Trinh Xuan Thanh foi em tempos gestor de topo de uma das maiores empresas vietnamitas. Acusado de corrupção, fugiu para Berlim. Um dia, foi raptado à vista de toda a gente. Reapareceu em Hanói, réu de um processo que pode custar-lhe a cabeça.
Depois, vieram as suspeitas, primeiro difusas, depois adensando-se até à iminência de um processo: alegadamente, terá desviado no exercício dessas funções um valor equivalente a 50 milhões de euros, dos quais 150.000 terão ido parar directamente à sua conta. Num projecto de construção em Hanói, terá recebido subornos num valor equivalente a meio milhão de euros.
Deixou o Vietname, tratando de que o seu paradeiro fosse desconhecido das autoridades vietnamitas. Em Setembro de 2016, o Ministério da Segurança Pública vietnamita pediu a emissão de um mandado de captura internacional contra ele.
Mas os serviços secretos vietnamitas conheciam sobre esse "paradeiro desconhecido" mais do que aparentavam. Na verdade, Thanh encontrava-se na Alemanha, a aguardar a apreciação do seu pedido de asilo, quando, subitamente no Verão passado, em 23 de Julho, no emblemático Tierpark de Berlim, homens armados o meteram na mala de um carro e o fizeram desaparecer misteriosamente.
Oito dias depois, em 31 de Julho, o Ministério da Segurança Pública vietnamita emitiu um comunicado anunciando que Thanh se entregara voluntariamente para ser julgado.
Por sua vez, o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão reagiu ao reaparecimento de Thanh em Hanói com um comunicado apontando o dedo aos serviços secretos vietnamitas, por aparentemente terem cometido um rapto em território alemão e retaliando com a expulsão de um diplomata vietnamita, no prazo de 48 horas. Segundo a notícia hoje publicada em Der Spiegel, o Governo alemão continua a responsabilizar o Governo vietnamita por um rapto e reserva-se o direito de tomar novas medidas retaliatórias.
Entretanto, em 3 de Agosto, Thanh fora mostrado na televisão vietnamita, a desmentir a versão do rapto e a afirmar que voltara voluntariamente. A verdade é que ele enfrenta agora um processo judicial em que a moldura penal pode ir até à pena de morte.