Um grupo de 33 soldados sírios e suas famílias desertaram para a Turquia. O grupo poderá incluir um general e dois coronéis, embora fontes do governo turco afirmem que os três oficiais desertores têm todos o posto de coronel. Ao todo, 224 pessoas terão atravessado a fronteira entre a Síria e a Turquia a coberto da noite, num momento em que a tensão entres os dois países sobre, devido ao abate de um avião militar turco pela Síria.
As deserções do exército sírio têm-se realizado de forma constante, mas a conta-gotas, nos últimos meses.
O exército rebelde é, aliás, composto maioritariamente por dezenas de antigos soldados sírios, que desertaram aos milhares, com os seus oficiais, nos últimos 16 meses e apesar dos receios de retaliações por parte do regime contra as suas famílias.
Mais de 32.000 sírios habitam atualmente vários campos de refugiados na Turquia, ao longo da fronteira com a Síria, alegando perseguições do exército e das milícias leais a Assad.
Em desordem
A semana passada, pela primeira vez, um piloto de caças fugiu com o seu aparelho para a Jordânia. O coronel Abdel Farid Zakaria, foi considerado "traidor" por Damasco. Em declarações exclusivas à televisão Al Jazeera, afirmou que as forças do Presidente Bashar al Assad estão em desordem.
Zakaria acrescenta que muitos outros soldados e oficiais sírios pretendem desertar e que a comunidade internacional tem de ajudar a que eles abandonem as fileiras.
Sinal dessa mesma desordem poderá ter sido o abate de um caça turco na sexta-feira passada. O incidente está a fazer subir a tensão entre os dois países e a agravar receios de um alastramento do conflito interno sírio a toda a região.
Hiato temporal
Damasco diz que o aparelho, um F4 Phantom, foi abatido sobre águas sírias, com tiros de artilharia anti-aérea por ter violado de forma "flagrante" o espaço aéreo sírio.
As forças armadas sírias teriam agido da mesma forma "se fosse um aparelho sírio", segundo o porta-voz do ministério sírio dos Negócios Estrangeiros, Jihad Makdessi.
Ancara reconhece que o avião, que efetuava um voo de treino sem armas, entrou no espaço aéreo sírio cerca de cinco minutos, tendo sido avisado disso pelas autoridades militares turcas para alterar a rota.
Estas acrescentam que, só 16 minutos depois disso é que o aparelho desapareceu dos radares e das comunicações rádio.
Síria sabia que caça era turco
Fontes dos serviços de informação da Turquia, acrescentam ainda, sob anonimato, que a ordem para abater o avião veio diretamente de Damasco.
Os turcos afirmam que estavam a acompanhar o voo e que intercetaram comunicações dos militares do país vizinho que provam que estes sabiam que se tratava de um aparelho turco.
Os dois pilotos do caça estão desaparecidos e alguns jornais turcos afirmam que podem ter sido feitos prisioneiros pela Síria. Até agora terão sido encontradas apenas as botas dos pilotos, afirmou o governo turco.
Corte de eletricidade
Planos para uma operação de buscas conjunta turco-síria quase agravaram ainda mais a crise diplomática, depois da Síria exigir ficar na posse do aparelho e dos pilotos do caça, exigências imediatamente rejeitadas por Ancara.
O governo turco tem estado a estudar a resposta a dar à Síria e o primeiro ministro Tayyp Erdogan deverá apresentar algumas medidas dentro de algumas horas ao Parlamento.
Uma das retaliações possíveis será o corte de fornecimento de eletricidade à Síria. As empresas de energia turcas fornecem 10% do consumo anual de eletricidade sírio.
Ancara pediu ainda uma reunião dos parceiros da NATO para lhes apresentar a sua versão do incidente, a qual deverá realizar-se amanhã em Bruxelas.
A União Europeia irá impor novas sanções a Damasco mas já pôs de lado qualquer hipótese de apoio a uma eventual intervenção militar na Síria. Apela à "contenção".
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