O dirigente do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) Abdullah Ocalan exortou hoje o seu grupo, a partir da sua cela prisional turca, a depor as armas, para se poder alcançar uma solução democrática para o problema do Curdistão.
"Vinde, vamos todos juntos e de uma vez por todas depor as armas na Turquia e em todo o Médio Oriente como meio para conseguir os nossos objectivos. Enterremos as armas", declarou Ocalan, numa mensagem divulgada pela agência pró-curda Firat.
Até agora, o governo turco não emitiu qualquer reacção a este apelo, nem se espera que o faça, uma vez que não costuma dar relevância às declarações de Ocalan.
"Enquanto não formos alvo de uma destruição total, o PKK não deve em absoluto utilizar as suas armas", declarou Ocalan aos seus advogados, que transmitiram as suas afirmações à imprensa.
Vários advogados de defesa visitam-no regularmente na ilha- prisão de Imrali, onde cumpre uma pena de prisão perpétua a que foi condenado em Junho de 1999 por um tribunal turco por "separatismo" e "traição" e transmitem as suas declarações à imprensa.
O PKK decretou já, no passado, quatro tréguas, todas elas rejeitadas pelo exército turco.
As autoridades de Ancara exortaram os rebeldes a abandonar pura e simplesmente as armas e comprometeram-se a perseguir até ao último dos membros do PKK, que desencadeou em 1984 uma luta armada por uma autonomia do sueste da Anatólia, habitado maioritariamente por curdos.
Para Ocalan, esta nova trégua unilateral não deveria ser considerada como uma "fraqueza", devendo antes ser vista pelas autoridades de Ancara como uma ocasião de reconciliação entre os povos turco e curdo.
Apesar da sua prisão e apesar de uma cisão no seio do grupo, Ocalan continua a ser a figura de proa da contestação curda na Turquia e a sua influência sobre o PKK é considerável.
"Nesta fase, a efusão de sangue deve parar e deve ser dada uma nova oportunidade à paz", sublinha o líder rebelde, que considera que esta "oportunidade pode ser a última".
O PKK pôs fim a uma trégua de cinco anos em Junho de 2004.
Seguiu-se um recrudescimento dos ataques dos rebeldes em várias regiões da Turquia que custaram a vida a 78 membros das forças de segurança desde o início do ano.
Cento e dez rebeldes foram mortos nos combates, de acordo com os números adiantados pelo exército turco.
O PKK, considerado uma organização terrorista pela Turquia, UE e Estados Unidos, multiplicou as suas operações este ano.
O conflito curdo na Turquia fez mais de 37.000 mortos desde o desencadeamento da insurreição.
Um novo grupo extremista curdo, os Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK), nascido aparentemente de uma cisão no seio do PKK, reivindicou desde o ano passado vários ataques sangrentos contra alvos turísticos turcos, bem como em Istambul, principal metrópole do país.
As autoridades turcas consideram que os TAK são uma emanação do PKK e que o seu "comandante" é Ocalan, mas o PKK desmente qualquer ligação ao novo grupo.
Para além de centenas de rebeldes entrincheirados nas montanhas escarpadas do sudeste da Turquia, cerca de 5.000 militantes ter-se-iam refugiado desde 1999 em acampamentos no norte do Iraque, a partir dos quais se infiltram em território turco para ataques esporádicos.
Para reforçar as suas hipóteses de aderir à União Europeia, a Turquia adoptou nos últimos anos reformas culturais (ensino privado da língua curda e emissões de rádio e televisão nesta língua) a favor da sua comunidade curda, avaliada em entre 10 e 15 milhões de pessoas numa população de 73 milhões.