"O mais à direita da Quinta República". Oposição critica novo Governo francês

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Dimitar Dilkoff - EPA

Quase três meses depois das eleições antecipadas, o Palácio do Eliseu anunciou finalmente a composição do novo Governo, liderado por Michel Barnier. Composto maioritariamente por nomes da direita e da ala macronista, o novo executivo está a ser alvo de duras críticas por parte da oposição, que ameaçou apresentar uma moção de censura.

França ficou a conhecer, no sábado, os 39 membros que vão compor o novo Governo, que conta com Michel Barnier como primeiro-ministro.

Apesar de a esquerda ter sido a vencedora das eleições legislativas – convocadas por Macron após a dura derrota para a extrema-direita nas eleições europeias – nas pastas ministeriais mantêm-se, sobretudo, nomes da direita, da ala macronista e republicana.

Momentos depois do anúncio, começaram a chover críticas da oposição. Membros da aliança de esquerda, a Nova Frente Popular, ameaçaram mesmo apresentar uma moção de censura ao novo Governo.

O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, considera que o Governo de Barnier é “o mais à direita da Quinta República”. Faure confirmou que os socialistas apresentarão rapidamente uma moção de censura, que será um “texto provavelmente comum” da Nova Frente Popular mas “defendido pelos socialistas”.

O líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, apelou a que os franceses se “livrem o mais rapidamente possível” deste “Governo de perdedores”, que segundo ele não tem “nem legitimidade nem futuro”.

No extremo oposto, Jordan Bardella, líder do partido de extrema-direita Assembleia Nacional, considera que este novo Governo “representa o regresso do macronismo” e “não tem futuro”.
Como está composto o novo Governo?
No total, dez políticos republicanos foram nomeados para o Governo, embora Macron tenha mantido vários ministros em cargos importantes.

O aliado próximo de Macron, Sébastien Lecornu, foi mantido como ministro da Defesa, e Jean-Noel Barrot, antigo ministro dos Assuntos Europeus, foi promovido a ministro dos Negócios Estrangeiros.

Entre as figuras salientes do novo Governo está o novo ministro do Interior, Bruno Retailleau, que está a ser fortemente contestado por macronistas e pelos partidos da esquerda. Figura próxima da direita liberal-conservadora, defensora da "ordem", da autoridade" e da "firmeza", Retailleau pretende implementar uma política dura de imigração, um tema que preocupa os franceses e que inflama regularmente a discussão política.

Rachida Dati, uma figura que divide opiniões à direita, também mantém a sua pasta como ministra da Cultura. A pasta das Finanças foi para Antoine Armand, membro do partido Renaissance, de Macron.

A única figura da esquerda é o novo ministro da Justiça, Didier Migaud, um antigo socialista afastado da política ativa e desconhecido do público em geral.

Apesar da aliança entre o partido centrista de Macron e os da direita, o Parlamento francês continua fragmentado e dependerá do apoio de outros partidos para aprovar as leis.

O Governo de Barnier terá de conseguir afirmar-se contra a Assembleia que resultou das eleições legislativas antecipadas, fragmentadas em três blocos inconciliáveis:
a esquerda, que ficou em primeiro lugar nos resultados eleitorais, mas está ausente do Governo; o centro-direita macronista; e a extrema-direita, que fica numa posição de `árbitro` do jogo político.

A prioridade do seu Governo será a aprovação do orçamento,
numa altura em que a França se depara com uma dívida elevada e é alvo de um procedimento europeu por défice excessivo.

No sábado, milhares de ativistas e apoiantes de esquerda manifestaram-se em várias cidades de França contra o novo Governo e pediram a destituição do presidente francês, argumentando que os resultados das eleições legislativas não foram levados em consideração.

c/agências
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