Nyimpine Chissano, filho mais velho do antigo presidente moçambicano Joaquim Chissano, foi formalmente acusado de envolvimento na morte do jornalista Carlos Cardoso, confirmou hoje à Agência Lusa o Procurador-Geral da República de Moçambique.
Segundo a procuradora-chefe da cidade de Maputo, Virgína Maria, hoje citada pelo semanário Zambeze, editado em Maputo, o processo em que Nyimpine Chissano é indiciado de participação no assassínio de Carlos Cardoso, em 2000, foi remetido ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo.
"Remetemos o processo autónomo em consequência de existirem elementos suficientes para a acusação", afirmou.
O Procurador-Geral da República de Moçambique, Joaquim Madeira, confirmou à Lusa esse facto, recusando-se a entrar em pormenores sobre o assunto.
"Assim que li a notícia (da acusação contra Nyimpine Chissano), confirmei junto da procuradoria da cidade de Maputo e me garantiram que o processo autónomo já foi remetido ao tribunal, cabendo a este decidir sobre os actos que se seguem", disse Madeira.
"Quem acusou foi a Procuradoria da Cidade de Maputo, porque no seu entender existem elementos suficientes para o processo subir ao tribunal", acrescentou.
O Ministério Público moçambicano está a analisar se Nyimpine Chissano vai aguardar pelos próximos passos do seu processo em liberdade ou detenção preventiva, acrescentou a procuradora-chefe da Cidade de Maputo, noticiou Zambeze.
Virgínia Maria disse ter recebido no seu gabinete o antigo chefe de Estado moçambicano e sua mulher, Marcelina Chissano, que quiseram inteirar-se sobre o processo que envolve o filho no assassínio do editor e proprietário do extinto Metical.
Sem se referir à família do ex-presidente, a procuradora-chefe da cidade de Maputo acusou "alguns segmentos da sociedade civil" de terem tentado travar a acusação formal de Nyimpine Chissano.
Citando outras fontes não identificadas do Ministério Público moçambicano, o Zambeze adiantou que foi depois da intervenção do casal Chissano que a procuradoria da Cidade de Maputo decidiu não avançar com um mandato de detenção contra Nyimpine Chissano, "até que zonas por esclarecer se esclareçam".
Por outro lado, o primogénito do antigo chefe de Estado moçambicano só não foi detido, porque o seu advogado apresentou "documentação bastante que confirma a débil situação de saúde do seu constituinte", adianta ainda o semanário.
O jornal refere que Nyimpine Chissano escolheu o advogado Albano Silva, marido da primeira-ministra moçambicana, Luísa Diogo, para o defender, mas este recusou-se a confirmar a informação, em declarações a jornalistas.
A Procuradoria da Cidade de Maputo abriu um processo autónomo contra Nyimpine Chissano, em 2002, depois de alguns réus já condenados por envolvimento na morte do jornalista, terem acusado o filho do antigo presidente moçambicano de ser um dos mandantes no assassínio de Carlos Cardoso.
Durante esse julgamento, em que Nyimpine depôs apenas como declarante, um dos réus apresentou ao tribunal cheques ao portador assinados pelo primogénito de Chissano alegadamente passados para "Anibalzinho", o cabecilha do esquadrão que executou o jornalista.
"Anibalzinho" foi já este ano condenado a cerca de 30 anos de prisão, a pena mais longa imposta a um réu na história judicial moçambicana, desde a independência do país, em 1975.
Na altura, Nyimpine Chissano reconheceu que os cheques lhe pertenciam, mas disse que os mesmos se destinavam a pagar uma dívida que contraiu junto do réu Nini Satar, um comerciante, condenado a 24 anos de prisão, como autor moral do assassínio do jornalista.
Além de Nini Satar e "Anibalzinho", foram também sentenciados outros quatro arguidos, a mais de 20 anos de cadeia, como mandantes ou executantes do crime.