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Novos ataques israelitas matam 15 pessoas na Faixa de Gaza

por Cristina Sambado - RTP
Photo by Majdi Fathi/NurPhoto via AFP

As forças israelitas mataram pelo menos 15 palestinos na Faixa de Gaza, incluindo um funcionário dos serviços de emergência, avançaram as autoridades de saúde. Esta quarta-feira, o Conselho de Segurança da ONU deve votar mais um projeto de resolução que apela a um cessar-fogo.

Os médicos revelaram que pelo menos 12 pessoas morreram num ataque israelita a uma casa na área de Jabalia, no norte de Gaza, no início da quarta-feira. As operações de resgate prosseguem para encontrar pelo menos dez pessoas dadas como desaparecidas.

Outro homem morreu num bombardeamento de tanques israelitas nas proximidades de Jabalia. Não houve comentários imediatos de Israel sobre os dois incidentes.

No subúrbio de Sabra, na cidade de Gaza, os serviços de emergência civil palestinianos afirmaram que um ataque aéreo israelita visou uma das suas equipas durante uma operação de salvamento, matando um elemento e ferindo três outros.

Esta morte elevou para 87 o número de membros do serviço de emergência civil mortos desde 7 de outubro de 2023.

Além dos desafios enfrentados pelo sistema de saúde nas áreas do norte de Gaza, o serviço de emergência civil acrescentou que seus veículos dificilmente estavam operacionais devido à escassez de combustível e equipamentos.

Em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, os médicos disseram que um homem morreu e outros ficaram feridos num ataque aéreo israelita no território oriental da cidade.

Residentes em Jabalia, Beit Lahiya e Beit Hanoun, onde as forças israelitas tem operado desde o início do mês de outubro, afirmaram que dezenas de casas ficaram destruídas, aumentando os receios de que Israel estivesse a tentar expulsar residentes para criar uma zona tampão, algo que tem sido negado pelo Governo de Benjamim Netanyahu.

Israel afirma que enviou forças para as duas cidades e para o campo de refugiados para combater os militantes do Hamas que lançam ataques e para os impedir de se reagruparem. O país afirmou que matou centenas de apoiantes do grupo desde 5 de outubro.Já o Hamas e o braço armado da Jihad Islâmica afirmaram que abateram vários soldados israelitas com fogo antitanque e morteiros, bem como com explosivos durante o mesmo período.


Hussam Abu Safiya, diretor do Hospital Kamal Adwan, uma das três instalações médicas que quase não funciona no norte do enclave, revelou que o hospital foi alvo de fogo israelita na terça-feira.


“O sistema de saúde continua a funcionar em condições extremamente duras. Na sequência da detenção de 45 membros do pessoal médico e cirúrgico e da recusa de entrada de uma equipa de substituição, estamos agora a perder diariamente doentes feridos que poderiam ter sobrevivido se houvesse recursos disponíveis”, disse Abu Safiya à Reuters.

“Ontem [terça-feira], o hospital foi bombardeado, sem aviso prévio, quando tentávamos salvar um ferido na unidade de cuidados intensivos”, acrescentou.

Durante uma visita a Gaza, na terça-feira, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que o Hamas não governará o enclave palestiniano após o fim da guerra e que Israel destruiu as capacidades militares do grupo islamita.


Netanyahu disse ainda que Israel não desistiu de tentar localizar os restantes 101 reféns que se acredita estarem ainda no enclave e ofereceu uma recompensa de cinco milhões de dólares pelo regresso de cada um deles.

O Catar, um dos principais mediadores do cessar-fogo ao lado do Egito, já informou o Hamas e Israel que vai suspender os seus esforços de mediação, a menos que as duas partes em guerra mostrem “vontade e seriedade” para chegar a um acordo.

O Hamas quer um acordo que ponha fim à guerra, enquanto Netanyahu prometeu que a guerra só pode terminar quando o Hamas for erradicado.

O ataque de 2023 a Israel, que abalou a aura de invencibilidade de Israel, marcou o dia mais sangrento da história do país, com 1.200 pessoas mortas e mais de 250 feitas reféns, de acordo com os registos israelitas.

Israel respondeu com a sua ofensiva mais destrutiva em Gaza, matando cerca de 44 mil pessoas e ferindo 103.898, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, e transformando o enclave num deserto de escombros com milhões de pessoas desesperadas por comida, combustível, água e saneamento.
Mais uma votação no Conselho de Segurança da ONU
O Conselho de Segurança da ONU vai votar esta quarta-feira um projeto de resolução que apela a um cessar-fogo “imediato, incondicional e permanente” em Gaza, numa nova tentativa de pressão sobre as partes em conflito que deverá ser bloqueada pelos Estados Unidos, aliado de Israel.Para os diplomatas, esta redação provocou antecipadamente a ira de Israel e fez temer um novo veto americano.

Segundo a AFP, a última versão do projeto de texto elaborado pelos dez membros eleitos do Conselho, “exige um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente que deve ser respeitado por todas as partes” e “a libertação imediata e incondicional de todos os reféns”.

“Não podemos permitir que as Nações Unidas atem as mãos do Estado de Israel na proteção dos seus cidadãos e não vamos parar a luta até termos trazido para casa todos os homens e mulheres raptados”, declarou o embaixador israelita na ONU, Danny Danon, denunciando um texto ‘vergonhoso’.

“A nossa posição de princípio tem sido esta desde o início e não mudou”, insistiu o embaixador adjunto dos EUA, Robert Wood, na terça-feira.

Desde o início do conflito entre Israel e o Hamas, em outubro de 2023, o Conselho de Segurança da ONU tem tido dificuldade em falar a uma só voz, bloqueado várias vezes pelos vetos dos Estados Unidos, da Rússia e da China.As poucas resoluções que os americanos deixaram passar com a sua abstenção não apelaram a um cessar-fogo incondicional e permanente. Em março, o Conselho apelou a um cessar-fogo pontual durante o Ramadão, sem qualquer efeito no terreno, e em junho apoiou um plano americano de cessar-fogo em várias fases acompanhado da libertação de reféns, que nunca chegou a concretizar-se.

O projeto de resolução que será votado esta quarta-feira apela igualmente a um acesso “seguro e sem entraves” à ajuda humanitária em grande escala, incluindo no norte “sitiado” de Gaza, e denuncia qualquer tentativa de “matar os palestinianos à fome”.

No entanto, os palestinianos consideram que o texto não vai suficientemente longe.

O destino de Gaza irá assombrar o mundo durante gerações”, alertou o embaixador da ONU, Riyad Mansour.

Para ele, a “única linha de ação possível” do Conselho é certamente exigir um cessar-fogo imediato e incondicional, mas no âmbito do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas.

Este capítulo permite que o Conselho tome medidas para fazer cumprir as suas decisões, por exemplo, através de sanções, mas o projeto de texto não faz qualquer referência a isso.

Alguns diplomatas esperavam que, após a vitória de Donald Trump, os Estados Unidos de Joe Biden fossem mais flexíveis nas negociações, imaginando uma repetição de dezembro de 2016.

Poucas semanas antes do fim do mandato de Barack Obama, o Conselho adotou, pela primeira vez desde 1979, uma resolução que apela a Israel para que cesse a atividade de colonização nos Territórios Palestinianos Ocupados. Esta votação foi possível graças à decisão dos Estados Unidos de não utilizarem o seu veto, apesar de, até então, terem sempre apoiado Israel nesta questão.

Em 7 de outubro de 2023, comandos que se infiltraram no sul de Israel a partir da vizinha Faixa de Gaza levaram a cabo um ataque que causou a morte de 1.206 pessoas, na sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais, incluindo reféns mortos ou que morreram em cativeiro.

A quase totalidade dos cerca de 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza foi deslocada e o território está numa situação de catástrofe humanitária.

c/ agências
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