"Número maior do que nunca". Casos de mutilação genital feminina estão a aumentar, alerta a UNICEF
No dia em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) divulgou um relatório que revela informações atualizadas sobre a mutilação genital feminina (MGF). São mais de 230 milhões de raparigas e mulheres em todo o mundo que sofreram mutilações genitais e o pior, de acordo com a agência da ONU, é que este número está a aumentar a olhos vistos, apesar dos progressos alcançados em vários países.
O relatório “Mutilação Genital Feminina: Uma preocupação global” baseia-se numa avaliação atualizada dos dados e relata “através de números as histórias de milhões de meninas e mulheres” que sobreviveram a este tipo de prática, alertando ainda para os outros milhões que ainda estão em perigo.
“Mais de 230 milhões de raparigas e mulheres em todo o mundo foram submetidas à MGF”, lê-se no documento publicado esta sexta-feira pela UNICEF.
"São más notícias. Um número enorme, maior do que nunca", disse Claudia Coppa, principal autora do estudo.
O número de mulheres e raparigas que sobreviveram à ablação do clítoris, à excisão (remoção total ou parcial do clítoris e dos pequenos lábios) ou à infibulação (excisão e sutura do orifício vaginal para o estreitar) está agora estimado em mais de 230 milhões. Este número representa “um aumento de 15 por cento, ou mais 30 milhões de raparigas e mulheres, em comparação com os dados divulgados há oito anos” e a maioria dos casos regista-se em países africanos – com mais de 144 milhões de casos identificados e uma grande prevalência na Somália. Segue-se a Ásia, com mais de 80 milhões de casos, e o Médio Oriente, com seis milhões.
“A MGF também é praticada em comunidades pequenas e isoladas e entre diásporas em todo o mundo”, acrescenta o relatório. “O rápido crescimento populacional nos países onde a MGF é praticada apresenta um desafio considerável, destacando a necessidade de maiores esforços de prevenção para salvaguardar uma população crescente em risco”.
Por outro lado, na Somália 99 por cento das mulheres entre os 15 e os 49 anos foram submetidas a mutilação genital, 95 por cento na Guiné, 90 por cento no Djibuti e 89 por cento no Mali.
"Estamos também a assistir a uma tendência preocupante, com cada vez mais raparigas a serem submetidas a esta prática em idades cada vez mais jovens, muitas vezes antes do quinto aniversário", salientou a chefe da UNICEF, Catherine Russell, num comunicado.
"Temos de redobrar os nossos esforços para pôr termo a esta prática nociva".Contudo, o estudo da UNICEF revela “avanços significativos no combate à MGF em alguns países, com metade do progresso dos últimos 30 anos alcançado apenas na última década”.
Em muitos países, como é explicado pela agência das Nações Unidas, as comunidades estão a avançar no sentido de parar com a prática da mutilação genital feminina, embora se preveja que este processo demore décadas. A Serra Leoa é dos países onde a MGF tem diminuído mais, nos últimos 30 anos.
Abolição da MGF pode demorar décadas
Mesmo que as perceções estejam a mudar, a MGF "existe há séculos, pelo que mudar as normas sociais e as práticas associadas a essas normas leva tempo", explicou ainda Claudia Coppa.
Nos países onde persiste esta prática, "está ligada a formas enraizadas de desigualdade de género". Em algumas sociedades, “é visto como um rito de passagem necessário” e em outras, “é uma forma de preservar a castidade das raparigas" e "de controlar" a sexualidade.
Há, também por isso, alguma dificuldade por parte das mães das meninas em se oporem a tal prática. Estas “lembram-se da dor", mas "por vezes a dor é menor do que a vergonha" e o risco de verem as filhas rejeitadas pela comunidade e impossibilitadas de casar.
"Não são mães cruéis. Tentam fazer o que pensam ser esperado delas", insistiu a especialista, fazendo um paralelo mais geral com as expectativas da sociedade em relação às mulheres. "Espera-se que sejamos mães, mulheres, que cuidemos das nossas comunidades, que nos conformemos com as expectativas sobre pureza e sexualidade".
"As mulheres sabem muito bem que, se não se conformarem com estas expectativas, há repercussões, castigos".Uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU com a qual a comunidade internacional se comprometeu foi a eliminação de práticas prejudiciais como a mutilação genital feminina até 2030. Mas segundo a UNICEF, “o progresso terá de ser 27 vezes mais rápido do que o registado na última década”.
“Isto exige uma ação urgente e concertada numa escala sem precedentes. Esta violação dos direitos humanos não tem lugar no século XXI. A hora de agir é agora”, vinca a UNICEF.
“Mais de 230 milhões de raparigas e mulheres em todo o mundo foram submetidas à MGF”, lê-se no documento publicado esta sexta-feira pela UNICEF.
"São más notícias. Um número enorme, maior do que nunca", disse Claudia Coppa, principal autora do estudo.
O número de mulheres e raparigas que sobreviveram à ablação do clítoris, à excisão (remoção total ou parcial do clítoris e dos pequenos lábios) ou à infibulação (excisão e sutura do orifício vaginal para o estreitar) está agora estimado em mais de 230 milhões. Este número representa “um aumento de 15 por cento, ou mais 30 milhões de raparigas e mulheres, em comparação com os dados divulgados há oito anos” e a maioria dos casos regista-se em países africanos – com mais de 144 milhões de casos identificados e uma grande prevalência na Somália. Segue-se a Ásia, com mais de 80 milhões de casos, e o Médio Oriente, com seis milhões.
“A MGF também é praticada em comunidades pequenas e isoladas e entre diásporas em todo o mundo”, acrescenta o relatório. “O rápido crescimento populacional nos países onde a MGF é praticada apresenta um desafio considerável, destacando a necessidade de maiores esforços de prevenção para salvaguardar uma população crescente em risco”.
Estas mutilações são dolorosas, muitas vezes fatais, e têm também consequências psicológicas e físicas a longo prazo, como problemas de fertilidade, complicações durante o parto, nados-mortos e dores durante as relações sexuais.
"Estamos também a assistir a uma tendência preocupante, com cada vez mais raparigas a serem submetidas a esta prática em idades cada vez mais jovens, muitas vezes antes do quinto aniversário", salientou a chefe da UNICEF, Catherine Russell, num comunicado.
"Temos de redobrar os nossos esforços para pôr termo a esta prática nociva".Contudo, o estudo da UNICEF revela “avanços significativos no combate à MGF em alguns países, com metade do progresso dos últimos 30 anos alcançado apenas na última década”.
Em muitos países, como é explicado pela agência das Nações Unidas, as comunidades estão a avançar no sentido de parar com a prática da mutilação genital feminina, embora se preveja que este processo demore décadas. A Serra Leoa é dos países onde a MGF tem diminuído mais, nos últimos 30 anos.
Abolição da MGF pode demorar décadas
Mesmo que as perceções estejam a mudar, a MGF "existe há séculos, pelo que mudar as normas sociais e as práticas associadas a essas normas leva tempo", explicou ainda Claudia Coppa.
Nos países onde persiste esta prática, "está ligada a formas enraizadas de desigualdade de género". Em algumas sociedades, “é visto como um rito de passagem necessário” e em outras, “é uma forma de preservar a castidade das raparigas" e "de controlar" a sexualidade.
Há, também por isso, alguma dificuldade por parte das mães das meninas em se oporem a tal prática. Estas “lembram-se da dor", mas "por vezes a dor é menor do que a vergonha" e o risco de verem as filhas rejeitadas pela comunidade e impossibilitadas de casar.
"Não são mães cruéis. Tentam fazer o que pensam ser esperado delas", insistiu a especialista, fazendo um paralelo mais geral com as expectativas da sociedade em relação às mulheres. "Espera-se que sejamos mães, mulheres, que cuidemos das nossas comunidades, que nos conformemos com as expectativas sobre pureza e sexualidade".
"As mulheres sabem muito bem que, se não se conformarem com estas expectativas, há repercussões, castigos".Uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU com a qual a comunidade internacional se comprometeu foi a eliminação de práticas prejudiciais como a mutilação genital feminina até 2030. Mas segundo a UNICEF, “o progresso terá de ser 27 vezes mais rápido do que o registado na última década”.
“Isto exige uma ação urgente e concertada numa escala sem precedentes. Esta violação dos direitos humanos não tem lugar no século XXI. A hora de agir é agora”, vinca a UNICEF.