OLÍMPICOS - CRÓNICA DE BASTIDORES "Amor também à segunda vista"

por Marco Hélio - RTP
RTP

Tive a felicidade de em 2016 ter estado aqui no Japão de férias com a minha esposa. Não desfazendo todos os meus companheiros da RTP nesta jornada olímpica que desejo inolvidável, nada apagará aqueles incríveis dez dias que aqui passei há quase cinco anos. Desde logo porque estava com família, o bem mais precioso que podemos ter. Depois porque estava de férias e obviamente com muito mais tempo para desfrutar deste fantástico país. E finalmente, at last but not the least, não havia pandemia.

O maldito vírus roubou-nos a todos uma parte da nossa liberdade. Um cercear de direitos que se sente ainda mais numa grande competição como são os Jogos Olímpicos.

As restrições, plenamente justificadas, são quase infindáveis: três dias de quarentena no hotel apenas com saídas autorizadas de 15 minutos. Um quarto de hora que serve para chegar à rua e olhar para um lado e para o outro, mas que não chega para a atravessar. Só há tempo para entrar numa loja de conveniência e comprar algo para o almoço. Mas não pode ser nada de muito elaborado. Porque não há e sobretudo não há tempo. Horas mais tarde a história irá repetir-se então já com o jantar na mira.

No entretanto o quarto serve de escritório para preparar os dias mais aturados que vamos ter pela frente.

Pelo menos até chegar aos 14 dias de permanência aqui em Tóquio, será esta a rotina. Um dia a dia onde a partir deste sábado irão entrar as deslocações para os locais de competição. Mas apenas essas. Após acompanhar as provas voltamos ao hotel para editar as peças. E depois, com sorte, lá teremos uns minutos de "liberdade". A ideia que os jornalistas vão ao estrangeiro passear está aqui mais esbatida que nunca. Sou um profundo conhecedor de aeroportos e hotéis em várias partes do mundo, sobretudo na Europa.

Mas adoro e sou um privilegiado. Não há muitas profissões onde, de vez em quando, se possa juntar trabalho a viagens. E isso nunca será um ponto negativo quando saio de Portugal com o microfone da RTP no saco.

E no Japão menos ainda.

A pandemia virou estes Jogos Olímpicos quase do avesso mas não tirou o mais importante a esta gente: o respeito. Nisso os japoneses ganham de goleada! A civilidade deste povo é algo de extraordinário e justifica o tal amor, também à segunda vista.

A vénia que fazem ao passarmos, o juntar de mãos em jeito de agradecimento pelo pagamento de um simples café. Atitudes que às vezes quase se confundem com subserviência. Mas terá outro nome certamente. O silêncio das ruas, carregadas de carros e pessoas num mudo frenesim. A forma educada como, com um sorriso na cara, nos impedem de fazer tudo aquilo que queríamos fazer.

Em 2016 estive num país livre de amarras. Cinco anos depois estou num Japão "amordaçado" pela pandemia, mas que não perdeu aquela crença de que vai ficar tudo bem.
Ou nao fosse este o país do sol nascente. E o sol quando nasce é mesmo para todos!

PS - Os três dias de quarentena só acabaram às 23 horas desta sexta-feira. Por isso, e apesar de estar em Tóquio, também vi a cerimónia de abertura dos Jogos Olimpicos na RTP, no quarto do hotel.
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