Obama, União Europeia, Portugal, Israel. As primeiras reações à decisão de Trump

por RTP
Barack Obama (ex-Presidente norte-americano) ao lado do John Kerry, ex-secretário de Estado norte-americano, que ajudou a negociar o acordo de 2015. Jonathan Ernst - Reuters

O ex-Presidente norte-americano lançou fortes críticas a Donald Trump. O atual inquilino da Casa Branca anunciou esta terça-feira que os Estados Unidos vão abandonar o acordo nuclear assinado durante o mandato de Barack Obama. Numa crítica direta pouco comum desde que deixou a Presidência, Obama considera que o veredito norte-americano constitui “um erro grave” e que pode levar a uma nova guerra no Médio Oriente.

Num longo comentário à declaração de Donald Trump, o antigo Presidente norte-americano censura as palavras do atual chefe de Estado como “erradas” e considera que esta decisão faz com que os Estados Unidos “virem as costas aos aliados mais próximos” e que o “constante desrespeito pelos acordos” pode “corroer a credibilidade” dos Estados Unidos no contexto internacional.

Ao longo de vários parágrafos, Barack Obama defende o acordo que ajudou a negociar durante a sua presidência, sublinhando que o entendimento, também designado por Joint Comprehensive Plan of Action (JCPOA) cumpria desde 2015 os objetivos a que as partes envolvidas se tinham proposto.   

“Sem o JCPOA, os Estados Unidos podem ver-se numa situação em que são obrigados a escolher entre um Irão com armas nucleares ou uma nova guerra no Médio Oriente”, avisa Obama.  

O ex-Presidente norte-americano defende ainda que os debates nos Estados Unidos se devem basear em “factos”.   



A União Europeia também reagiu e garante que está “determinada a preservar” o acordo nuclear com o Irão.  

Federica Mogherini, alta representante da União Europeia para a Política Externa, que também participou nas negociações, lamenta a decisão de Donald Trump.  

“Não deixem que ninguém desmantele o acordo. Esta foi uma das maiores conquistas da diplomacia, que conseguimos juntos”, disse a responsável, dirigindo-se aos cidadãos e dirigentes iranianos.  

“Mantenham-se fiéis aos vossos compromissos e nós permaneceremos fiéis aos nossos. Juntamente com o resto da comunidade internacional, vamos preservar o acordo nuclear”, disse ainda Mogherini.  

A responsável europeia assumiu ter ficado “particularmente perturbada” com o anúncio de Donald Trump, sobretudo com as novas sanções económicas que serão impostas pelos Estados Unidos, até porque o Presidente norte-americano admitiu sancionar mais países que continuem a colaborar com o Irão.

“A União Europeia está determinada a agir de acordo com os seus interesses de segurança e a proteger os seus investimentos económicos”, disse a chefe da diplomacia europeia. 

No Twitter, o Presidente francês disse que França, Alemanha e Reino Unido “lamentam” a decisão dos Estados Unidos e que o “regime de não-proliferação nuclear está em risco”.  


Em conformidade com Bruxelas e os aliados europeus, Portugal “lamenta bastante” a saída dos Estados Unidos deste acordo.  

"Lamentamos bastante a decisão dos Estados Unidos. Nós, Portugal, e a União Europeia tudo fizemos para convencer os nossos amigos americanos a não darem este passo", afirmou Augusto Santos Silva, em declarações à agência Lusa.  

O ministro português dos Negócios Estrangeiros diz que o Governo português vê o acordo de 2015 como um instrumento “positivo” que impede o Irão de chegar à produção de armas nucleares.

"Esperamos que esta saída dos Estados Unidos seja compensada pela determinação das restantes partes signatárias do acordo no seu cumprimento", sublinhou o chefe da diplomacia portuguesa. 

Já a Rússia, que também anunciou este acordo, disse estar “profundamente desiludida” com a decisão “unilateral” de Donald Trump, que acusa de ter feito “uma grave violação do Direito Internacional”.  

Para a diplomacia russa, não faz sentido “minar um acordo que se revelou eficaz”, uma vez que Teerão “está a cumprir rigorosamente todos os seus compromissos, regularmente confirmados pela Agência Internacional da Energia Atómica”. 

Segundo Moscovo, a decisão de Trump "é uma nova prova da incapacidade de Washington para negociar" e as "queixas norte-americanas sobre a atividade nuclear legítima do Irão servem apenas para acertar contas políticas" com o Irão.Decisão “valente”
No entanto, houve quem aplaudisse esta decisão do Presidente norte-americano, desde logo o primeiro-ministro israelita, que ainda na semana passada denunciava a existência de um programa nuclear iraniano oculto.

Apesar de a denúncia ter sido entretanto desmentida pela própria Agência Internacional da Energia Atómica (IAEA), Donald Trump não deixou de recorrer à mesma para justificar a posição anunciada esta terça-feira.

“O Presidente Trump tomou uma decisão valente e histórica”, sublinhou Benjamin Netanyahu, que agradeceu em nome de todos os israelitas as medidas dos Estados Unidos para “travar a atitude agressiva do Irão”. 

No mesmo sentido, a Arábia Saudita “saúda” os passos anunciados por Donald Trump no sentido de retirar os Estados Unidos do acordo nuclear.

O acordo nuclear com o Irão foi assinado em Viena em 2015, ao fim de vários meses de intensas negociações. Nos termos deste entendimento, o Irão aceitou limitar de forma significativa o enriquecimento de urânio, o que impede a produção de armas nucleares.

Em troca, os outros países aceitaram o levantamento de várias sanções económicas e embargos à venda de petróleo e gás natural, duas das principais exportações iranianas.

Por via deste acordo, Teerão autorizou ainda inspeções regulares às suas instalações nucleares pelos peritos da Agência Internacional da Energia Atómica. Nos últimos três anos, os especialistas da agência confirmaram em oito ocasiões que o Irão continua a cumprir com os termos estabelecidos pelo entendimento multilateral.

Donald Trump anunciou esta terça-feira que os Estados Unidos vão abandonar o acordo firmado em julho de 2015 também conhecido como Joint Comprehensive Plan of Action (JCPOA), sobre o programa nuclear iraniano, voltando dessa forma a impor as sanções económicas que desde então haviam sido levantadas.

(com agências)
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