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O maior incêndio de sempre no Canadá ainda pode crescer

por Ana Sanlez - RTP
Mark Blinch - Reuters

A área afetada pelo gigantesco incêndio que lavra desde o passado domingo em Fort McMurray, na província canadiana de Alberta, poderá duplicar nas próximas 24 horas. O alerta foi dado pelas autoridades canadianas, que garantem que só a chuva pode parar as chamas.

Fort McMurray é desde as últimas horas uma cidade fantasma reduzida a cinzas, onde além dos bombeiros restam poucas centenas de habitantes para testemunhar as proporções da maior catástrofe ambiental de sempre no Canadá.

O incêndio que desde 1 de maio consome vorazmente milhares de quilómetros quadrados de floresta obrigou à evacuação em larga escala dos cerca de 100 mil habitantes da Fort McMurray, sendo que alguns tiveram menos de uma hora para fugir. Os últimos quatro mil devem abandonar a cidade este sábado.

A cônsul-geral de Portugal em Vancouver confirmou à Lusa que pelo menos dois são portugueses. Maria João Boavida garante que estão “em segurança” em Edmonton, a 430 quilómetros de Fort McMurray.

A Governadora de Alberta, Rachel Notley, alerta que “não será seguro regressar à cidade” durante um alargado período de tempo. O Governo vai disponibilizar cartões de crédito com 1250 dólares a cada deslocado, mais 500 dólares por cada dependente a cargo.


Mais de 20 mil deslocados estão a viver nos campos de trabalho das explorações petrolíferas por não terem conseguido escapar antes de o fogo bloquear as estradas.

Nesta altura o incêndio já atinge uma área maior do que a cidade de Nova Iorque e poderá duplicar de tamanho nas próximas 24 horas. Já arderam mais de mil quilómetros quadrados de floresta, o equivalente a dez vezes a área da cidade de Lisboa.
As chamas estão a expandir-se na direção de uma área florestal mais remota e não habitada e estão a ser alimentadas pelo vento, pela vegetação seca e pelas elevadas temperaturas que se fazem sentir na região.

Há cerca de dois meses que não chove de forma significativa, mas as previsões apontam para a possibilidade de chuva já este domingo. O governo regional declarou estado de emergência e admite que só as condições atmosféricas poderão extinguir o incêndio, o que pode demorar semanas.

Ainda não há certezas sobre as causas do incêndio, mas os especialistas admitem que podem ser exclusivamente ambientais, relacionadas com as alterações climáticas e com os efeitos do fenómeno El Niño, que juntos criaram uma “tempestade perfeita”. Só este ano a província de Alberta já registou 330 fogos florestais, o dobro da média anual registada até ao ano passado.
O responsável pela gestão florestal de Alberta, Chad Morrison, sublinhou em conferência de imprensa que “os aviões de combate não vão extinguir este incêndio”.

“O fogo vai continuar a aumentar com estas condições até que a chuva nos ajude. Julgamos que o fogo vai continuar a crescer nos próximos dias”, alertou.

Apesar das dimensões da catástrofe não há para há registo de mortos ou feridos, mas quem foi obrigado a fugir compara o local a uma “zona de guerra”. Os habitantes relatam que o fumo é tão denso que durante a fuga é impossível ver o carro que segue à frente.


Um vídeo captado por uma câmara de vigilância mostra uma habitação a ser consumida pelas chamas. As imagens foram captadas cerca de 20 minutos depois do proprietário, James O’Reilly, e da sua mulher, terem abandonado a casa onde viviam há 20 anos. Mais de duas mil casas já foram destruídas pelo incêndio.




Segundo a imprensa canadiana havia na sexta-feira 40 incêndios florestais ativos em Alberta, dos quais cinco estão fora de controlo. “Um monstro de muitas cabeças”, nas palavras da mayor de Fort McMurray. Há mais de 1200 bombeiros a tentar combater as chamas, auxiliados por 110 helicópteros, 27 aviões de combate a incêndios e 295 escavadoras.

Fort McMurray é o centro da produção de petróleo da província de Alberta e é aqui que residem algumas das preocupações das autoridades. A região possuiu a terceira maior reserva do mundo da matéria-prima e cerca de 25 por cento das reservas foram afetadas pelo fogo, o que poderá ter consequências para a economia canadiana.

Quando as chamas derem finalmente tréguas, Fort McMurray terá de ser reconstruída do zero, uma operação que deverá custar, segundo o Governo, mais de seis mil milhões de euros.
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