O dia mais sangrento em Myanmar. Pelo menos 18 mortos nos protestos contra golpe militar
As forças de segurança de Myanmar intensificaram o uso de força para dispersar os manifestantes que protestam contra o golpe militar de 1 de fevereiro. Este domingo, a polícia disparou munições reais contra os manifestantes em várias cidades, provocando pelo menos 18 mortos e dezenas de feridos.
A junta militar, chefiada pelo general Min Aung Hlaing, acusado de genocídio por alegadamente ter orquestrado a campanha de violência contra o grupo étnico rohingya em 2017, no oeste do país, afirmou que a polícia utiliza o mínimo de força contra as manifestações.
No entanto, os números e as imagens dizem o contrário. Até sábado, oito pessoas tinham morrido em resultado da violência desencadeada após o golpe, três delas mortas a tiro pela polícia, segundo dados da Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos na Birmânia, tendo sido detidas desde o início da revolta 854 pessoas, das quais 83 já foram libertadas.
“A clara escalada do uso de força letal por parte das forças de segurança de Myanmar em várias vilas e cidades de todo o país em resposta aos manifestantes anti-golpe, em sua maioria pacíficos, é vergonhosa e inaceitável”, disse em comunicado Phill Robertson, vice-diretor da Human Rights Watch na Ásia.
“Munições reais não devem ser usadas para controlar ou dispersar protestos e a força letal só pode ser usada para proteger a vida oi prevenir ferimentos graves”, acrescentou Robertson. “O mundo está a observar os atos da junta militar de Myanar e esta será responsabilizada”,
“Jamais nos iremos ajoelhar”
Apesar da repressão, centenas de manifestantes recusavam abandonar as ruas ao início da tarde em Rangum. Muitos montaram barricadas, enquanto outros cantavam canções de protesto.
“Se eles nos atacarem, nós iremos defender-nos. Jamais nos iremos ajoelhar diante das botas militares”, disse Nyan Win Shein, um dos manifestantes em Rangum à agência Reuters.
A jovem ativista Esther Ze Naw disse à Reuters que as pessoas estão a lutar para superar o medo com o qual conviviam sob o regime militar.
“Esse medo só vai crescer se continuarmos a conviver com ele e as pessoas que o estão a criar sabem disso. É óbvio que estão a tentar incutir medo em nós, fazendo-nos correr e esconder. Não podemos aceitar isso”, afirmou Ze Naw.
Os militares justificam o golpe de estado alegando fraude eleitoral cometida nas eleições legislativas de novembro, nas quais a Liga Nacional para a Democracia, partido de Suu Kyi, venceu por esmagadora maioria. Desde 1 de fevereiro que Suu Kyi e outros líderes do Governo estão detidos.
Tanto os observadores internacionais como a comissão eleitoral deposta pela junta militar após a tomada do poder negaram a existência de irregularidades, apesar da insistência de alguns comandantes do Exército, cujo partido detém 25 por cento dos lugares no Parlamento.
A comunidade internacional tem anunciado sanções contra os líderes do golpe militar, incluindo o general Min Aung Hlaing, presidente do Conselho Administrativo de Estado e autoridade máxima em Myanmar.
No sábado, a televisão estatal anunciou a detenção do embaixador do país nas Nações Unidas por ter “traído” o Governo. O embaixador Kyaw Moe Tun tinha anunciado na sexta-feira, na Assembleia Geral da ONU em Nova York, que representava o "Governo civil eleito pelo povo" de Suu Kyi e apoiava a luta contra o regime militar.