de língua e mão:
- Segue! SEGUE! Em frente. Segue!!
Alguma coisa funcionou ali. Senti um estremecer na aceleração. Hesitante, pausa, decidido! O som do Datsun acompanhou a escolha da ação. Vrraammm! Agora sim, a postura corporal fez todo o sentido. A mim tambem já me chamaram reporter Kamikaze. Deixá-mos o sentinela a olhar, como se fosse um pelotão surpreendido a almoçar. Chegámos. C H E G Á M O S!!
12.30! Sei lá se é esta a porta. Ficamos aqui. Pagámos, agradecemos. Já sou bom em vénias.
Controlo de entrada. Eis-nos de regresso à simpatia absoluta:
- Welcome!, diz o dono do uniforme verde, sorriso devolvido atrás da máscara. Estes militares nunca deixam um sorriso por devolver. Fantástico detalhe.
Melhor: à nossa frente, logo que entramos no recinto amplo, bancas de comida. MARAVILHOSA, até para quem tivesse tomado pequeno almoço.
-Temos vinte minutos, Antunes! Embora!
Atirei-me a uma espetada de entremeada e guiosas acabadinhas de fazer.
Até descobrir a zona mista, duas idas e vindas longas à zona norte do circuito. Mas ganhámos!! Ganhámos!!! Entrevistámos o Nelson. Conseguimos! Falta um bom tempo para o João Almeida, uma espera à torreira do sol abrasador, sombras só no pensamento: "E agora... não há autocarros, João. Começa a planear o regresso".
Nem cinco minutos, um companheiro português dá a pista dele:
- Descobri ali uns autocarros para Tóquio. Não são para o nosso lado, mas acho que me enfio num e em Tóquio logo se vê!
- Grande conceito!! Boa!
Agradeço muito, já não dependo de um nada.
Vem lá o Roglic. Graças a ele, que dobra o João, vejo no ecrã gigante que estou prestes a ter a segunda entrevista da jornada. Embrenhado neste momento, nem a vi logo.
Ela chegou suavemente ao pé de mim, lançou um sorriso de olhos grandes e um cumprimento entusiasta:
- Helloo!! How are you??
É uma companheira jornalista que conheço do fumódromo do hotel. Ela acompanhou a minha angústia do processo de vinda quando o tentava marcar:
- Conseguiste chegar! Parabéns!
- Sim!! - reajo - foi uma aventura mas está ganho!
- E agora, como fazes para voltar?
Dou dois segundos de pausa antes de responder:
-Hei-de chegar! Falaram-me de uns autocarros... - expliquei o plano emprestado pelo nosso companheiro de estória. Ela ofereceu mais um sorriso olhado:
- Esquece! Vocês são dois, não é? A minha equipa de tv tem uma Van. Vocês são nossos convidados! Considera feito!
Não consegui verbalizar logo. E garanto que não fico muitas vezes sem saber o que dizer. Lá saiu.
- OBRIGADO!!! Que posso fazer para agradecer?? Obrigado!!
Com um sorriso chegou, com um sorriso regressou ao posto dela.
Veio o João, fizemos a entrevista. Fomos ao encontro da equipa dela. Tinham terminado o trabalho há meia hora. Estavam apenas à nossa espera.
Nem vi o Monte Fuji, esse introvertido ícone nas nuvens, como o temperamento do nosso açoriano Pico.
Duas horas e meia depois, ricos de três novos amigos, fomos entregues à porta do hotel. Obrigado rápido, a fu...gir. Transferir imagens ao sprint, para o portátil. Escrever à unha num papel qualquer. Editar em modo de sobrevivência. Enganar a velocidade da Internet do hotel para terminar a tempo.
Uma hora depois, meia hora antes de exibida, chegou a Portugal a peça do Jornal da Tarde.