O que significa a vitória de Trump para a Europa? A opinião de Durão Barroso

por Joana Raposo Santos - RTP
Durão Barroso destacou os "problemas sérios entre Trump e a Europa". Foto: Patrick Hertzog - AFP

Após a vitória de Donald Trump nas presidenciais dos Estados Unidos, “a Europa tem de saber se quer ou não tomar o seu destino nas suas próprias mãos”, considerou esta quinta-feira o ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso.

“A verdade é que a eleição de Trump pode ter um grande impacto na Europa”, avisou o político em entrevista à RTP3.

Durão Barroso destacou os “problemas sérios entre Trump e a Europa” no primeiro mandato do republicano, lembrando que este “fez comentários sobre líderes europeus às vezes muito difíceis, que nunca fez por exemplo sobre Putin, o que é estranho”.

“Chegou a pôr em causa a própria existência da NATO. Nunca teve palavras simpáticas para a União Europeia”, frisou.

“Trump é essencialmente um protecionista, aliás, o atual Governo americano também é. Mas é previsível que ele leve mais além esse protecionismo. Vai aumentar as tarifas, não apenas contra a China (…), mas também contra a Europa”, avisou o antigo primeiro-ministro português.

“A Europa tem de saber se quer ou não estar unida para defender os seus interesses e os seus valores”, defendeu. “Isto é uma espécie de chamada de atenção para a Europa”, alertou, apelando à definição de “uma política económica externa”.

Durão Barroso lembrou ainda que “na Europa hoje em dia há uma política comercial, mas não há um alinhamento da política comercial com a política de concorrência, com a política de energia, com a política de transição climática”.

Não há uma política industrial verdadeiramente na Europa, quando os americanos têm, a China tem, os outros têm”.
Trump “conseguiu falar às pessoas”
Na opinião de Durão Barroso, “gostemos ou não gostemos de Trump, temos de reconhecer que foi uma grande vitória” e é essencial “perceber porquê”.

“Aparentemente, o que se passa é que Trump conseguiu falar às pessoas e dos problemas que interessam às pessoas, que são nos Estados Unidos o custo de vida – apesar de os EUA estarem com uma situação económica espetacular, tomáramos nós ter a situação americana -, mas houve uma inflação que fez subir muito os preços de bens essenciais, de alimentação e de combustíveis. Isso foi muito sentido pelas classes médias e médias-baixas”, explicou.

“Mas também falou muito de segurança, de imigração ilegal, de criminalidade”, algo que o ex-presidente da Comissão Europeia considera legítimo. “Não podemos chamar fascistas às pessoas que querem fronteiras ou controlo da imigração ilegal”, declarou.

Na entrevista à RTP3, disse ainda que o Partido Democrático “está mais preocupado com coisas que são importantes, como as questões de identidade de género (…), mas que não são a primeira preocupação dos trabalhadores norte-americanos”.

Questionado ainda sobre as eleições presidenciais portuguesas, Durão Barroso respondeu apenas que não está nessa corrida.

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