O dia de eleições renhidas e decisivas na Polónia

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Da esquerda para a direita: o líder do maior partido da oposição Donald Tusk, o atual primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki e o líder do partido da extrema-direita conservadora, Lei e Justiça (PiS), Jaroslaw Kaczynski. Kacper Pempel - Reuters | Maciek Jazwiecki via Reuters

Este domingo, 15 de outubro, os eleitores polacos são chamados a eleger 460 deputados e 100 senadores nas eleições parlamentares para o Sejm e o Senado, as duas assembleias que compõem o Parlamento polaco, para um mandato de quatro anos. Uma luta entre a continuidade dos conservadores Lei e Justiça (PiS) e a alternativa dos liberais Plataforma Cívica (PO), cujo desfecho pode ser decisivo para o futuro do país e das relações com a União Europeia e a vizinha Ucrânia.

O resultado das eleições deste domingo que são decisivas para o futuro do país ainda é incerto. Apesar das sondagens darem a vantagem ao partido conservador populista, Lei e Justiça (PiS, na sigla em polaco), no poder há oito anos, liderado pelo antigo primeiro-ministro polaco Jaroslaw Kaczynski e não pelo atual primeiro-ministro Mateusz Morawiecki, parece pouco provável que venha a conseguir uma maioria absoluta. 

O principal rival é a coligação da oposição Plataforma Cívica (PO, na sigla em polaco), liderada pelo antigo primeiro-ministro polaco e ex-presidente do Conselho Europeu Donald Tusk. Sem maioria absoluta, o partido Lei e Justiça (PiS) que procura revalidar um terceiro mandato consecutivo, dependerá dos resultados de outros partidos para formar uma coligação. Após uma campanha eleitoral polarizada o mais provável é que venha a ser o terceiro partido mais votado que decida o destino da Polónia.

Segundo uma sondagem realizada pela Fundação Ibris, nos dias 9 e 10 de outubro, o Lei e Justiça (PiS) conseguiria alcançar a maioria dos votos com 33,5, à frente dos liberais da Plataforma Cívica (PO, na sigla em polaco) com 28 por cento, da Terceira Via (Democratas-Cristãos) com 10,9 por cento, da Nova Esquerda com 10,1 por cento e da Confederação, da extrema-direita, com 9,2 por cento das intenções de voto.
Coligação com a extrema-direita para governar?
Deste modo, caso venha a ser o PiS o mais votado, o mais provável é que venha a coligar com o outro partido da extrema-direita polaca, a Confederação, considerada ultranacionalista e antieuropeia, que se opõe firmemente ao apoio à Ucrânia.

De acordo com este cenário, o Lei e Justiça (PiS) e a Confederação alcançariam uma estreita maioria no Parlamento polaco e governariam o país durante os próximos quatro anos. 

No entanto, outras sondagens divulgadas durante a semana mostram que os dois partidos da extrema-direita polaca podem não conseguir alcançar a maioria necessária para governar. Apontam para uma liderança à frente do país da Plataforma Cívica, de Donald Tusk, com o apoio da Terceira Via e a Nova Esquerda.

Num país altamente polarizado o desfecho das eleições será decisivo para o futuro do país, tanto na garantia de liberdades democráticas, como o Estado de direito e a liberdade de imprensa e o direito das mulheres, como nas relações com a União Europeia e com a Ucrânia. São dois blocos opostos com visões antagónicas para o país, nomeadamente sobre a relação com Bruxelas e com a Ucrânia.


Se por um lado, o partido Lei e Justiça (PiS) tem vindo a isolar a Polónia da União Europeia e a degradar a relação com Bruxelas devido às reformas implementadas que enfraqueceram gradualmente o Estado de direito no país e ao aumento de questões de discórdia com os outros Estados-membros, como a questão da gestão das fronteiras e do acolhimento de refugiados.

A correspondente da RTP Ana Romeu explica como a Polónia e a Hungria romperam o consenso da União sobre migrações na Cimeira de Granada

Por outro, a Plataforma Cívica (PO),  liderada pelo antigo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk é liberal e pró-europeia.
Clivagem política, clivagem social?

Para além de decidirem a composição do novo executivo da Polónia, este domingo, os eleitores polacos têm também de responder às perguntas colocadas pelo Governo em quatro referendos relacionados com: a idade da reforma, a venda de ativos do Estado a entidades estrangeiras, a possível remoção do muro na fronteira com a Bielorrússia e o mecanismo de acolhimento de refugiados. Nas urnas estão também em causa estas quatro questões que dividem a sociedade polaca, sendo a da migração uma das mais controversas.

Durante a campanha eleitoral o partido PiS intensificou a sua retórica anti-migrante. O primeiro-ministro Mateusz Morawiecki que voltou a reforçar esta semana os controlos nas fronteiras com a Eslováquia afirmou na quinta-feira que as famílias polacas deviam ser protegidas dos imigrantes ilegais "que não respeitam a nossa cultura" e cuja chegada poderia abrir caminho a uma "guerra santa" na Europa.

Também após longos meses de guerra na Ucrânia e de solidariedade financeira, militar e humanitária, através do acolhimento de pelo menos um milhão de ucranianos, o Governo polaco distanciou-se de Kiev durante a campanha eleitoral.

De acordo com a oposição, uma vitória dos conservadores poderá suscitar maiores tensões com a União Europeia e vir a desencadear uma “Polexit”, ou seja, uma saída da EU, preparada pelo atual governo.

Apesar de se tratar de eleições nacionais, os restantes países europeus estarão de olhos postos no ato eleitoral polaco, até porque a Polónia será o próximo país a assumir a presidência rotativa do Conselho da UE a partir de janeiro de 2025.

c/agências
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