O que sabemos sobre o ISIS-K, o grupo que reivindicou o atentado de Moscovo?

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Maxim Shemetov - Reuters

O grupo do Estado Islâmico de Khorashan, também conhecido como Daesh-K ou ISIS-K, que reivindicou a autoria do ataque da passada sexta-feira a uma sala de concertos em Moscovo, através da divulgação de um comunicado e de imagens dos atacantes armados a cometer aquele que foi o pior ataque terrorista na Rússia nas últimas décadas, é conhecido pela brutalidade dos seus ataques.

Os serviços de informação dos Estados Unidos confirmaram a reivindicação do grupo ISIS-K pela autoria do ataque terrorista à sala de espetáculos Crocus City Hall, nos arredores da capital russa, na sexta-feira à noite, depois de terem avisado Moscovo sobre a possibilidade de "extremistas" lançarem “um ataque iminente” na Rússia. “O que sabemos é que o ISIS-K é, de facto, responsável pelo que aconteceu”, afirmou a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, numa entrevista no domingo.

As forças de segurança russas detiveram e acusaram os quatro presumíveis atacantes da antiga república soviética do Tajiquistão de estarem na origem do ataque, que causou a morte de pelo menos 137 pessoas e deixou outras 182 feridas, de acordo com o último balanço oficial. Os suspeitos, acusados de terem cometido um ato terrorista e de poderem ser condenados a prisão perpétua, foram colocados em prisão preventiva até ao dia 22 de maio, depois de terem comparecido no Tribunal distrital de Basmanny, em Moscovo, no domingo.
O que é o ISIS-K?

O Khorasan, que dá nome ao “ISIS-K” (Estado Islâmico Khorasan, em português), é o antigo nome dado a uma região que englobava partes do atual Afeganistão, Irão, Paquistão e Turquemenistão. 

O ramo afegão do autoproclamado Estado Islâmico, surgiu no leste do Afeganistão, nos finais de 2014 e rapidamente se tornou um dos grupos terroristas mais brutais e temidos da Ásia Central, responsável por vários ataques dentro e fora do Afeganistão.

Cinco anos após a queda do ISIS, que surgiu na Síria e no Iraque, o grupo terrorista espalhou-se por várias células em todo o mundo, e embora não seja clara a relação entre a ISIS-K e a sua organização-mãe, sabe-se que partilham a mesma tática e a mesma ideologia. A ISIS-K tem como objetivo criar um “Estado islâmico puro”, governado pela lei da Sharia, segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), escreve a CNN.

Apesar do número de membros do ISIS-K ter entrado em declínio em 2018, após sofrer várias baixas provocadas pelos talibãs e pelas forças norte-americanas, o grupo continua a ser uma das filiais mais ativas do ISIS e é vista "como a maior ameaça no Afeganistão, com capacidade para projetar uma ameaça na região e para além dela”, de acordo com um relatório dos serviços secretos ocidentais, apresentado ao Conselho de Segurança das Nações Unidas em janeiro, escreve o The Guardian.

Segundo a mesma fonte, o Estado Islâmico lançou uma grande campanha de recrutamento no ano passado, para recrutar membros experientes de grupos existentes com um longo historial de ataques terroristas, com o objetivo projetar as suas operações externas muito para além do seu território. O Conselho de Segurança da ONU alertou, então, que o ISIS-K estava a planear ou conduzir “conspirações operacionais” na Europa.
Porque é que atacaram a Rússia?

Apesar do ataque a Moscovo ter acontecido na passada sexta-feira, vários especialistas consideram que o grupo terrorista tem uma animosidade de longa data contra a Rússia e o seu presidente.

"A Rússia tem estado no topo ou perto do topo da lista do ISIS há muitos anos", disse Daniel Byman, diretor do programa de estudos de segurança da Universidade de Georgetown, à CNN, apontando como motivações: o papel crucial de Moscovo na guerra civil na Síria, quando interveio em apoio do Governo sírio e contra o ISIS, e a demasiada proximidade dos talibãs.

Colin Clarke do Centro Soufran, um grupo de investigação com sede em Nova Iorque, confirmou que "o ISIS-K tem estado fixado na Rússia nos últimos dois anos, criticando frequentemente Putin na sua propaganda", escreve a agência Reuters. "O ISIS-K acusa o Kremlin de ter sangue muçulmano nas mãos, referindo-se às intervenções de Moscovo no Afeganistão, na Chechénia e na Síria”, acrescenta.

Michael Kugelman, do Wilson Center, explicou que o ISIS-K "vê a Rússia como cúmplice em atividades que oprimem regularmente os muçulmanos" e acrescentou também que o grupo conta com militantes da Ásia Central que têm as suas próprias queixas contra Moscovo.
Que outros ataques levaram a cabo?
O ISIS-K tem um historial de ataques, incluindo contra mesquitas, dentro e fora do Afeganistão. No início deste ano, através de uma mensagem publicada na sua conta oficial do Telegram, o grupo terrorista afirmou estar por detrás de um atentado bombista em Kerman, no Irão, que matou 84 pessoas, e tem reivindicado a responsabilidade por vários outros ataques naquele país, por causa do seu politeísmo e apostasia.

Mas até à passada sexta-feira a maioria dos ataques mais devastadores do ISIS-K tinham acontecido no Afeganistão e no Paquistão. Em setembro de 2022, o grupo reivindicou a responsabilidade por um atentado suicida na embaixada russa em Cabul, na capital do Afeganistão, onde também em agosto de 2021 foi responsável pelo ataque ao aeroporto internacional de Cabul, que vitimou 13 soldados norte-americanos e cerca de 170 civis, durante a evacuação dos EUA do país.

O que suscitou uma promessa de retaliação por parte do presidente norte-americano, Joe Biden, que têm visto o grupo terrorista como uma ameaça contínua. Uma vez que para além da Rússia, o ódio do ISIS-K estende-se ao Ocidente, nomeadamente aos Estados Unidos, à Europa e ao Reino Unido.

O general norte-americano Micael Kurilla, chefe do Comando Central das Forças Armadas dos EUA, avisou o Congresso, em março do ano passado, que o ISIS-K estava a tornar-se mais forte e que a Europa e a Ásia eram alvos mais prováveis de ataques terroristas (do que os EUA).“(O ISIS-K) mantém a capacidade e a vontade de atacar os interesses dos EUA e do Ocidente no exterior em apenas seis meses, com pouco ou nenhum aviso", afirmou.



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