"O teu corpo, a minha escolha". Ataques contra mulheres nas redes sociais aumentam após reeleição de Trump

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Elijah Nouvelage - Reuters

Mensagens de ódio e de assédio contra mulheres, como "o teu corpo, a minha escolha" e "voltem para a cozinha", aumentaram nas redes sociais desde a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas.

Nas 24 horas que sucederam à reeleição de Donald Trump, o uso da frase “o teu corpo, a minha escolha” aumentou 4.600% na rede social X, de acordo com um estudo do Institute for Strategic Dialogue (ISD).

O principal impulsionador foi Nicholas J. Fuentes, um nacionalista branco e conhecido podcaster norte-americano, que no dia 6 de novembro partilhou na rede social X: “O teu corpo, a minha escolha. Para sempre”.

A publicação foi vista mais de 90 milhões de vezes e republicada por mais de 36 mil pessoas.

Um vídeo de Fuentes a repetir a frase também se tornou viral nas redes sociais. “Adivinhem? Os homens venceram outra vez. E sim, nós controlamos os vossos corpos”, diz Nick Fuentes no vídeo.

Outras mensagens misóginas também se tornaram virais na rede social X nos últimos dias. Uma delas é da autoria de Andrew Tate, o influenciador das redes sociais norte-americano, que no dia 7 de novembro escreveu na rede social X: “Vi uma mulher a atravessar a rua hoje mas mantive o pé no acelerador. Direito de passagem? Vocês não têm mais direitos”.

Frases como “voltem para a cozinha” e “revoguem a 19ª Emenda” (que dá às mulheres o direito ao voto) também aumentaram substancialmente após a eleição de Trump
segundo o estudo do ISD, que analisou comentários direcionados a mulheres e a discussão desses mesmos comentários entre 4 e 6 de novembro nas redes sociais X, TikTok, Facebook e Reddit.

Muitas mulheres estão também a denunciar nas redes sociais que estão a receber comentários de homens como “o teu corpo, a minha escolha” nas suas publicações ou em mensagens privadas.

A frase em causa está também a atormentar mulheres e meninas fora das redes sociais. Vários jovens e pais têm denunciado nos últimos dias casos de assédio nas escolas e universidades, com a frase “o teu corpo, a minha escolha” a ser direcionada a raparigas nas escolas. Pelo menos um distrito escolar norte-americano emitiu esta semana um aviso aos pais a informar que vários alunos estavam a usar esta frase para atacar meninas na escola.

No Facebook, a mesma frase também foi repetida 52 mil vezes nas 24 horas após o anúncio da vitória de Donald Trump. Um pai escreveu: “Hoje, a minha filha ouviu por três vezes diferentes na faculdade «o teu corpo, a minha escolha». O terceiro grupo de rapazes disse-lhe para ela «dormir com um olho aberto durante a noite»”.

A frase “o teu corpo, a minha escolha” consiste numa alteração ao slogan “o meu corpo, a minha escolha”, que foi usado pelas mulheres como um grito de guerra em defesa pelos direitos reprodutivos.

Esses mesmos direitos estão agora em risco com o regresso de Trump à Casa Branca, que tem uma posição mais conservadora relativamente ao direito ao aborto.

Apesar de a sua posição em relação a este tema não ter ficado clara durante a campanha eleitoral, Donald Trump continua a defender a revogação da lei Roe V. Wade. A lei foi revogada há dois anos por três juízes nomeados por Trump, deixando assim ao critério de cada Estado a decisão de proibição do aborto.

No dia em que os norte-americanos escolheram Trump como o próximo presidente dos EUA, dez Estados foram também a votos para decidir eventuais alterações às leis da interrupção voluntária da gravidez. Sete dos dez Estados que foram a votos aprovaram os referendos que protegem ou reforçam o direito ao aborto.

A eleição de Trump deu um novo impulso ao movimento 4B. O movimento feminista radical nasceu na Coreia do Sul e diz não ao casamento e relações sexuais heterossexuais, gravidez ou namoro. O movimento já existia nos EUA, mas ganhou força após a nomeação de Trump.
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