"No dia 19 de dezembro, a nossa jornalista Cecilia Sala foi presa no Irão e detida na prisão de Evin", escreve o diretor do jornal
Il Foglio, Claudio Cerasa, no seu
artigo publicado esta sexta-feira:
"O jornalismo não é crime. Tragam Cecilia Sala para casa", no qual revela a história da jornalista e apela à sua libertação.
O regresso de Cecilia Sala a Roma estava previsto para sexta-feira passada, a 20 de dezembro, mas a repórter deixou de responder às mensagens na manhã do dia anterior.
Cecilia Sala, de 29 anos, colabora com o diário italiano Il Foglio e é a voz por detrás do podcast
Stories by Chora Media
. "Estava no Irão, com um visto válido, para cobrir um país que
conhece e ama", explica Claudio Cerasa. Durante a sua estadia,
Sala realizou várias entrevistas e produziu três novos episódios para o seu podcast disponíveis no Spotify.
Num comunicado divulgado esta tarde, o meio de comunicação social Chora Media revelou que a jornalista foi levada para a prisão de Evin e que está em isolamento há mais de uma semana. "Sala foi detida em Teerão na quinta-feira (...) e está na prisão desde então, em regime de isolamento. A razão da sua detenção injustificável ainda não foi formalmente comunicada", afirma.
Esforços diplomáticos prosseguem para obter libertação
Esta sexta-feira, a diplomacia italiana confirmou a informação numa
nota publicada na sua página oficial: "O Ministério dos Negócios Estrangeiros comunica que a jornalista italiana
Cecilia Sala, que se encontrava no Irão para prestar serviços jornalísticos, foi detida em 19 de dezembro pelas autoridades policiais de Teerão".
Na mesma
nota pode ler-se que sob as instruções do ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, a Embaixada e o Consulado de Itália em Teerão têm acompanhado o caso de Cecilia Sala com a máxima atenção desde o seu início.
"A Farnesina [MNE italiano] tem estado a trabalhar com as autoridades iranianas
para esclarecer a situação jurídica de Cecilia Sala e verificar as
condições da sua detenção". E adianta que "a embaixadora italiana no Irão, Paola Amadei, efetuou uma visita consular para verificar as condições e o estatuto da detenção" da jornalista.
A jovem repórter encontra-se detida na prisão de Evin, na zona norte da capital, onde são normalmente detidos os dissidentes e opositores, incluindo a Nobel da Paz Narges Mohammadi.
Segundo a diplomacia italiana, desde a sua detenção Cecilia Sala já teve oportunidade de fazer duas chamadas telfónicas com familiares e a família da jovem foi informada das conclusões da visita da embaixadora à prisão.
De acordo com os pais de Sala, o ministério italiano dos Negócios Estrangeiros convida a imprensa a ser discreta, de modo a facilitar uma resolução rápida e positiva da situação da jornalista.
Até ao momento apenas o ministro italiano da Defesa, Guido Crosetto, reagiu à detenção de Cecilia Sala: "A Itália está a trabalhar incansavelmente para a libertar, seguindo todos os caminhos", escreveu na rede social X.
"Desde o primeiro dia, desde que surgiu a notícia da inaceitável detenção de Cecilia Sala pelas autoridades iranianas, todo o governo, em primeiro lugar a presidente italiana Giorgia Meloni e o ministro Tajani, têm trabalhado para que ela seja libertada".
Cecicilia Sala saiu de Roma dia 12 de dezembro com um visto de jornalista válido, de acordo com a Chora Media. À chegada à capital iraniana no dia seguinte, Sala partilhou uma fotografia da cidade nas suas redes sociais com uma legenda que parecia antever o desfecho da sua viagem: "Teerão, até senti saudades do teu nevoeiro de fumo", numa tradução livre do inglês smog que diz respeito a um tipo de poluição atmosférica intensa caracterizada pela opacidade.
Irão um dos piores países para jornalistas
A detenção da jornalista italiana expõe as sérias restrições à liberdade
de expressão e imprensa no Irão, que se posiciona entre os mais
autoritários e repressivos do mundo.No
Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2024, elaborado pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF),
o Irão ocupa o 176.º lugar entre 180 países, o que reflete um ambiente muito hostil para jornalistas.
Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, a repressão no país intensificou-se desde o início dos protestos "Mulher, Vida, Liberdade" pela morte da jovem Mahsa Amini, com as autoridades a deterem centenas de jornalistas e impondo uma censura implacável.
Em reconhecimento à coragem pelo exercício das suas funções num dos piores países do mundo para ser jornalista, a UNESCO atribuiu o Prémio Guillermo Cano para a Liberdade de Imprensa a três mulheres jornalistas iranianas presas: Niloofar Hamedi, Elaheh Mohammadi e Narges Mohammadi, esta última também Prémio Nobel da Paz em 2023.