Ocidente é destinatário. Putin ameaça com armas nucleares contra potências "agressoras"

por Inês Moreira Santos - RTP
Alexei Nikolsky - Reuters

Numa mudança de retórica após novos apelos da Ucrânia para poder usar mísseis fornecidos pelos aliados, Vladimir Putin deixou um aviso ao Ocidente: a Rússia pode usar armas nucleares se for atacada e considerar como agressora qualquer potência que apoie um ataque de um país terceiro. O presidente russo intensificou o discurso para "clarificar" que Moscovo pode mesmo reconhecer como "ataque conjunto" o uso de armas convencionais.

“Foi proposto considerar a agressão contra a Rússia por um país não nuclear, mas com a participação ou apoio de um país nuclear, como um ataque conjunto contra a Federação Russa”, afirmou na quarta-feira Putin, numa clara referência à Ucrânia, que tem pedido autorização aos Estados Unidos e outros países ocidentais para usar mísseis fornecidos por estes em ataques contra território russo.

A decisão de mudar a doutrina nuclear russa surge como resposta do Kremlin aos debates dos Estados Unidos e do Reino Unido sobre a possibilidade de permitir que a Ucrânia, que é um Estado não nuclear, possa usar contra território russo mísseis convencionais fornecidos pelos países ocidentais. Num discurso no Conselho de Segurança da Rússia, na quarta-feira, o líder russo clarificou que as alterações da retórica nuclear surgem num contexto global que tem criado novas ameaças e riscos para o país.“Vemos que a situação militar e política atual está a mudar dinamicamente e devemos ter isso em consideração. Incluindo o aparecimento de novas fontes de ameaças e riscos militares para a Rússia e os nossos aliados”, acrescentou.

"As condições para o uso de armas nucleares pela Rússia também estão claramente definidas", afirmou ainda, acrescentando que Moscovo consideraria tal necessidade se detetasse a preparação de um lançamento massivo de mísseis, aeronaves ou drones contra o território.

Putin avisou também que poderá usar armas nucleares se a aliada Bielorrússia for alvo de agressão, incluindo armas convencionais. Nas palavras do presidente russo, estas mudanças na retórica são proporcionais às novas ameaças militares que a Federação Russa enfrenta.

As armas nucleares do país são "a garantia mais importante de segurança do nosso Estado e dos seus cidadãos"
, disse o líder do Kremlin.
Citada pela agência noticiosa AP, a versão revista do documento prevê mais pormenorizadamente as condições de uso de armas nucleares, como em caso de um forte ataque aéreo envolvendo aviões, mísseis de cruzeiro ou drones. Já a 12 de setembro, Putin tinha advertido que uma autorização dos países ocidentais à Ucrânia para ataques com mísseis de longo alcance contra território russo significaria que “os países da NATO estão em guerra com a Rússia”.

“Se esta decisão for tomada, significará nada menos do que o envolvimento direto dos países da NATO na guerra na Ucrânia”
, advertiu, na altura, Putin. “Isso mudaria a própria natureza do conflito. Significaria que os países da NATO estão em guerra com a Rússia”.

O chefe de gabinete do presidente ucraniano já reagiu a estas declarações e rejeitou a nova doutrina nuclear. “A Rússia não tem mais nenhum instrumento para intimidar o mundo além da chantagem nuclear. Esses instrumentos não funcionarão”, disse Andriy Yermak.

Não é a primeira vez que Putin ameaça usar armas nucleares. Mas a Ucrânia tem considerado isso como "barulho de sabre nuclear" para dissuadir os aliados a fornecer mais apoio.

Também a China, aliada da Rússia, já advertiu Putin contra o uso de armas nucleares.

A Ucrânia tem vindo a pedir autorização para atacar alvos no interior do território russo com mísseis fornecidos por países como os Estados Unidos e Reino Unido.
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